quinta-feira, novembro 23, 2006

sexta-feira, novembro 17, 2006

Balada de um set

(ou: traumas do figurino)

Eu tinha ido à casa do Chico de tarde. O Chico era o diretor do curta e também intérprete de um dos papéis, além de ser também o roteirista e o produtor associado. O Chico foi meu primeiro Orson Welles e com ele o primeiro trauma dessa missão figurino. Saí da casa do Chico com uma sacola de roupas onde eu levava opções para o figurino da atriz. Havia 3 saias e 4 ou 5 camisetas do meu acervo que, até então, era apenas o meu armário pessoal (não que ele tenha aumentado tanto). Dentro da sacola havia, também, uma calça do Chico. Fui-me embora levando a sacola onde ainda havia um sapato preto liiindo que não tinha nada a ver com a história. A sacola ficou na mala do carro e na noite seguinte o carro, estacionado perto do bar onde eu estava foi assaltado. Levaram o som do carro e também a sacola com as roupas do curta. Além de ter que consertar a porta do carro e ainda gastar uma grana comprando outro som, nesse dia eu ainda fiquei sem meu sapatinho preto e o Chico sem a calça dele. As filmagens do filme do Chico foram durante 3 ou 4 dias em Teresópolis, numa casa que parecia o Big Brother de tanta gente junta, das quais eu não conhecia quase nenhuma. Nesse dia eu achei que as equipes de filmagem deviam vir com algum crachá ou algo que os identificasse com seus nomes e funções. Depois de 3 ou 4 dias numa casa em Teresópolis acordando às 4 da manhã pra tomar banho num frio de 15 graus depois de terem roubado parte do meu acervo e ainda sem ganhar nem um tostão e na verdade ainda pagando pra isso eu prometi pra mim mesma que nunca mais faria filmes de amigos.

O filme da Anita, por sua vez, me gerou dois traumas: financeiro e pessoal.

Descobri, ao final das filmagens, na mesa de chope comemorativa, que sou uma peste no set. Eu convenço a equipe a jogar adedanha, pulo e falo demais e disperso as atenções das pessoas. A Anita só não me matou porque pouco antes da gente descobrir a minha verdadeira personalidade evil (em se tratando de sets de curtas, que fique bem claro) houve um acidente grave com o figurino. Em certo momento, a personagem principal vestia uma peruca, peruca esta que foi exaustivamente procurada por brechós, feiras, casas de amigos, Saara e etc. Finalmente, restava a opção de pegar a peruca emprestada na Fiszpan, uma loja especializada no objeto e lá fui eu me aventurar no mundo dos cabelos sintéticos. Consegui a maldita, linda, chanel preta de franjinha, uma graça que custava algo em torno de mil reais. Protegi a peruca como eu protegeria um amigo e a recomendação enfática da mocinha da loja não me deixou dúvidas: a peruca estava terminantemente proibida de ficar próxima de calor. O que a Anita esqueceu de me contar é que numa das cenas a personagem brincava com uma labareda de fogo justamente quando usava a peruca. E lá pelas tantas, depois de 3 takes, a diretora quis rodar mais uma vez só porque na quarta vez a labareda ia ficar super poderosa e queimar parte da franja da peruca. Sim, isso aconteceu, e a atriz teve sua sobrancelha levemente chamuscada, bem como seus cílios. E cá estou eu, com um rombo de quase mil reais na conta bancária. E uma peruca no armário.

Depois do filme do Chico eu prometi que nunca mais ia fazer filmes de amigos, porque achei que o prejuízo era ligeiramente maior que o prazer. Depois do filme da Anita eu prometi que nunca mais ia fazer filmes de amigos porque descobri que, além de falida, eu sou do mal e que trabalhar 17 horas seguidas cansa. Depois de filmes de amigos eu resolvi que iria estudar medicina, fazer concurso público ou trabalhar em qualquer outra coisa que envolvesse jornada de trabalho humana, 13o, férias remuneradas e afins.

Eu nem sei bem como eu fui parar nos filmes dos amigos em primeiro lugar, só sei que está cada vez mais difícil de sair!

:: E no meio disso tudo o iluminador, um cara mais velho que trabalha com cinema há anos, contou as histórias dos bastidores de Super Xuxa contra o Baixo Astral. Pirei tanto que comecei a cantar Arco-íris.

sábado, novembro 11, 2006

You don't know me *

Você não conhece nada do que está por baixo, tanta renda em cima e lá vem você com seu dedinho apontado querendo me ensinar o mundo e as coisas, quando quem devia ensinar era eu.

