sexta-feira, novembro 17, 2006

Balada de um set

(ou: traumas do figurino)

Eu tinha ido à casa do Chico de tarde. O Chico era o diretor do curta e também intérprete de um dos papéis, além de ser também o roteirista e o produtor associado. O Chico foi meu primeiro Orson Welles e com ele o primeiro trauma dessa missão figurino. Saí da casa do Chico com uma sacola de roupas onde eu levava opções para o figurino da atriz. Havia 3 saias e 4 ou 5 camisetas do meu acervo que, até então, era apenas o meu armário pessoal (não que ele tenha aumentado tanto). Dentro da sacola havia, também, uma calça do Chico. Fui-me embora levando a sacola onde ainda havia um sapato preto liiindo que não tinha nada a ver com a história. A sacola ficou na mala do carro e na noite seguinte o carro, estacionado perto do bar onde eu estava foi assaltado. Levaram o som do carro e também a sacola com as roupas do curta. Além de ter que consertar a porta do carro e ainda gastar uma grana comprando outro som, nesse dia eu ainda fiquei sem meu sapatinho preto e o Chico sem a calça dele. As filmagens do filme do Chico foram durante 3 ou 4 dias em Teresópolis, numa casa que parecia o Big Brother de tanta gente junta, das quais eu não conhecia quase nenhuma. Nesse dia eu achei que as equipes de filmagem deviam vir com algum crachá ou algo que os identificasse com seus nomes e funções. Depois de 3 ou 4 dias numa casa em Teresópolis acordando às 4 da manhã pra tomar banho num frio de 15 graus depois de terem roubado parte do meu acervo e ainda sem ganhar nem um tostão e na verdade ainda pagando pra isso eu prometi pra mim mesma que nunca mais faria filmes de amigos.

O filme da Anita, por sua vez, me gerou dois traumas: financeiro e pessoal.

Descobri, ao final das filmagens, na mesa de chope comemorativa, que sou uma peste no set. Eu convenço a equipe a jogar adedanha, pulo e falo demais e disperso as atenções das pessoas. A Anita só não me matou porque pouco antes da gente descobrir a minha verdadeira personalidade evil (em se tratando de sets de curtas, que fique bem claro) houve um acidente grave com o figurino. Em certo momento, a personagem principal vestia uma peruca, peruca esta que foi exaustivamente procurada por brechós, feiras, casas de amigos, Saara e etc. Finalmente, restava a opção de pegar a peruca emprestada na Fiszpan, uma loja especializada no objeto e lá fui eu me aventurar no mundo dos cabelos sintéticos. Consegui a maldita, linda, chanel preta de franjinha, uma graça que custava algo em torno de mil reais. Protegi a peruca como eu protegeria um amigo e a recomendação enfática da mocinha da loja não me deixou dúvidas: a peruca estava terminantemente proibida de ficar próxima de calor. O que a Anita esqueceu de me contar é que numa das cenas a personagem brincava com uma labareda de fogo justamente quando usava a peruca. E lá pelas tantas, depois de 3 takes, a diretora quis rodar mais uma vez só porque na quarta vez a labareda ia ficar super poderosa e queimar parte da franja da peruca. Sim, isso aconteceu, e a atriz teve sua sobrancelha levemente chamuscada, bem como seus cílios. E cá estou eu, com um rombo de quase mil reais na conta bancária. E uma peruca no armário.

Depois do filme do Chico eu prometi que nunca mais ia fazer filmes de amigos, porque achei que o prejuízo era ligeiramente maior que o prazer. Depois do filme da Anita eu prometi que nunca mais ia fazer filmes de amigos porque descobri que, além de falida, eu sou do mal e que trabalhar 17 horas seguidas cansa. Depois de filmes de amigos eu resolvi que iria estudar medicina, fazer concurso público ou trabalhar em qualquer outra coisa que envolvesse jornada de trabalho humana, 13o, férias remuneradas e afins.

Eu nem sei bem como eu fui parar nos filmes dos amigos em primeiro lugar, só sei que está cada vez mais difícil de sair!

:: E no meio disso tudo o iluminador, um cara mais velho que trabalha com cinema há anos, contou as histórias dos bastidores de Super Xuxa contra o Baixo Astral. Pirei tanto que comecei a cantar Arco-íris.

6 comentários:

Anah disse...

Como vc nao me contou que o figurino do filme do Chico foi roubado? Essa história é incrível!!
Agora esse rombo de mil reais foi foda! Estaria no seu lugar desesperada.
Esse negócio de filme de amigo vicia mesmo... Socorro!
Beijos e saudades!
Ana

Velma Kelly disse...

poxa, divide com a gente as fofocas do making of do filme da xuxa!!!!!

Anônimo disse...

"Vou pintar um arco íris de energia, pra deixar o mundo cheio de alegria..." Você só cantou ou fez a coreografia também???
É mesmo, divide com a gente as histórias dos bastidores!!
Bjosssss

Anônimo disse...

to até me sentindo mal de te chamar de vader. mas acho que vc gostou
=]
ou seja...não para nao!

bruna disse...

e eu já tinha imaginado mil versões para o incendio da peruca!

Anônimo disse...

O mais legal é a bebel ignorando todo história e só querendo saber das fofocas de bastidores. Hahahahah.
E suco de uva? que frequência é essa?