(um post sério sobre dança e duas observações aleatórias para quem quiser pular quatro parágrafos)
Eu sei pouquíssimo sobre dança. Tenho algum conhecimento técnico, uma vaga idéia de como funciona a teoria e nenhuma literatura no assunto. O máximo que leio são críticas no jornal e os releases impressos, além das “explicações” que inevitavelmente preenchem, ao lado de fotos e ficha técnica, os folderes de espetáculos a que assisto. O problema começa justamente nesses folderes. Parte do texto de hoje dizia: “... encontrou espaço para criar uma escrita com os corpos que se movimentam num não-lugar onde as perguntas não ditas convivem com a certeza da ausência de resposta.”. Nesse momento eu questiono desde quando dança virou tese de filosofia? A chatice começa a partir daí, desde o momento em que se fez necessário haver uma explicação para cada montagem de dança contemporânea. São explicações e descrições cada vez mais rebuscadas que buscam apoio em “não-elementos” em “não-espaços” e por aí vai e ao final da coisa a única certeza que você tem é a de que não-entendeu-nada.
Diferente dos grandes ballets, a dança contemporânea não segue uma narrativa, suas montagens não tem a linearidade de histórias repletas de personagens e músicas, muitas vezes nem música tem. O bacana do contemporâneo é que ele permite explorar uma série de linguagens e movimentos que o ballet restringe, ele brinca com inúmeras possibilidades muitas vezes incorporando outras artes, desde vídeos até falas e acaba se confundindo, às vezes, com uma performance. O legal da dança contemporânea, a meu ver, é o inusitado que pode se tirar dela, a substituição do palco pelas ruas, por exemplo, os toques de humor que podem vir com colagens de músicas ou mesmo a participação do público e por aí vai. A busca por um estilo e a personalidade que alguns coreógrafos imprimem em seus trabalhos são fascinantes, a capacidade que eles têm de produzir espetáculos com suas assinaturas sem cair na mesmice, enfim, o que mais me atrai na dança contemporânea é que finalmente bailarinos e coreógrafos puderam despadronizar os passos clássicos e criar seu jeito de dançar. Quando isso tudo vira um discurso quase político, uma defesa de argumentos que só atinge o público iniciado, o espetáculo todo vira um engodo difícil de agüentar.
É tão bom ver um espetáculo coeso e original e, em certos momentos, achar que está na hora de aplaudir e ser pego de surpresa pelo retorno dos bailarinos, ou ao contrário, ouvir um silêncio desconfiado e só se dar conta de que a apresentação chegou ao fim quando os bailarinos finalmente agradecem. E o melhor é quando a coesão e a originalidade existem aliadas a um conceito claramente pesquisado, mas acessível ao público leigo. Creio sentir falta disso: espetáculos estudados e embasados mas sem aquele esnobismo que precisa de teóricos e discussões para ser entendido. No fim das contas procuramos assistir dança pelo que o próprio nome sugere, e não para vermos uma série de clichês e teorias fantásticas enfileirados em “corpos que se movimentam”. Quando as coisas ficam eruditas demais, cansa. Ninguém agüenta mais ver bailarinos com cara de nuvem dando voltas em torno de si mesmos ou fazendo andanças e corridas intermináveis pelo palco. E mais que isso, ninguém agüenta mais ler releases escritos por redatores. É por essas e outras que dou mérito pra algumas cias que já entenderam que o bacana da arte é que ela seja absorvida tanto pelos estudiosos quanto por gente que busca um pequeno prazer estético. O incrível da dança é sair de um espetáculo com vontade de fazer o mesmo que os bailarinos fizeram no palco e ao mesmo tempo saber que às vezes vê-los já é suficiente.
E outra: a vida inteira iluminador era iluminador, não me venham com essa de “desenho de luz” porque comigo não funciona.
:: Já é natal na Leader Magazine mudou para “Já é natal na Leader, já é hora”. Por causa do reposicionamento da marca no mercado o nosso jingle natalino mais marcante mudou e eu fiquei meio nervosa.
:: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias é, para mim, o filme do ano.
5 comentários:
Olha eu não te conheço, e no bem da verdade nem sei como cheguei nesse seu blog... mas eu AMEI o seu escrito,,, soy bailarina, e morro de preguiça dessa dança filosófica que tenta explicar algo que é inexplicável até para quem achou a explicação... virei fã daqui, volto sempre agora... talvez assim descubra quem vc é...
tem horas que eu me deparo com alguma "obra" de arte contemporanea em geral e penso: ou isto está completamente acima da minha sensibilidade / capacidade de compreensão ou o autor acha que todo mundo é idiota.
ou às vezes vivemos na época da supervalorização do pretensiosismo.
Eu tb amo esse blog, descobri por acaso, navegando pela net, faz tempo que deixei minha admiração relatada aqui mas a dona do blog nem sequer deu um pio pra mim. Fiquei triste mas sem ressentimentos (só estou comentando sem neuras ok?) continuo vindo aqui diariamente. Sou fã de qualquer boa leitura, por isso bato ponto aqui.
gente, tenho que dar crédito (muito atrasado) à Déia: ela foi a primeira "outsider" a comentar aqui. ATé hoje não sei como as pessoas chegam ao meu blogue (que por tantas vezes estive prestes a deixar de lado), achei que só os amigos lessem, fico contente de ter forasteiros entre os "meus leitores", sintam-se à vontade e desculpem se não dou bola, mas sempre leio os recados e ADORO!
Juliana: eu sou a Julieta, prazer!
Ahhhhhhhhhhhh agora eu me senti!!! hahahahaha
Valeu mesmo mas é um imenso prazer ler seus textos.
Um bjo
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