terça-feira, outubro 31, 2006

Ação:

Um pai andando pouco à frente de seu filho que carrega um jogo de videogame nas mãos. O filho deve ter oito ou nove anos. O pai vira-se para trás e diz em voz alta: viu como o papai é legal e te trouxe num lugar maneiro? Ele diz variantes dessa frase três vezes, a última das vezes é seguida de uma cusparada no chão. Na quarta vez que o pai faz a pergunta retórica o filho concorda, meio desconfiado. Estamos quase na esquina da Buenos Aires com a Avenida Passos, Saara, Centro, Rio de Janeiro. É sábado e faz calor e sol. O guri tem razão pra desconfiar. E eu tenho razão pra sair correndo.

A feira de Antiguidades da Praça XV é ótima. Melhor ainda para quem tem paciência e um cuca-fresca portátil. A feira de Antiguidades da Praça XV tem objetos e bugigangas antigas dessas que nos fazem querer montar um quarto todo novo cheio de prateleiras novinhas só para enche-las todas de coisinhas velhinhas. A feira de Antiguidades da Praça XV tem um Nintendo à venda. Tem também controles remotos, telefones celulares e computadores. A feira de Antiguidades da Praça XV, vejam só, se distancia muito rapidamente dos anos 90 a ponto de considera-lo antigo.

A filmagem aconteceu no Parque das Ruínas durante dois dias. Lugar fantástico e não fossem os 4536 morros que circundam a região fazendo de Santa Teresa um bairro complicado e eu afirmaria que é o lugar mais gostoso do Rio. E também o mais diferente da cidade (e por isso mesmo o que tem mais personalidade, será?). Nada mais charmoso que o bonde amarelo, as casas, os cantinhos e o Parque das Ruínas. Foram dois dias de filmagem e ao fim do primeiro a equipe toda já tinha algo em comum: o bronzeado. Sol na cabeça durante quase todo o tempo e o look camarão pegou em todo mundo, com pequenas variações nos decotes. Muito versátil.

Quinta-feira vem aí pra refrescar os dias, é o que dizem do feriado de Finados. Enquanto isso, alguma sugestão para ombros que ardem?

obs. o melhor de matar saudades do Saara é a espera por nota fiscal dentro de qualquer estabelecimento (e se o nome do mesmo for Babado da Folia ou algo do gênero então é batata) porque de quebra você ainda mata saudades da Nativa FM.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Teoria

Diz uma amiga minha que lembrava de mim da época do colégio, mas reconhece: eu jamais falaria com ela pelo simples motivo de ela ser um ano mais nova que eu. Portanto, eu estaria cometendo suicídio social.

As coisas mudaram e hoje se mata socialmente quem não fala ADORO! (ADORO! vem sempre acompanhado de, no mínimo, uma exclamação e deve ser escrito em caps lock bold).

Tenho pra mim que é uma nova espécie de “tipo assim”. Ou pior. Tenho pra mim que ADORO! é o primeiro passo para a conquista do espaço (a rima é puramente acidental).

Quer ser aceito? Diga ADORO!. A “expressão”, fortemente disseminada no meio gay, rompeu as barreiras do mundinho e ganhou os jovens não gays. Um dia o ADORO! vai dominar o mundo. É serio. ADORO! virou frase que faz sentido e te identifica imediatamente como uma pessoa contemporânea e sem preconceitos. Em duas recentes festas fiz amizades porque eu usava algum acessório ou roupa que meus amiguinhos bichas curtiram, quer dizer, ADORARAM. E de repente comecei a ouvir ADORO! pelas ruas, ADORO! nas rádios, ADORO! no metrô, na praia, ADORO! no ônibus e dito por gente de todo jeito, mocinhas, vendedores da Travessa, vendedores de biscoito Globo, vendedores em geral e acredito que até mesmo criancinhas ADOREM um monte de coisas e provavelmente a minha avó ADORA tricotar com as amigas. Quase creio que ADORO! é um vocábulo esperantino (do esperanto) que veio unir os povos. Se você está precisando fazer amigos ou conhecer gente nova ou simplesmente não sabe bem o que dizer numa roda de conversa, siga o meu conselho e entre no clima, é fácil: abra a boca e diga ADORO!.

(Hoje, porém, aprendi que a expressão “bem melhor” também pode ser de grande utilidade: experimente dizer um bem melhor ao final de diversos assuntos aleatórios. Principalmente ao ouvir a combinação “não é?” ou o compacto “né?” sendo dirigido à sua pessoa e você não prestou atenção a nada do que foi dito, manda um “bem melhor”. É batata. Foi quando pensei melhor nessa história toda de ADORO! e saquei que bem melhor é vanguarda. De repente o ADORO! ficou até meio retrô. Ok que a gente ADORA vintage. Mas cá entre nós beibe, bem melhor é bem melhor.)

obs. Fui citada no http://www.tribuneiros.com/ no texto do Andreazza, vulgo C.A. ADORO! Quer dizer, bem melhor! (o título do texto é Tênis de Rodinhas)

sábado, outubro 21, 2006

Das coisas que eu quero:

é uma lista enorme que vai desde sorvete Itália refil em casa a qualquer hora até todo o estoque de dvds da locadora de filmes. Mas sendo bem honesta: ultimamente nada me causa tanto fascínio quanto os tênis de rodinhas que fazem crianças deslizarem pelos shoppings.

