domingo, setembro 25, 2011

convite


“Falar de sentimentos é o mesmo que explicar o sabor do pão pela receita. Nunca dá certo.”

Adriana Lunardi in A vendedora de fósforos, página 105, ed. Rocco. 


domingo, setembro 11, 2011

Riocentro




"For Julia, you are a lovely person, and you have made our visit to Rio so pleasurable and so memorable, I cannot thank you enough, Anne Rice, september 2011."


Uma Bienal do livro rende tantas histórias que daqui até a próxima eu poderia fazer um blog só desse assunto. Mas tem aquele problema de que a maioria das coisas só tem graça na hora. A maioria das coisas, de fato, só tem a graça que a gente dá. Entre perguntas como “oi, posso ler um poema pra você?” e “moça, você tem algum livro sobre paraquedistas?”(de uma menina de 8 anos), ainda deu tempo pra um chope com Adriana Lunardi, um jantar com Antônio Xerxenesky, um abraço em Thalita Rebouças e um tour por igrejas e pelo Corcovado com Anne Rice. Isso só pra citar os autores da casa. Eu que tinha medo de conhecer as pessoas dos livros, estou achando que estou no lugar certo. E se não estiver, parece que tenho um futuro promissor como figurante.  

quinta-feira, setembro 01, 2011

Burn down the disco, hang the dj*

A minha mais nova obsessão atende pelo enrugado nome de hidroginástica. Mais precisamente, a trilha sonora e a influência da mesma sobre os alunos que às 7 horas da manhã estão fritando na piscina enquanto eu tento não sufocar na raia ao lado, alternando crawl, costas e peito (e lutando contra as infiltrações dos óculos).

Minha cisma começou numa manhã em que “Colombina”, do Ed Motta, tocou à exaustão, num repeat aquático que nem um ser dotado de barba e tridente seria capaz de contornar. Fosse aluna eu já teria organizado uma reivindicação e exigido um DJ. Por esses motivos difíceis de determinar se feliz ou infelizmente, eu sou só uma aluna da natação que escuta apenas relances das músicas, e que nem para mais tanto pra descansar nas bordas da piscina pela mesma razão. Eu que já tenho implicâncias com pierrots, peguei um eca da música do Ed Motta que estendi minha raiva a essas moças cheias de pompons, e duvido que tudo passe até a próxima quarta-feira de cinzas.

Na semana seguinte, preparada para versos como “gata de rua faz ron ron / ao luar” (porque depois de “Colombina” só podia vir mais Ed Motta), dei de ouvidos com uma música clássica remixada. Já é triste o suficiente ter de dançar “I Will survive” remixado em casamentos. Inundar os ouvidos de água clorada e Mozart batidão é algo que só um tarja preta pode resolver no fim do dia. O curioso é que os alunos da hidroginástica pareciam não se abalar. A cabeça sempre pra fora d’água está diretamente relacionada ao fato de eles serem mais felizes que eu na piscina, mas achei que a música pudesse nivelar o nosso sofrimento. Que nada.

Lá estavam eles, na quinta-feira da outra semana, com as mesmas expressões condescendentes enquanto Michael Jackson arrebentava com “Don’t stop til you get enough”. Eu não entendi. Ou melhor: comecei a desconfiar que todos eram surdos, e pela média de idade, devem mesmo ser. Contei pra Rita, não sem espanto na voz, que os velhinhos da hidroginástica pouco se importavam com o Michael. O diagnóstico dela foi mais certeiro: insensíveis.

Achei que Pitty remixado (why, god, why?) com “Uh tererê” seria mais que pretexto pra uma revolução submersa. Eu teria, no mínimo, programado incontinência urinária com meus coleguinhas caso me visse afrontada por tal afronto. Mas lá estavam eles. Tão felizes ou indiferentes ou surdos ou insensíveis quanto antes. A essa altura eu comecei a nadar 1500 metros por aula, tão desesperada estava de não escutar mais nada que viesse daquele canto da piscina. Era um bate volta sem fim, eu comecei a engolir água pacas e pensei, quem sabe, em migrar pra natação dos bebês onde ninguém nunca morreria afogado e onde a música era condizente com a turminha. “A baleia / a baleia / é amiga da sereia / olha o que ela faz / olha o que ela faz / tchi bum chuá, tchi bum chuá”. Decidi que se os professores cantassem a música da “Loja do Mestre André” ou a “Galinha Pintadinha”, era o destino me chamando.

Depois de uma quinta-feira bipolar 80s, em que uma sequência que começou com “Louras Geladas”, do RPM, culminou com Legião Urbana em “Vento no Litoral”, achei que a piada estava indo longe demais. “Eu deixo a onda me acertar” não é recomendável pra nenhuma atividade dentro da piscina, especialmente quando ela envolve gente da terceira idade. Fiquei tão desnorteada que, sem querer, dei braçadas em toda a galera que dividia a raia comigo, saí da piscina sem conferir se estava tudo dentro do previsto na aula de bebês e prometi só voltar àquele caixote de ladrilhos em caso de surdez aguda. Aí, quem sabe, em vez de me unir aos bebês, vou pra turma feliz em que as cabeças nunca afundam na água. 



*Panic, The Smiths.