segunda-feira, outubro 08, 2007

I sing the body electric

(ou Quero Ser Irene Cara)

Dizer que seu filme preferido é Cidadão Kane é o mesmo que dizer que seu prato preferido é pato laqueado. Todo mundo sabe que bife com batata frita é melhor. Da mesma forma como todo mundo sabe que nenhum scarpin da Miu Miu substitui o seu bom e velho par de havaianas. Da mesma maneira que todo mundo sabe que existe um incontável número de filmes infinitamente melhores do que C. K. E todo mundo sabe também que o filme da sua vida não é aquele cujo diretor ganhou o Oscar ou a palma de ouro. O filme da sua vida sequer foi fotografado por um sujeito aclamado ou inovou a história do cinema. O filme da sua vida poderia até mesmo te envergonhar um pouco numa roda de cinéfilos inteligentes e letrados onde eventualmente alguém diria que Cidadão Kane é o melhor filme de todos os tempos, talvez seja, provavelmente não é. O sujeito que afirma categoricamente que C.K é seu filme preferido é o mesmo que, minutos depois com a evolução natural da conversa, vai dizer que MacBeth é seu livro de cabeceira. E é também o mesmo que vai te dar sono em menos de meia hora. É fácil convencer alguém mais distraído de que o filme de Welles é a obra-prima da sétima arte, difícil é convencer esse cara presunçoso e chato de que o filme da sua vida não tem nada a ver com isso. Filmes, livros e músicas tornam-se especiais não por causa de seus preciosismos técnicos, caso contrário o Nirvana não teria sido o fenômeno que foi e nem mesmo a Xuxa teria sido a Rainha dos Baixinhos. Os filmes e livros e músicas das nossas vidas são os que nos refletem sem qualquer tipo de máscara, são os que nos arrepiam os cabelinhos dos braços, são as músicas até mesmo cafonas que cantamos no carro quando ninguém pode nos ouvir, são aquelas histórias quase bobas que nos dão nós na garganta. São aqueles que te denunciam de cara, são aqueles diante dos quais não dá pra disfarçar. É muito mais honesto conversar com alguém cujo filme preferido é Um Sonho de Liberdade, com pessoas que não resistem ao Roberto Carlos e com gente que a-do-rou O Código da Vinci. E mais interessante também. Essas pessoas são as mesmas que provavelmente não vão saber explicar o porquê dessas escolhas e talvez não te convençam de coisa nenhuma, na verdade elas não querem te convencer de nada e exatamente por isso você vai querer ver os tais filmes e ler os tais livros. É claro que adoramos Paulinho da Viola e apreciamos um bom filme de autor. Mas quando a Irene Cara canta ao piano e quando os bailarinos invadem a rua pra dançar ao som da música-tema numa das cenas de Fame não tem pra ninguém!

11 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo, ótimo! Os pedantes de bom gosto são mesmo uns chatos... E como tem tantas bobagens maravilhosas, que nos dizem tanto!

Daniell Rezende disse...

E não é que hoje mesmo eu mencionei o Cidadão Kane?

Não, não é o meu filme preferido. E o Mark Twain tinha uma mais ou menos sobre isso que eu acho ótima:

"Os grandes escritores são como vinho. Eu não, eu sou água. Mas todo mundo bebe água."

Anônimo disse...

Vc tá certíssima, mas "Código da Vinci" foi demais... Pode até ser interessante, mas livro da vida acho que não... Acho que um "Pequeno Príncipe" cairia melhor ;-)

Anônimo disse...

E quando a noviça rebelde canta nas montanhas com as criancinhas Von Trap ???????

JULIANA disse...

Roberto Carlos é poeta!

Anônimo disse...

Roberto Carlos é O Rei !!!
rs

Eu nem acho Cidadão Kane isso tudo... Eu só lembro desse filme pq foi graças a ele que eu descobri Acossado...esse sim é o meu preferido!

Quando era adolescente, eu os vi uma sessão dupla - primeiro o CK (que eu tinha ido pra ver) e depois Acossado (que eu não conhecia)...

bruna disse...

E quem defende que Pequeno Principe é O livro? Essa pessoa só pode assisir à Notting Hill, já era.

Julieta disse...

é, esqueci do Pequeno Príncipe!
Quanto ao Acossado, em algum post eu dizia que "nunca entendi porque a Mônica queria ver um filme do Godard" mas não me prolongo para não causar controvérsias!

Anônimo disse...

Eu nem gosto de tudo que o Godard fez, tem coisas absolutamente incompreensíveis (e chatas)....mas tem algumas, como Acossado, que eu acho bem legal (não que eu entenda,rs...mas porque ter explicação pra tudo, não é mesmo?)
Po, prolongue sim! (curiosidade....)

Anônimo disse...

eu A-DO-RO pato laqueado!!!!!
e "grease" é o meu "fame"!!!!

Bruno Porto disse...

Isso sem falar no hoje irmão do Jack Bauer, então cabeludo, cantando Is it ok if I call you mine.

Errr... Grease conta?