Instruído
pelas experiências de minha irmã, sou frequentemente tentado a responder com
orgulho “Sou um escritor”, quando me perguntam “O que você é?”. Mas raramente o
faço, porque não só é pretensiosamente tolo, como também incorreto – sinto-me
como um escritor somente quanto estou escrevendo. Então digo que sou
complicado. Gostaria ainda de acrescentar que não sou nada além de um
emaranhado de perguntas irrespondíveis, um feixe de outros.
Gostaria
de dizer que é muito cedo para saber.
Sasha Hemon,
no Livro das minhas vidas
A luz que entra pela sua janela de manhã é tão linda que parece que tudo em Gávea é superlativo: sou capaz de tomar três cafés da manhã com três pessoas com quem esbarro nas esquinas num mesmo sábado e ainda assim dormir tarde adentro. No dia seguinte meu pescoço está ameaçado pelos seus travesseiros que não têm a (minha) altura ideal. Comprei o rodo de pia e comecei uma coleção de coisas para te dar na volta – suas fotos apitam no celular e eu fico horas no sofá perdida em devaneios e no resumo de uma história complicada demais pra te escrever em aplicativos.
Já dá pra
começar uma contagem regressiva, já dá pra te alertar da possibilidade de você
cruzar com muitos grampos e fios de cabelo pelo caminho – na porta da frente
devem ter ficado alguns também. Desculpe-me, eu sou dada a quedas e pequenas
fugas.