Envoi
O tempo, que a tudo
distorce,
às vezes alisa, conserta,
e a golpes cegos acerta:
em seu tosco código Morse
de instantes sem rumo e
roteiro
então dá forma a algo de
inteiro.
Não um verso, que em folha
esquiva
a gente retoca e remenda
até ser coisa que se
entenda,
mas algo que na carne viva
se esboça, se inscreve
bem mais a fundo, ainda
que breve –
pois todo poema é murmúrio
frente ao amor e sua
fúria.
Paulo Henriques Britto, Formas do nada. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
E se alguém objetar que não vale à pena tanto esforço, citarei Cioran: "Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', pergutaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer.'"
Italo Calvino, Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
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