“Ouça, querida, não fique assim com essa mentalidade de donzela folhetinesca, não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa.”
Otávia para Virginia em Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles.

quarta-feira, outubro 18, 2006

E é assim o nosso jeito de viver

A gente lê livros importantes, conhece um pouco da obra do Machado de Assis e tem autores bacanas e renomados entre os nossos top 5. A gente lê a coluna do Zuenir, adora o João Ubaldo Ribeiro e tenta ler sempre alguma coisa em inglês pra não perder o jeito. A gente gosta de revistas, procura a Piauí na banca e planeja ir à Bienal esse ano. A gente vai sempre ao CCBB e ao MAM e é capaz de distinguir algumas fases do Picasso. A gente fica deslumbrado com o Chagall e coleciona livros da Taschen e tem até um pôster do Klimt emoldurado na parede. A gente tem sempre um personagem de quadrinhos preferido, seja Lucy Van Pelt, Hobbes, Tim Tim ou Persépolis. A gente gosta de moda e acha o Balenciaga incrível. Temos perfume francês e nos vestimos de Zara só porque a Isabela Capeto ficou muito cara. A gente lê No Mínimo e adora o João Moreira Salles. A gente vai ao teatro e ao cinema e sempre concorda quando alguém diz que o Kubrick é um gênio. A gente é fã do Chaplin. A gente come japa na Dias Ferreira e toma drinks em bares moderninhos. A gente se desespera nas eleições e acha um absurdo os jogadores de futebol perderem a copa ganhando milhões. A gente escuta músicas inteligentes, seja no ipod ou no som do carro e torce o nariz pros axés e funks de baixo nível. A gente é tão aculturado e bem informado e tão elitizado e tão bacana. A gente é bacana e não perde a pose.

Mas quando o Fagner canta “Deslizes” a gente fica muito feliz por ser feliz mesmo sendo cafona!

"E como prêmio, eu recebo o teu abraço / Subornando o meu desejo tão antigo / E fecho os olhos para todos os teus passos / Me enganando, só assim somos amigos"

domingo, outubro 01, 2006

Lá o mundo tem razão

Fazia frio no Vale do Loire, mas não um frio de luvas e cachecóis. Parece que a temperatura estava na medida certa e a união do outono com sol produziu dias deliciosos. Aliás, tudo o mais naquela região cabe no adjetivo.

Os dias foram uma combinação de vinhos e castelos que resultou num passeio de balão, tudo muito cercado de belezas e vistas e verdes e reis e rainhas e tapeçarias que, juro, não são efeito da uva.

Provavelmente um dos lugares mais lindos que já vi. Mesmo que tentasse não poderia escrever qualquer coisa à altura.

Só algumas pequenas observações: a Disney se inspirou nesses castelos, sem dúvidas, e todos aqueles desenhos que fazíamos quando crianças são (em parte) reais. Em diversos momentos das visitas aos chateaus eu podia jurar que Rapunzel estava andando a meu lado, e não seria de todo espantoso se ela estivesse.

Histórias de reis e rainhas me fascinam. Muito.

Tudo parece cenário de filme, até os vinhedos com as uvas plantadas todas certinhas.

Na segunda etapa da viagem fomos (papai, eu e o GPS) à costa da Normandia onde a 2a Guerra Mundial começou a ser definida pelos aliados. Ruínas de bases alemães, praias do desembarque, uma pequena cidadela onde os pára-quedistas aterrisaram, museus repletos de armas e uniformes e objetos pessoais (fantásticos! embalagens de remédios, cigarros, terços, fotos, mapas, livros etc) dos soldados e cemitérios, muitos cemitérios tanto aliados quanto alemães, tudo de arrepiar. Muitos nomes e números aterrorizantes e paisagens belíssimas e melancólicas. Dia intenso e emocionante. Muito emocionante.

Finalmente fomos parar em Honfleur, uma cidade que foi um porto importante e de lá conhecemos ainda Deauville e suas ruas chiques e elegantes.

Viajar com papai é sempre uma mordomia e um prazer e ainda estamos, eu e ele, muito abobalhados com tudo o que vimos. Principalmente com o GPS.

A chegada em Paris já rendeu o primeiro encontro: Bebel.

E as primeiras cenas bizarras também. Dois ou três casais de noivas japonesas posavam no meio da Place de La Concorde com um monte de japoneses juntos. E muitas limusines e carros com flores ao redor da japonesada que posava para fotos.

Eu achei que as filas de Barcelona eram grandes até me deparar com a quantidade de gente na porta do Dorsay, pra citar apenas um dos museus.

Franceses são lentos e não têm pressa em servir. Nunca.

Cães estão por toda a parte e são tão tão tão encardidos que acredito que a lenda de que os franceses não são fãs de banho se estende a seus animais de estimação.

Ainda tenho dois ou três encontros pela frente, e depois eu conto (algumas coisas).