quarta-feira, janeiro 31, 2007

namastê.

Chega ao fim a saga da yoga. Depois de três meses convivendo com o curioso mundo das posturas da cobra, do guerreiro 1, da criança e afins eu me sento (costas não eretas, respiração descompassada e Jane Monheit cantando ao fundo, nada de Mahavir ou qualquer outro dessa laia) para contar que as amarras da matrícula trimestral se partiram. Final e felizmente, é o fim da era de tapetinhos verdes. Depois de cantar o derradeiro mantra me despeço da prática com a plena satisfação de ter tentado ao máximo gostar da coisa. Falhei. Deixo pra trás o Nirvana e volto pro lugar de onde eu nuca devia ter saído. Minha coluna que se dane.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

As bolinhas-de-queijo do meu tempo

As primeiras bolinhas-de-queijo que comi foram provavelmente as de uma festa cujo tema era a She-ra. Talvez antes. De lá pra cá parece que houve uma reviravolta no mundo: as festas não têm mais mesas cheias de brigadeiros e nem o Tio Tom para animar, não têm mais brindes dentro de copos enfeitados e algumas nem comida servem, quiçá bolinhas-de-queijo. As mudanças comportamentais e conceituais de festas eu posso entender e até aprovar afinal, existe música além do Trem da Alegria e drinks além da fanta laranja. Já o sumiço das bolinhas-de-queijo me deixa inconsolável.

Finda a era das festinhas infantis, bolinhas-de-queijo viraram artigo de luxo e bolinhas-de-queijo boas eram quase como achar água no deserto. Foram longos anos sem a convivência com essas pequenas delícias engorduradas, até que a adolescência veio e a W também. A W era uma boate que, se contemporânea, seria prima da Prelude. Eu não tinha ainda tanto escrúpulo assim pra sacar que a W era o ó. Já as bolinhas-de-queijo da W... Eu tolerei noites além do que eu seria capaz e tudo por causa dessa guloseima. Cheguei a ponto de entrar na W, achar um banquinho no segundo andar e gastar toda a minha consumação com elas. O melhor de tudo é que o prato era grande, generoso, eram dois ou três andares de bolinhas-de-queijo e eu as devorava sozinha enquanto meus amigos dançavam e conheciam gente que vivia num mundo bolinha-de-queijo-less. Eu os achava loucos. Eles me achavam um caso perdido. Como tudo o que é bom dura pouco, a W fechou e lá se foram as bolinhas-de-queijo mais deliciosas que já comi.

Anos depois, já refeita do luto, eu descobri que o Manuel e Joaquim fazia bolinhas-de-queijo quase tão boas quanto as da W. Elas vinham em menor quantidade, mas em compensação eu não tinha que aturar música alta e eventuais garotos pós-adolescentes me puxando pelo braço e, ainda, estava livre dos olhares reprovadores dos meus amigos que nunca entenderam o valor de uma boa bolinha-de-queijo. De lá pra cá o impensável aconteceu: o Manuel e Joaquim retirou as bolinhas-de-queijo do seu cardápio. Não houve qualquer satisfação ou comunicação prévia, um belo dia elas simplesmente deixaram de existir. Eu parei de freqüentar o local. Eu não poderia continuar sustentando um botequim excludente de bolinhas-de-queijo boas. Mais uma vez tive de me conformar que teria que viver num mundo sem bolinhas-de-queijo, embora dentro de mim eu ainda me perguntasse até quando isso seria possível.

Eis que o Jobi entrou na minha vida e as bolinhas-de-queijo voltaram. Confesso que as bolinhas do Jobi não são a nona maravilha do mundo (a oitava eram as bolinhas-de-queijo da W), mas num planeta onde a coisa é cada vez mais escassa, as que existem acabam ganhando mais status do que deveriam. É aquele velho ditado: em terra de cego quem tem um olho é rei. O Jobi é como um palácio para mim.

Eu tentei substituir bolinhas-de-queijo por bolinhos de aipim, de bacalhau, filé aperitivo, linguicinha e mais uma série de incontáveis petiscos que encontramos por aí mas o fato é que desde que as bolinhas caíram em desuso que eu nunca mais fui plenamente feliz num bar.

