sábado, maio 05, 2007

autobiografia vol. 2

Meu cabelo cai no outono e eu tenho uma tendência a gostar somente dos biscoitos que a minha avó faz pra mim, portanto não me ofereça aqueles que vêm em saquinhos fofos de lojas e cafés porque eu não vou comer. Deve ser preconceito e eu não ligo de ser politicamente incorreta com isso. Eu também não ligo muito de ficar um mês sem ir a manicure, acho um porre ficar sentada no salão e nunca entendi porque que eles nos dão revistas se as nossas mãos ficam ocupadas, acho uma sacanagem dessa gente. Também não ligo quando a minha mãe diz que eu devia tirar o esmalte com acetona em vez de ficar descascando aos poucos.

Eu não gosto de dividir chocolates e talvez isso seja péssimo, o fato é que chocolates se adequam perfeitamente à minha classe de coisas indivizíveis, assim como sorvete. As frases “vamos dividir um chocolate?!” ou “vamos rachar um sorvete?!” apenas não procedem, desconfio de gente que sugere esse tipo de coisa. Também desconfio de gente que é feliz demais o tempo todo e além de desconfiada esse tipo de comportamento me deixa bastante irritada. Pedestre me irrita também porque a maioria deles é suicida em potencial e muito egoísta: se querem morrer tudo bem, eu não me oponho, mas prefiro não fazer parte do ritual. Com o tempo eu descobri que o carro é o melhor lugar pra ouvir música e dependendo do trânsito eu consigo ouvir Edu e Bethânia do começo ao fim. Às vezes até quero que São Conrado esteja meio lento porque assim dá tempo de ouvir Transa todinho. Eu acho um saco essa gente que não usa seta, me pergunto se os carros deles têm seta. Não precisa fazer como eu, que às vezes uso seta dentro da garagem, mas acho que não custa nada sinalizar uma curva ou uma ultrapassagem e tal. Xingo essas pessoas mentalmente, às vezes verbalizo, mesmo que eles não ouçam. Os chamo de bocós, quase sempre. Eu canto no carro. E interpreto. Eu choro quase sempre que ouço Cazuza ou o Chet Baker cantando My Funny Valentine. Eu adoro dar carona às pessoas, mas às vezes eu preferiria se elas ficassem quietas e não atrapalhassem a música.

Eu gosto muito de música mas larguei o violão porque não sabia fazer pestana. E não, não é questão de treino, é uma questão de que algumas mãos conseguem, outras não, simples assim. Eu queria aprender piano, mas ficar sentada é ruim. Ficar sentada no cinema é péssimo e até hoje nenhuma cadeira é totalmente confortável. Cadeira de ônibus é a pior espécie. Tenho pavor de ônibus, estando dentro ou fora de um. Tenho medo de injeções e agulhas também e fiz um piercing uma vez em Camdem Town nem sei como. Eu tenho paixão por Londres. E adoro os ingleses, especialmente o Hugh Grant.

Eu amei todos os filmes que vi do Fellini e nunca entendi porque que a Mônica queria ver um filme do Godard. Eu fiquei muito irritada quando li O Estrangeiro e também O Livro dos Prazeres e adoraria ler uma conversa entre Mersault e Lóri, tento imaginar como seria. Eu imagino muitos diálogos e muitos encontros e na prática a coisa acontece exatamente toda ao contrário. Eu como salada depois da refeição e empilho pepinos no prato, aprendi a gostar de cebola mas aquelas coisas que parecem alpiste eu não engulo, literalmente. Eu engulo muito sapo e vou guardando e guardo também uma quantidade absurda de coisas que variam de agendas velhas e amareladas à medalha de um ex-namorado que eu nunca mais vi. Eu sou um pouco extremista em algumas coisas e acabo cortando relações radicalmente.

Eu sou muito encalhada, desde sempre. Eu prefiro os malucos/perturbados e quando começo a me interessar por alguém eu já sei um pouco o que esperar. Eu tenho conseguido não esperar nada e tenho tido muita preguiça disso então mudo logo de assunto quando algumas pessoas sem piedade soltam a frase “VOCÊ está solteira? Mas como???” e tenho vontade de mandar essa gente ir dividir chocolate com alguém, se não vai ajudar pelo menos não piora. Toda vez que conheço alguém novo eu penso se seria bacana ficar presa no elevador com essa pessoa e isso não tem a ver com qualquer fantasia sexual, apenas acho que existe gente com quem eu conversaria por horas enquanto outras eu preferiria jogar no poço.

Eu odeio casal que fica se beijando no cinema. E gente que fica tirando foto em show, apesar de fazer isso eventualmente. Câmera de celular é algo que não faz sentido na minha vida. Eu também nunca entendi porque que o Seu Jorge resolveu cantar com a Ana Carolina. E acho um saco esse troço de mp3, ipods e afins, eu adoro cds, encartes que vão amassando com o uso, caixas que vão se quebrando com os deslocamentos, eu gosto de ver a marca do tempo nas coisas. Mas acho desnecessário foto desbotar, cabelo ficar branco e discos vertebrais desidratarem. Eu acho o Grupo Corpo fenomenal e tenho inveja das bailarinas invertebradas que fazem parte da companhia. Eu morro de saudade de fazer aula de sapateado e também dos amigos que eu vejo pouco. Eu tento ver todo mundo sempre, mas tem dias que só o George Clooney me faria sair de casa.

Eu tenho gostado muito de estudar e anotar idéias e tenho mania de cadernos. Faço top 5 lists por causa do Rob de Alta Fidelidade e poucas vezes concluo porque acho que seria injustiça se o Acabou Chorare ficasse de fora dos melhores discos de música brasileira da década de 70 então institui que a quinta posição é mutante. Posso afirmar, porém, que a primeira posição vitalícia das músicas dos Beatles em que dá vontade morar é A Day in The Life. Sim, eu creio que algumas canções são habitáveis.

Eu sou assim. E se você me acha completamente dispensável e insípida e quiser evitar riscos, use as escadas.

9 comentários:

Anônimo disse...

jules, agora imagina ficar 8 meses sem manicure!!! e como assim até hoje vc n aprendeu a maipular a Caras enquanto faz as unhas?!?!? que amadora!!!!!
ps. eu gosto de vc, mas tb tenho maior preguiça de subir escadas entõ é mais prático tb!!!! bye!!!!

Anônimo disse...

Sensacional esse texto Honey...mas me explica como se mora numa canção ?!?!

Anônimo disse...

Isso aí me lembrou isso aqui:
É uma dor atrás da orelha, mas não daquelas que revelam uma infecção.
É um parafuso-pulgaatrásdaorelha, que atravessa a cabeça.
O suporte de cabides penduradores de idéias.
As idéias quando pensam formam um pesar de dor cruel.

Anônimo disse...

Há!!!
Vc falou do Corpo logo hj que eu vim aqui.
Fica com inveja não... tô com muita dor nas costas hj e nem sou inve4rtebrada...

há, mas intrometida, isso sim, eu sou!

Pitacodeira de blogs...

Julieta disse...

estou confusa com o comentário de j. ...

Anônimo disse...

quem é j.??!??!

Anônimo disse...

soy yo...

uma pessoa que lê blogs e que dança no Corpo

Anônimo disse...

Anônimo? Adoro! Sempre traz emoção.

Anônimo disse...

bom, muito bom de ler.