segunda-feira, novembro 05, 2012

Meus subúrbios


Tem essa tosse que vem de tempos em tempos. Explode junto com uma mancha rosada na bochecha. Todas as soluções disponíveis, das sementes ao silêncio, não vão resolver: a tosse é a tentativa de expulsão, ainda que você não esteja mais aqui. A mancha na bochecha, dizem, não tem cura. Como se alguma coisa tivesse. 

É lindo como os portugueses não usam gerúndio e precisam do infinitivo do verbo.  Outro dia, em aula, alguém disse: o infinito do verbo. Não só o texto, mas a palavra também: descosturada, a esfiapar: sem ponto de chegada. 

Tem essa tosse que me deixa sem voz, e ainda que eu quisesse conversar com alguém. Sem fala,  sem o seu barulho e sem o seu me enxergar: passo em branco, eventualmente acordo a chorar, como é que te deixei morrer assim? 

Implosão sobre travesseiros, saudade entranhada, lembranças que não desgrudam, e essa tosse a insistir na impossibilidade. Você, infinito: a única coisa que eu sei.