terça-feira, fevereiro 14, 2012

Casa França Brasil


Anotei a hora que saí da sala de exposições, mas a verdade é que permaneci ali por muito mais tempo em meio às toras de madeira por onde passaram bailarinos entrelaçados, rolando no chão, com bocas grudadas nos pescoços de seus pares, olhos fechados naquela lentidão que o cinema usa pra indicar a proximidade do êxtase ou da morte, o que no fim dá no mesmo.

Senti borboletas no estômago, o que há muito não acontecia. Me agachei encostada à parede, a mão simbólica sobre o peito. Merda. Amar era assim: ficar fraca dos joelhos, vacilar e não poder explicar pra ninguém.

Aquela música me violava sem pressa, o público se deslocava pra acompanhar a ação do ballet e a minha mão subia em direção à boca, ansiosa por esconder o riso que denunciaria a minha confusão. Encontrei o chão e fiz percurso semelhante ao dos bailarinos em dupla, no meu ritmo mais lento, abraçada ao meu próprio vestido.

Devem ter me recolhido junto com a desmontagem da exposição. Tenho a lembrança dos olhares curiosos, de pés que desviavam do meu lento rolar, da música incessante que me fazia continuar naquela embriaguez, do cabelo que me borrava a cada volta.

Desse dia conservei o coração aos tropeços, o ingresso amassado, o vestido cheio de rasgos, essa loucura branda que me faz dançar quando não é hora e nem lugar.

2 comentários:

Gustavo disse...

Sensacional! Voce eh demais!

Julieta disse...

são seus olhos, Gustavo!