Você não me conhece nada, não me sabe quando eu fico nervosa de dar ataque, você não me conhece com raiva, não sabe o que me dá raiva, você, às vezes, me dá raiva. Você não conhece o que a minha bondade pode fazer, você nunca me viu santa e não faz idéia do quanto eu me dôo e dou, você não me conhece assim de mãos dadas com as pessoas, você não me sabe benevolente e gentil. Você não me conhece viciada, nunca me viu querendo alguma coisa na veia, você nem mesmo tem idéia das drogas de que preciso, sequer desconfia que na lista consta seu nome ocupando posições privilegiadas, você não imagina o quanto te quero e cada vez mais e você não poderia medir o quanto a vontade cresce e preenche e quanto sangue circula e quanto tempo eu seria capaz de passar ao seu lado, muda, calada. Você não imagina como eu sou devota e prestativa, nunca me viu Amélia e não me sabe mimando e fazendo vontades, nem mesmo desconfia de que eu faria todos os seus pratos preferidos. Você não me conhece vaidosa e perfumada, nunca me viu provocantes, você não imagina o quanto eu sei ser sexy e insinuante, você não me sabe mulher e não me conhece atraente. Você nunca me viu bagunçada no dia seguinte, rosto amassado, acordando devagar, você não faz idéia do quanto acordo mansinho e tranquila, você não conhece metade da minha calma. Você não sabe como eu sou protetora e nem deve saber o quanto eu estaria disposta a te salvar, você nem calcula quanto tempo eu passaria te desviando dos buracos. Você não sabe porque você não me conhece e não tem a mais rasa noção do quanto eu posso ser boa e companheira, você não conhece o meu abraço doce e o meu beijo mais íntimo, mais guardado, você não me sabe afetiva e não conhece meus afagos, você não me conhece com mania de carinhos. Você nunca me viu com mania de cantar, você não me conhece alegre com volume alto, você não me sabe cheia de melodias e sons, você não tem qualquer idéia a cerca da minha vontade de passar dias inteiros cantando, você não me conhece dançando. Você nem sequer imagina o quanto eu poderia morar numa coreografia, você nunca me viu assim, não me sabe de sapatilhas. Você não me conhece sonhando e fazendo planos fantásticos, você nunca me viu pendurada nas nuvens, você sequer saberia dizer quando etou distraída pensando em cores, você não me sabe surrealista e onírica. Você não tem noção alguma de como sinto medo, você não me conhece assustada, você nunca me viu correndo de fantasmas, você não me sabe indefesa e chorando por ajuda, você nunca me viu pedir ajuda e não sabe como você mesmo é parte dela. Você não me conhece e não sabe um terço das minhas tantas facetas, você nunca me viu fingida e dissimulada, você não me conhece enganadora e não faz idéia do quanto eu seria capaz de perturbar porque você não me conhece chata. Você não sabe como eu fico insuportável e nunca me viu num dia em que você adoraria me mandar ir à merda. Você não em conhece na merda, nunca me viu deprimida, não me sabe curtindo fossa porque você não me sabe triste e feia, você nunca me viu abafada no travesseiro, você não pode me imaginar tentando curar de dor de cotovelo, nem sequer desconfia de que você até causa um pouco dela. Você nunca me viu rejeitada, você não me sabe humilhada e sequer pode pensar no quanto às vezes fico no fundo do poço. Você nunca me viu dramática, não me conhece protagonista de novela mexicana, você não imagina o quanto eu poderia fazer charme, chantagem barata, você nunca me viu carente pedindo atenção e não deve saber que faria o que preciso fosse pra ter o seu colo, seu conforto, você nunca me viu decidida e você não me conhece ambiciosa. Você não sabe como sou ciumenta, nunca me viu possessiva e sem razão e assolada por crises de ciúme e nem deve cruzar sua mente o quanto você é responsável por isso que eu sinto e nem me viu fazendo cena, você não me conhece pra saber que jamais faria uma cena. Você não imagina como luto por pequenos pedaços de coisas e também coisas inteiras e grandes, você não tem idéia de como eu tento alcançar tantos cumes tantos dias. Você não me conhece e não tem vaga noção de como eu sou debaixo da farsa, da frieza, você não faz idéia de como eu me escondo, você não me conhece escancarada e assumida, você não me sabe disposta e com sede, você não me conhece. Você não me conhece de todos esses jeitos porque nunca me viu apaixonada, não me sabe amando, não me conhece louca, não me vê namorada.

