Você acha que anda estressada e com muito trabalho e só se dá conta do quanto as coisas podem ser divertidas quando um casal de representantes de tecidos e aviamentos chineses vai até seu escritório e em pouco tempo você já sabe como os dois se conheceram e em menos tempo ainda eles já sabem quem eles vão convidar para a futura casa de Búzios para ensinar a surfar (e aí você se dá conta também do quanto as pessoas se acarioquizam facilmente).
Você acha que não consegue mais ser engraçada e quando menos espera tem alguém ao seu lado gargalhando porque você tenta convencer essa pessoa de que teve mais uma idéia genial que vai ajudar a salvar o mundo, tudo isso porque você não só descobriu como eliminar o mofo de casa como também passou a produzir água em quantidade graças à máquina desumidificadora que acumula de 5 a 10 litros de água proveniente da umidade do ambiente por noite. Sim, por noite, e do dia pra noite muito literalmente você descobre que fabrica água dentro do seu próprio quarto e os seus amigos acham que você faz piada quando diz que vai montar um negócio de venda de água ou que vai fornecer água pro Nordeste (isso antes de chegar na parte megalomaníaca da história quando você começa a traçar uma meta de convencer todos os moradores do Alto Leblon e Alto Jardim Botânico a desumidificarem suas casas e juntos salvarem o planeta e os sedentos).
Você acha que a sua professora de natação é uma cretina que só te elogia quando está prestes a te perder e no fim das contas você conclui que ela é somente carente e usa de clichês pra você não deixa-la, no que ela tem certa razão pois que a turma de quatro reduziu-se drasticamente a apenas você e ao mesmo tempo acha que ela não precisava pegar tão pesado e dizer que como-é-lindo-quando-você-nada-golfinho-,-você-tem-um-alongamento-perfeito, tudo isso porque você ameaçou largar o golfinho para sempre, mas enfim, cada um faz chantagem com o que pode.
Você acha que tornou-se uma pessoa desinteressante quando vai visitar um possível novo fornecedor em sua casa que faz as vezes de showroom e em pouco tempo essa pessoa diz que “vou botar um som” haha você ri meio nervosa porque você não está ali a passeio e a pessoa não é homem e nem sequer lembra a Madonna.
Você acha que está infeliz e no dia em que uma outra fornecedora vai te buscar chique e moderna em seu new beatle e começa a contar da mãe que sofre de um mal e de como ela e o irmão choraram a manhã toda e logo depois ela emenda na história da casa que pegou fogo... você quase chora só por solidariedade.
Você acha que é uma pessoa coerente e incapaz de cometer heresias até o dia em que se vê anotando números de pesquisas de concorrente do mercado de lingerie nas folhas de rosto de um livro de Jean-Paul Sartre.
Você acha que se deixa levar muito por conceitos de moda e até se deprime quando sem querer se pega dizendo coisas como montação ou fashionista ou bafón e então se depara com um ser que combina ankle boot com meia, short, blusa trapézio, corte desconectado bolsa vintage de corrente e óculos à la Curtindo a Vida Adoidado e até se benze de alívio de estar combinando sapatilha e vestido.
Você acha que virou celibatária por sua única e exclusiva incapacidade até que se dá conta de que grande parte da culpa é dos seus amigos e do nível de concentração e foco que você dispensa a eles e somente a eles e talvez a única maneira de remediar o caso seja brigar com algumas dessas pessoas que afinal te roubam de qualquer possibilidade de efetivamente sair com alguém que não eles.
Você acha que é metódica e organizada com certos assuntos até o exato momento em que recebe por email uma planilha da organização dos custos da compra comunitária na Amazon (!) da sua amiga dona do cartão de crédito.
Você acha prozac em tudo!
:: "(...) mas que era preciso sempre começar por enxergar a própria pata, o corpo antes da roupa, uma sentida descoberta antes da comunhão (...) não que eu fosse ingênuo a ponto de lhe exigir coerência, não esperava isso dela, nem arrotava isso de mim, tolos ou safados é que apregoam servir a um único senhor..." Raduan Nassar in Um Copo de Cólera.
4 comentários:
Você não devia ter me falado desse "Onde Andará Dulce Veiga"... agora eu fiquei com vontade de ver.
Se existe um filme que pode ser ainda pior que "Elvis Pelvis", eu preciso vê-lo.
É que eu me senti diminuído reclamando tanto de um filme que nem tem a Maitê Proença.
adorei
eu quase sempre te achei engracada
jules, golfinho é peito? pq se for eu cortei ele da minha vida!
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