terça-feira, dezembro 18, 2012

retrospectiva 2012


Envoi

O tempo, que a tudo distorce,
às vezes alisa, conserta,
e a golpes cegos acerta:

em seu tosco código Morse
de instantes sem rumo e roteiro
então dá forma a algo de inteiro.

Não um verso, que em folha esquiva
a gente retoca e remenda
até ser coisa que se entenda,

mas algo que na carne viva
se esboça, se inscreve
bem mais a fundo, ainda que breve –

pois todo poema é murmúrio
frente ao amor e sua fúria. 

Paulo Henriques Britto, Formas do nada. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.  

E se alguém objetar que não vale à pena tanto esforço, citarei Cioran: "Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', pergutaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer.'"

Italo Calvino, Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.

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