Ficou tudo muito
complicado pra mim esse ano: perdi os 2 shows da Baby, não frequentei o Arpex,
não fui a nenhum comício político, não vi o Stevie Wonder ao vivo e não me
empolguei com a ideia da Praça São Salvador como local de socialização, mesmo
porque lá estão todas as pessoas que certamente me achariam boçal, visto que
moro no Leblon e sou proprietária de um veículo automotivo. Pra piorar, não
acho tanta graça assim no Fábio Porchat, não postei nenhum almoço no instagram
e outro dia, ao rapidamente conhecer a dupla que lançou a moda das plaquinhas
“respeite: um carro a menos”, sugeri que eles deviam lançar uma campanha pelo uso
de capacete dos usuários de magrelas. Ficaram desarmados com meu mau humor.
Senti a exclusão na pele:
os convites para chopes foram ficando cada vez mais escassos, a praia cada vez
mais solitária, as idas à livraria cada vez mais diárias. Não é fácil ser
equivocada nessa vida, e numa tentativa desesperada de integração, comprei um
smartphone. Julguei que tal ato fosse me colocar no centro da pós-modernidade
onde todo mundo usa whatsapp, twitter da Lei Seca e fotos mirabolantes de seus
pés, pugs e plantas. Eu, que ainda vivo na era dos poodles, achei que bastava
um pacote de dados para me atualizar.
Os primeiros sinais de
infelicidade pós-smartphone vieram no mesmo dia que saí com ele na bolsa pela
primeira vez: não pude me comunicar com ninguém por incapacidade de teclar. As
poucas palavras que acertei foram prontamente corrigidas pelo aparelho, e
rapidamente “lindona” (a nova cadeira da minha irmã), virou “linfoma”, o
apelido da Julia – “xará” – virou “cara” e eu nem pude atualizar meu status do
facebook com um versinho porque o meu Samsung jamais entenderia minha poesia.
Às 3 da tarde a bateria já dava sinais de falência e eu resolvi comprar um
relógio. No dia seguinte, depois de uma noite na tomada, o alarme, batizado de
“todo dia” (no smartphone você pode nomear seus alarmes, veja só), não tocou,
eu perdi a hora e às 10h15 estava no camelô que me vendera o relógio de pulso,
dessa vez procurando por um de mesa, daqueles cuja pecinha você levanta antes
de dormir e abaixa quando se põe de pé. Salve a tradição.
Os segundos sinais de que
algo não ia bem vieram na praia de sábado, quando o celular transformou-se num
espelho: não se via nada na tela além do meu rosto refletido. Eu fazia sombra
com as mãos, colocava o aparelho e a minha cabeça dentro da bolsa e nada, não
se enxergava nada. Eu queria telefonar pra Bruna pra avisar que estava ali em
frente à JL, que o mar parecia um presente, mas nada parecia possível e só um
milagre nos reuniria naquela manhã de sol. Fui pra casa e liguei o
ar-condicionado no máximo, mandei 3 mensagens pra ver se descolava companhia
pra jantar, mas acabei comendo uma salada do Gula-gula em frente à tv,
desejando que Elaine e George fossem reais, porque nem as séries certas eu
assisti esse ano.
Veio domingo e uma chuva
de espantar os habituais bailarinos, digo, skatistas da orla, e calcei os tênis
para sair à caça de uma bici. Na terceira estação havia algumas disponíveis, e
um crowd de gente na disputa. Perdi qualquer chance quando, depois de discar o
número praticamente debaixo de um carro que me dava sombra suficiente pra
enxergar a tela, a mocinha eletrônica disse “digite o número da estação” e não
havia teclado disponível. Derrotada, me arrastei pra fora do carro, me levantei
com dificuldade e fui me consolar comendo waffles na Argumento: eu estava
ficando patética e gorda, e a possibilidade de fazer amigos no Vigilantes do
Peso me deu ânimo. Quem dera. Depois de 15 minutos esperando uma mesa, tomei o
caminho de casa, rumei ladeira acima e postei uma foto da capa de um livro no
instagram.
Faz 2 dias que choro sem
parar pensando no meu velho Nokia, na minha velha vida, naqueles dias românticos
pré-3G em que eu conseguia falar com as pessoas. Meu único consolo tem sido a faixa 3 do novo cd do Caetano, uma tão
miserável quanto a minha conversão à tecnologia e que diz: “estou triste tão
triste / e o lugar mais frio do Rio / é o meu quarto.”
4 comentários:
E o pior é que Elaine e George são reais, nós é que somos de mentirinha.
Vc vai vencer essa, Honey !
vc vai vencer essa, eu acredito !
Super entendo seu sentimento de não ter visto o Stevie Wonder ao vivo!
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