sábado, dezembro 22, 2012

ho ho ho

 A tirinha veio daqui.

Um bom fim de ano a todos, obrigada pela audiência e até logo!


terça-feira, dezembro 18, 2012

retrospectiva 2012


Envoi

O tempo, que a tudo distorce,
às vezes alisa, conserta,
e a golpes cegos acerta:

em seu tosco código Morse
de instantes sem rumo e roteiro
então dá forma a algo de inteiro.

Não um verso, que em folha esquiva
a gente retoca e remenda
até ser coisa que se entenda,

mas algo que na carne viva
se esboça, se inscreve
bem mais a fundo, ainda que breve –

pois todo poema é murmúrio
frente ao amor e sua fúria. 

Paulo Henriques Britto, Formas do nada. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.  

E se alguém objetar que não vale à pena tanto esforço, citarei Cioran: "Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', pergutaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer.'"

Italo Calvino, Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Danço eu, dança você


Ficou tudo muito complicado pra mim esse ano: perdi os 2 shows da Baby, não frequentei o Arpex, não fui a nenhum comício político, não vi o Stevie Wonder ao vivo e não me empolguei com a ideia da Praça São Salvador como local de socialização, mesmo porque lá estão todas as pessoas que certamente me achariam boçal, visto que moro no Leblon e sou proprietária de um veículo automotivo. Pra piorar, não acho tanta graça assim no Fábio Porchat, não postei nenhum almoço no instagram e outro dia, ao rapidamente conhecer a dupla que lançou a moda das plaquinhas “respeite: um carro a menos”, sugeri que eles deviam lançar uma campanha pelo uso de capacete dos usuários de magrelas. Ficaram desarmados com meu mau humor.

Senti a exclusão na pele: os convites para chopes foram ficando cada vez mais escassos, a praia cada vez mais solitária, as idas à livraria cada vez mais diárias. Não é fácil ser equivocada nessa vida, e numa tentativa desesperada de integração, comprei um smartphone. Julguei que tal ato fosse me colocar no centro da pós-modernidade onde todo mundo usa whatsapp, twitter da Lei Seca e fotos mirabolantes de seus pés, pugs e plantas. Eu, que ainda vivo na era dos poodles, achei que bastava um pacote de dados para me atualizar.

Os primeiros sinais de infelicidade pós-smartphone vieram no mesmo dia que saí com ele na bolsa pela primeira vez: não pude me comunicar com ninguém por incapacidade de teclar. As poucas palavras que acertei foram prontamente corrigidas pelo aparelho, e rapidamente “lindona” (a nova cadeira da minha irmã), virou “linfoma”, o apelido da Julia – “xará” – virou “cara” e eu nem pude atualizar meu status do facebook com um versinho porque o meu Samsung jamais entenderia minha poesia. Às 3 da tarde a bateria já dava sinais de falência e eu resolvi comprar um relógio. No dia seguinte, depois de uma noite na tomada, o alarme, batizado de “todo dia” (no smartphone você pode nomear seus alarmes, veja só), não tocou, eu perdi a hora e às 10h15 estava no camelô que me vendera o relógio de pulso, dessa vez procurando por um de mesa, daqueles cuja pecinha você levanta antes de dormir e abaixa quando se põe de pé. Salve a tradição.

Os segundos sinais de que algo não ia bem vieram na praia de sábado, quando o celular transformou-se num espelho: não se via nada na tela além do meu rosto refletido. Eu fazia sombra com as mãos, colocava o aparelho e a minha cabeça dentro da bolsa e nada, não se enxergava nada. Eu queria telefonar pra Bruna pra avisar que estava ali em frente à JL, que o mar parecia um presente, mas nada parecia possível e só um milagre nos reuniria naquela manhã de sol. Fui pra casa e liguei o ar-condicionado no máximo, mandei 3 mensagens pra ver se descolava companhia pra jantar, mas acabei comendo uma salada do Gula-gula em frente à tv, desejando que Elaine e George fossem reais, porque nem as séries certas eu assisti esse ano.

Veio domingo e uma chuva de espantar os habituais bailarinos, digo, skatistas da orla, e calcei os tênis para sair à caça de uma bici. Na terceira estação havia algumas disponíveis, e um crowd de gente na disputa. Perdi qualquer chance quando, depois de discar o número praticamente debaixo de um carro que me dava sombra suficiente pra enxergar a tela, a mocinha eletrônica disse “digite o número da estação” e não havia teclado disponível. Derrotada, me arrastei pra fora do carro, me levantei com dificuldade e fui me consolar comendo waffles na Argumento: eu estava ficando patética e gorda, e a possibilidade de fazer amigos no Vigilantes do Peso me deu ânimo. Quem dera. Depois de 15 minutos esperando uma mesa, tomei o caminho de casa, rumei ladeira acima e postei uma foto da capa de um livro no instagram.

Faz 2 dias que choro sem parar pensando no meu velho Nokia, na minha velha vida, naqueles dias românticos pré-3G em que eu conseguia falar com as pessoas. Meu único consolo tem sido a faixa 3 do novo cd do Caetano, uma tão miserável quanto a minha conversão à tecnologia e que diz: “estou triste tão triste / e o lugar mais frio do Rio / é o meu quarto.”