Você não me conhece nada, tanto tecido por cima, e lá vem você com seus olhos brilhando me dando as direções, quando sou eu quem devia te domar por completo. Você não me conhece e aposto que nunca vai me conhecer por inteiro. E não há nada que eu possa te mostrar por detrás da parede.

* inspirado em Caetano e em sua música-vício que dá título a esse post, do disco Transa, de 72.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Dance me to the end

(um post sério sobre dança e duas observações aleatórias para quem quiser pular quatro parágrafos)

Eu sei pouquíssimo sobre dança. Tenho algum conhecimento técnico, uma vaga idéia de como funciona a teoria e nenhuma literatura no assunto. O máximo que leio são críticas no jornal e os releases impressos, além das “explicações” que inevitavelmente preenchem, ao lado de fotos e ficha técnica, os folderes de espetáculos a que assisto. O problema começa justamente nesses folderes. Parte do texto de hoje dizia: “... encontrou espaço para criar uma escrita com os corpos que se movimentam num não-lugar onde as perguntas não ditas convivem com a certeza da ausência de resposta.”. Nesse momento eu questiono desde quando dança virou tese de filosofia? A chatice começa a partir daí, desde o momento em que se fez necessário haver uma explicação para cada montagem de dança contemporânea. São explicações e descrições cada vez mais rebuscadas que buscam apoio em “não-elementos” em “não-espaços” e por aí vai e ao final da coisa a única certeza que você tem é a de que não-entendeu-nada.

Diferente dos grandes ballets, a dança contemporânea não segue uma narrativa, suas montagens não tem a linearidade de histórias repletas de personagens e músicas, muitas vezes nem música tem. O bacana do contemporâneo é que ele permite explorar uma série de linguagens e movimentos que o ballet restringe, ele brinca com inúmeras possibilidades muitas vezes incorporando outras artes, desde vídeos até falas e acaba se confundindo, às vezes, com uma performance. O legal da dança contemporânea, a meu ver, é o inusitado que pode se tirar dela, a substituição do palco pelas ruas, por exemplo, os toques de humor que podem vir com colagens de músicas ou mesmo a participação do público e por aí vai. A busca por um estilo e a personalidade que alguns coreógrafos imprimem em seus trabalhos são fascinantes, a capacidade que eles têm de produzir espetáculos com suas assinaturas sem cair na mesmice, enfim, o que mais me atrai na dança contemporânea é que finalmente bailarinos e coreógrafos puderam despadronizar os passos clássicos e criar seu jeito de dançar. Quando isso tudo vira um discurso quase político, uma defesa de argumentos que só atinge o público iniciado, o espetáculo todo vira um engodo difícil de agüentar.

É tão bom ver um espetáculo coeso e original e, em certos momentos, achar que está na hora de aplaudir e ser pego de surpresa pelo retorno dos bailarinos, ou ao contrário, ouvir um silêncio desconfiado e só se dar conta de que a apresentação chegou ao fim quando os bailarinos finalmente agradecem. E o melhor é quando a coesão e a originalidade existem aliadas a um conceito claramente pesquisado, mas acessível ao público leigo. Creio sentir falta disso: espetáculos estudados e embasados mas sem aquele esnobismo que precisa de teóricos e discussões para ser entendido. No fim das contas procuramos assistir dança pelo que o próprio nome sugere, e não para vermos uma série de clichês e teorias fantásticas enfileirados em “corpos que se movimentam”. Quando as coisas ficam eruditas demais, cansa. Ninguém agüenta mais ver bailarinos com cara de nuvem dando voltas em torno de si mesmos ou fazendo andanças e corridas intermináveis pelo palco. E mais que isso, ninguém agüenta mais ler releases escritos por redatores. É por essas e outras que dou mérito pra algumas cias que já entenderam que o bacana da arte é que ela seja absorvida tanto pelos estudiosos quanto por gente que busca um pequeno prazer estético. O incrível da dança é sair de um espetáculo com vontade de fazer o mesmo que os bailarinos fizeram no palco e ao mesmo tempo saber que às vezes vê-los já é suficiente.

E outra: a vida inteira iluminador era iluminador, não me venham com essa de “desenho de luz” porque comigo não funciona.

:: Já é natal na Leader Magazine mudou para “Já é natal na Leader, já é hora”. Por causa do reposicionamento da marca no mercado o nosso jingle natalino mais marcante mudou e eu fiquei meio nervosa.

:: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias é, para mim, o filme do ano.