Tenho percorrido supermercados, feiras e barraquinhas de
plantas atrás de vasinhos de temperos e ervas e hoje, ao perguntar a um sujeito
que tinha pimentas em abundância se por acaso ele teria hortelã a resposta foi
“não, mas tenho begônia” e eu fiquei pensando se era uma piada que eu tinha
perdido, ou só uma tentativa de compensar pelas coisas que a gente não
encontra.
Sinto os braços doloridos da ginástica, e outro dia, ao
ficar meio flutuando de cabeça para baixo e perceber como as outras 3 pessoas
ficaram me observando enquanto não conseguiam chegar na postura, fiquei
pensando sobre essas partes de nós que a gente não enxerga. Dançar é um pouco
assim. É claro, nem sempre, você sabe as linhas do balé e tem sempre um espelho
pra denunciar seu arabesque torto. Mas com as outras danças, as que eu gosto,
você dá forma ao corpo sem ver, e é só quem está do lado que pode avaliar se a
sua falta de jeito pode virar outra coisa. O tempo todo você dança com a
hipótese de uma “deformidade”, ou no mínimo de uma imagem inapreensível, e é
esse o motivo: descolar da cabeça essa busca por um movimento bonito, simétrico
ou belo, porque o que vale é o gesto.
Acho que é por isso, também, que pra mim é tão difícil me
desligar de algumas pessoas. No meu desktop ficou um arquivo inconcluído
chamado “é menos você no mundo”. Foi uma conversa com C. Falávamos de alguém
que morreu, mas com os vivos também é assim, porque o outro tem uma parte de
nós que só ele tem, que só existe com ele. E a gente vai perdendo pedaços. Sei
que isso não deveria servir como justificativa para certas reincidências. Mas
serve. Tenho medo de perder pedaços que eu ainda nem sei direito que cara têm.
Acho que é por isso, também, que talvez a oferta de begônias faça mais sentido
do que pareça.
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