quinta-feira, junho 07, 2007

Lanterna dos afogados

Às vezes é preciso um bocado de impulsividade pra fazer as coisas acontecerem, aquelas atitudes impensadas que depois te fazem olhar pra trás e se perguntar como você foi capaz. Foi assim numa tarde lotada de Copacabana que eu entrei na loja na esquina da Siqueira Campos e sem mais delongas comprei um óculos de natação e um maiô. Tinha de ser assim, horário de almoço, cartão de crédito e saí da loja pensando em me jogar na primeira piscina que eu visse, porque o começo da atividade teria de ser dessa mesma forma. No caminho pro trabalho passei por um clube e então senti calafrios. Lembrei da minha última aula de natação e quase corri à loja pra devolver os apetrechos com medo de que a minha futura carreira aquática fosse uma sucessão de piscinas com água fervendo e de um constante escapar da morte (por calor, obviamente). E eis que a segunda aula de natação aconteceu em piscina indoor e quente como da primeira vez (faz tempo que saí da análise...). Havia, contudo, dois fatores essenciais que tonificaram a minha força de vontade para com o esporte: muita, muita dor nas costas e uma professora diferente que tinha o nome da minha mãe. Fui com a cara dela. Um ponto pra mim. Após a avaliação (uma chegada de cada um dos três estilos que eu sei nadar) ela disse que eu tinha muita potência de pernada. Dois pontos pra mim. Dez minutos depois de começada a aula eu tive um déjà vu dos brabos: muito ofegante e com muito calor eu achei que ia morrer sufocada e não havia liberação de bolhas que me convencesse do contrário. Fiz minha melhor cara de sofrimento e a Cláudia então me mandou intercalar as chegadas com mergulhinhos que ativamente recuperariam minha respiração em ritmo normal. Bullshit, eu pensei. E fui mergulhando enquanto pensava que natação seria muito mais bacana se houvesse alguma projeção no fundo da piscina, um filme mudo talvez de alguém em terra firme. Não compartilhei a idéia com a Cláudia porque acho que ela não ia entender e além disso ela estava muito entusiasmada em me ensinar a nadar. Como se eu realmente quisesse aprender isso, mas também não discuti com ela. Ao fim da aula ela disse que gostaria que eu voltasse, o que era compreensível porque além de mim só havia mais dois alunos na turma e a outra menina tinha um maiô muito mais horripilante que o meu. Milagrosamente eu voltei e na segunda aula aprendi como se nada peito de verdade e também aprendi a como andar depois de muitas chegadas de peito e lá pela metade da aula quando eu já começava a rezar internamente (natação devolve a fé perdida, eu juro) a Cláudia me deu um pé de pato. E então pela segunda vez em menos de dois meses eu me apaixonei de novo. Excel e pé de pato, eu poderia passar semanas nadando de pé e pato e fazendo contas no Excel. Eu poderia fazer planilhas no Excel que organizassem minha rotina de exercícios com pé de pato. Eu poderia, enfim, gostar de natação só por causa do pé de pato, mas o mundo é cruel e o pé de pato me deu câimbras horríveis no pé direito. A Cláudia alongou meus dedinhos e me separou do pé de pato e lá fui eu nadar crawl com os meus humildes pés que para meu pequeno consolo, segundo a Cláudia, são muito bem articulados. Voltei a odiar natação, a respiração ofegante e pensei que a única coisa que poderia me livrar desse purgatório é uma bursite no ombro. Mas não chego a deseja-la, porque esse tipo de coisa acontece...

3 comentários:

Velma Kelly disse...

pé de pato rocks!
escuta, a piscina é quentinha. vc tem certeza q ela é aquecida ou são seus colegas que a aquecem??? hahahaha

Leticia Wahmann disse...

Escreve sobre o show ?!?!

Julieta disse...

hahahahaha se forem os colegas então eles estão com uma infecção urinária braba!