O que eu não consigo entender, meu deus!, é por que diabos o mundo quer se livrar dessa iguaria?

quarta-feira, janeiro 24, 2007

terça-feira, janeiro 23, 2007

Le cinéma

- O que quer ser?
- Diplomata.
- Tem uma fortuna?
- Não.
- Tem relacionamento com alguém famoso ou ilustre?
- Não.
- Esqueça a diplomacia.
- Mas o que posso ser?
- Um curioso.
-Isso não é profissão.
-Ainda não. Viaje, escreva, traduza. Aprenda a viver em todo lugar. Comece agora.

in Jules et Jim.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Essa maravilha de cenário

Sente-se na Pizzaria Guanabara às quatro da manhã de uma terça-feira pós Circo Voador vestida de Branca de Neve. De preferência, esteja acompanhada de um amigo tão ou mais engraçado que você. Chame todos que exclamarem “Branca de Neve!” para sentar-se à mesa também. Confirme quando o seu amigo disser que você é socióloga e que parte da sua pesquisa comportamental consiste em vestir-se de princesas da Disney para estudar as diversas reações de pessoas. Diga que mora na Floresta da Tijuca com os Sete Anões, que ficaram em casa porque têm de acordar cedo no dia seguinte para trabalhar (“Just whistle while you work”, lembram-se?). Diga também que substituiu a saia amarela pela bermuda jeans porque assim é mais prático e que a capa esquentava muito. Saia de lá com a barriga doendo de rir, tome um banho quente antes de dormir e aguarde ansiosamente mais um baile da Orquestra Imperial.

domingo, janeiro 14, 2007

Meu caro amigo:

antes de prosseguir sua leitura neste humilde blógui, marque a sua opção verdadeira.

Sua fé estipula que:

a) Chico Buarque é uma entidade suprema e fenomenal de quem não se pode falar um ai sequer e ele figura na minha top 5 list de pessoas com quem eu sonho em ficar presa no elevador;
b) Chico Buarque tem seu valor, é um grande letrista mas creio que o cara acorda com remelas nos olhos e é passível de ter chulé e além do mais ficar presa no elevador com o Johnny Depp deve ser bem mais interessante.

Se você marcou a opção "a" por favor saia deste blógui imediatamente e não olhe para trás.

Eu sou fã confessa do dono dos olhos de ardósia. Muitas de suas canções têm lugar assegurado no meu cd imaginário contenedor das melhores músicas do mundo. Fico embasbacada com algumas de suas composições e em ver como elas resistem ao tempo. Gosto também do Chico intérprete, embora eu ache que Construção foi feita pra ser cantada pelo Ney e Atrás da Porta pela Elis. Reconheço o charme do moço e ainda mais seu carisma. Acho que Chico roubou todas as cenas de Vinícius, o filme.

Mas no palco ele apenas não funcionou para mim. O intérprete ficou morno, o repertório atual não me emociona e o antigo me soa melhor em cd ou na Casa da Matriz com espaço pra (tentar) sambar e abrir os braços que nem nossos pais fazem quando dançam.

Talvez porque o Chico tenha virado uma entidade eu esperasse dele um show arrebatador.

Sem mais delongas, respiro fundo e afirmo sem medo de ser jurada de morte: fui ao show do Chico Buarque, não gostei e fiquei triste.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Mas não leve isso tudo tão a sério

Você não pode ligar pra ele no dia seguinte porque isso parece desespero, aliás você não pode ligar pra ele porque isso quem deve fazer é o homem.

Você também não pode achar que ele vai ligar no dia seguinte, você não pode contar com isso gera expectativas e você aprendeu desde cedo que não se deve esperar nada de ninguém, assim evita se decepcionar. Mas tome cuidado pra não demonstrar indiferença porque isso pode botar tudo a perder, você deve saber disfarçar na dose certa senão ele acaba te achando independente demais e some. Mas também não fique achando que ele vai sumir de primeira porque pensamento negativo atrai e essa coisa de esperar logo o pior porque o que vier é lucro é tão teórica quanto ineficaz pois numa dessas você deixa de fazer as coisas por medo. Ok, também não se convença você que o telefone vai tocar dentro de três ou quatro dias e se passado esse prazo o rapaz ainda não tiver telefonado nem pense em se adiantar e cumprir a missão, em hipótese alguma você deve telefonar, nem se o motivo for um velório e se o cara não ligar não derrame uma lágrima e nem ache ruim, ficar triste por causa de homem babaca (porque o homem que não liga alcança imediatamente esse status) é o fim e você deve subir no salto e dar a volta por cima, fazer uma hidratação de queratina, pintar as unhas de rubi, trata-lo com educação se esbarrar com ele por aí, enfim, mostrar que é superior. Caso ele ligue, você não pode se mostrar muito disponível porque assim o cara perde o interesse logo. É necessário um charminho, mas não caia no exagero. Você também não pode estar sempre ocupada porque aí ele desiste mesmo, se sente desprezado, acha que você está esnobando e nunca mais dá as caras.

