domingo, outubro 28, 2007

O incompreensível mundo da moda

Alguns especialistas de moda afirmam que vivemos a era do fim de tendências macro. Que o minimalismo conviverá com o retrô que conviverá com o punk que conviverá. E que isso se vê claramente na última temporada de desfiles, que havia referências e peças para todos os gostos e que as micro-tendências permitem uma moda mais democrática e menos pasteurizada, tanto para o mercado quanto para o consumidor.

Gostando ou não de moda, sabendo ou não quem é Suzie Menkes, você, como todos nós que não somos índios ou a mulher de branco de Ipanema, compra roupas eventualmente. E a maioria de nós deve discordar desses que se dizem especialistas porque faz tempo que não consigo encontrar nada que não seja a) de malha, b) uma fortuna, c) rosa, laranja ou roxo. Se micro-tendência é sinal de ditadura da moda e isso é, de acordo com os entendidos, democracia, então o meu dicionário perdeu a validade.

Os especialistas concordavam, porém, que havia uma coincidência (inconsciente coletivo?) em desfiles “importantes” que apontava para o esquisito, para o visual que causava certo estranhamento.

Se o feio é o novo preto, então talvez isso explique o fato de que a maior parte do público do Tim Festival parecia saída do Almanaque Anos 80. E não era uma releitura como se costuma fazer, era mesmo um retrocesso. Mullets para todas as cabeças, bolsinhas matelassê com alças de correntes douradas, esmalte e maquiagem néon, bijouterias de acrílico e até faixas de cabelo daquelas que a Olívia Newton John usava em Let’s get Physical. Havia mesmo um sujeito cujo cabelo, tenho certeza, era uma nada discreta homenagem a Robert Smith. E o assustador, além do resgate fashion da década que tentamos esquecer, era que muitas vezes não conseguíamos saber se tal pessoa era menino ou menina.

Por sorte eu não esbarrei com ninguém de polaina ou ombreira, isso realmente teria me apavorado, mas acho que não seria tarefa difícil. Por sorte também eu ia ver o show da Cat Power. Mas não teria sido bizarro se o A-ha tivesse subido ao palco.

sábado, outubro 13, 2007

that's me in the corner...

João Caetano começou a tomar calmantes, passei a chantagear com tortas e bolos os fornecedores para que eles sejam legais comigo e me entreguem produtos no prazo, a lavagem de um vestido em lavanderia é praticamente um assalto e por essas e outras me aventurei no mundo do tanque, comecei a passar o caderno de telefones da minha mãe a limpo, as coisas continuam mofando, a professora de natação agora me usa para impressionar os alunos que vão fazer aula teste e por essa e outras eu finalmente consigo fazer três braçadas de golfinho seguidas, quase morri engasgada com um morango quando fui contar uma história hilária para o meu pai porque comecei a rir antes da hora, passei também a ameaçar fornecedores que atrasam tudo dizendo que os apresentarei a João Caetano off medicação, a fisioterapeuta boa voltou antes mesmo que eu tivesse chance de gongar a antiga, um sujeito quer porque quer que eu pague $4.500 pelo notebook que alguém comprou com o meu cheque roubado e eu juro que fico penalizada mas já inventaram serviço de consulta a cheques, tsá?, o Papel Pobre acabou e o luto terminou quando descobri o Modellon e agora eu e a minha dupla no trabalho temos novamente alguma distração fútil, reencontrei pessoas que não via há uns 7 anos por opção e elas sequer mudaram seus cortes de cabelo e ainda exclamavam o quanto eu estava sumida, wonder why – eu pensei, tive que explicar para alguns fornecedores que João Caetano é um pitbull encarnado em poodle ou lobo em pele de cordeiro para os que preferem expressões populares, dois dias depois de assistir A Chorus Line pela centésima vez recebei de uma amiga um trecho de um filme do Fred Astaire e quase, quase mesmo chorei muito de saudades, descobri como colocar músicas no celular que virou quase um ipod, agora tenho traças no quarto também, fui atingida por um pombo desgovernado que após bater em minha cabeça saiu voando inabalável e depois desse fato aparentemente corriqueiro (embora eu não conheça alguém que tenha sido pombado) uma série de coisas começou a desandar e quando eu vi eu tinha comprado uma peça na Farm, tiha gostado do desfile do Roberto Cavalli, todo mundo furou o chope, o carro voltou a fazer barulhos, a coleção não foi aprovada porque era bonita demais pra ficar tão pouco tempo na loja e de lá pra cá recebemos 347 ordens e direções diferentes por minuto, o ascensorista do prédio me emprestou um cd para escutar cuja capa era estampada com a foto dele mesmo e ele canta Elvis no cd e imagine!, o nivel de stress subiu 80% nos últimos dias e eu que já quase não sentia dores fiquei atacada das juntas, não consegui entender mais nada do livro de francês, os pés das meias têm sumido e como perdi os critérios mesmo passei a usar meias descasadas, perdi também o saco com o cabelo e faz tempo que tá precisando de uma tinta nele, perdi o saco em geral, ando perdendo papéis no meio da bagunça e ando perdendo muito a hora, ando perdendo o interesse e a vontade de bater papo com as pessoas, that's me in the spotlight losing my religion.

segunda-feira, outubro 08, 2007

I sing the body electric

(ou Quero Ser Irene Cara)

Dizer que seu filme preferido é Cidadão Kane é o mesmo que dizer que seu prato preferido é pato laqueado. Todo mundo sabe que bife com batata frita é melhor. Da mesma forma como todo mundo sabe que nenhum scarpin da Miu Miu substitui o seu bom e velho par de havaianas. Da mesma maneira que todo mundo sabe que existe um incontável número de filmes infinitamente melhores do que C. K. E todo mundo sabe também que o filme da sua vida não é aquele cujo diretor ganhou o Oscar ou a palma de ouro. O filme da sua vida sequer foi fotografado por um sujeito aclamado ou inovou a história do cinema. O filme da sua vida poderia até mesmo te envergonhar um pouco numa roda de cinéfilos inteligentes e letrados onde eventualmente alguém diria que Cidadão Kane é o melhor filme de todos os tempos, talvez seja, provavelmente não é. O sujeito que afirma categoricamente que C.K é seu filme preferido é o mesmo que, minutos depois com a evolução natural da conversa, vai dizer que MacBeth é seu livro de cabeceira. E é também o mesmo que vai te dar sono em menos de meia hora. É fácil convencer alguém mais distraído de que o filme de Welles é a obra-prima da sétima arte, difícil é convencer esse cara presunçoso e chato de que o filme da sua vida não tem nada a ver com isso. Filmes, livros e músicas tornam-se especiais não por causa de seus preciosismos técnicos, caso contrário o Nirvana não teria sido o fenômeno que foi e nem mesmo a Xuxa teria sido a Rainha dos Baixinhos. Os filmes e livros e músicas das nossas vidas são os que nos refletem sem qualquer tipo de máscara, são os que nos arrepiam os cabelinhos dos braços, são as músicas até mesmo cafonas que cantamos no carro quando ninguém pode nos ouvir, são aquelas histórias quase bobas que nos dão nós na garganta. São aqueles que te denunciam de cara, são aqueles diante dos quais não dá pra disfarçar. É muito mais honesto conversar com alguém cujo filme preferido é Um Sonho de Liberdade, com pessoas que não resistem ao Roberto Carlos e com gente que a-do-rou O Código da Vinci. E mais interessante também. Essas pessoas são as mesmas que provavelmente não vão saber explicar o porquê dessas escolhas e talvez não te convençam de coisa nenhuma, na verdade elas não querem te convencer de nada e exatamente por isso você vai querer ver os tais filmes e ler os tais livros. É claro que adoramos Paulinho da Viola e apreciamos um bom filme de autor. Mas quando a Irene Cara canta ao piano e quando os bailarinos invadem a rua pra dançar ao som da música-tema numa das cenas de Fame não tem pra ninguém!