Você não pode sair muito arrumada no segundo encontro porque ele vai achar que você quis impressionar e se você quis impressionar é porque está amarradona e essa é a última coisa que você quer que ele descubra. Você não pode ser muito fofa e meiga porque aí ele vai achar que você é carente. Você também não pode ser muito fria e distante. Ao mesmo tempo não deve ser muito eufórica, você tem que achar aquele meio termo que vai faze-lo ficar na dúvida, o que gera uma grande possibilidade de um terceiro encontro, quando acaba o mistério eles perdem a curiosidade e aí murcha mesmo.

Você não pode dar de primeira e nem de segunda, na verdade meu bem, você não pode dar nunca porque essa é sua passagem de volta pra casa. Você também não pode não dar porque eles se cansam e procuram outra mais fácil. Você não pode ter um relacionamento puramente carnal porque estaria se desvalorizando e poderia parecer meio piranha, mas você também não pode fazer planos de relacionamentos sérios porque o sujeito se sentiria pressionado. Você também não pode ser a eterna ficante, mas não deve achar que vai ser logo namorada.

Você não pode fazer cobranças porque os moços sempre fogem de compromissos, não pode carregar na maquiagem sob risco de parecer perua, você não pode demonstrar toda a sua sofisticação sob pena de assustar o cara, você não pode busca-lo em casa pra não parecer feminista, você não pode aceitar carona sempre pra não parecer submissa, você não pode usar batom porque homem não gosta, você não pode demonstrar ciúme, você não pode reclamar do futebol, você não pode agir impulsivamente, você não pode querer ser emancipada e nem Amélia, nem oito e nem oitenta e só o que você pode é ter muita, muuuuuuuita preguiça dessas regras antiquadas e chatas demais, pode bocejar e inventar uma brincadeira nova.

E quem é que vai saber jogar?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Te adorando pelo avesso

Eu queria ligar pra ela e dizer o buraco que eu sentia e queria que ela entendesse e sentisse o mesmo e queria que ela tivesse a fórmula que consertasse tudo. Eu queria que ela encontrasse um jeito, um traço, um lugar onde tudo pudesse ser de novo do jeito que era antes dela estragar o jogo. Eu queria que ela me pegasse no colo e dissesse que ia passar, mas não está passando, não vê que não está passando? Eu queria gritar no ouvido dela todos os insultos e barbaridades que eu pudesse lembrar e queria que doesse tanto nela quanto doeu em mim. Eu queria que ela visse como eu vejo, eu queria que ela enxergasse o quanto todo mundo perdeu, eu queria que ela visse como eu sofro e eu queria que ela se importasse, eu queria que ela fizesse um esforço qualquer que não surtisse efeito mas que demonstrasse algum sinal de preocupação, algum resquício de decência. Eu queria que ela sentisse o cheiro do que ela fez, eu queria enfiar uma faca nas costas dela que nem ela fez na minha, eu queria que ela comesse azedo, queria jogar em cima dela toda a lama onde ela me deixou, eu queria ver na cara dela uma tristeza profunda e irremediável. Eu queria que ela sentisse os mesmos golpes que me deu no estômago, queria que em cada som que lembrasse o meu nome ela sentisse o enjôo subindo pela garganta. Eu queria que ela não mais pudesse ouvir as músicas que a gente dançava, eu queria que um dia ela se visse engasgada e magra como eu fui no dia quando. Eu queria que ela caísse numa rua imunda, joelhos contra a calçada e uma dor tremenda, mãos raladas e uma humilhação impiedosa. Eu queria que ela entendesse que confiança é definitivo e que eu não saberia continuar uma conversa com ela, não depois de tudo, eu queria que ela me desse a resposta, eu queria que tivesse resposta.

Eu queria ligar pra ela e dizer o buraco que eu sentia e queria que ela tivesse o jeito certo e que todas as coisas boas que eu sentia por ela voltassem à tona, eu queria ao menos poder pensar nela sem achar que é tudo tão radical. Eu queria não sentir raiva por ter tanta memória de carinho, eu queria sufocar um gostar dela.

Eu queria que ela voltasse a fazer sentido.