Foram bonitos todos os sorrisos de Stela que vi
esses dias, tanta festa que já não sei mais que tamanhos em que lugares, mas
todos largos. Foi bonito quando Maria chegou de chapéu e sacolas, e logo Ana
veio da outra direção carregada, e foi bonito quando abrimos os primeiros
papeis coloridos sobre a calçada. Foi bonito o moço descarregando o caminhão e
logo dando forma a barraquinhas, que logo ganharam enfeites, flores, corações,
milhos, cheiros e calor. Foi bonito quando apareceu a moça com
vassoura e pá e foi varrendo e recolhendo folhas, sobretudo, foi bonito juntar
gente que puxou fios, emprestou energia, deu palpite. Foi bonito Claudia
amarrando chitas e prendendo fitas em parede de plantas, foi bonito cada carro
que parou pra perguntar se ia ter festa. Foi bonito a Juliana com tanto
sorriso, apesar de. Foi bonito o moço da padaria perguntando se ia ter comida
típica. Foi bonito o Dado no alto da escada e uns tantos pescoços curvados para
trás, olhos e expectativa de que o fio carregado de lâmpadas desse. Foi bonito
o céu naquele dia, e foi bonito todo mundo de braços esticados nas pontas dos
pés erguendo e protegendo as bandeirinhas, que iam de calçada a calçada, dos carros que
passavam. Foi bonito a Edna gostando de todos os jovens da rua.
Foi bonito quando Julia e Miguel chegaram bem caipiras com cachaça em
punho, e logo atrás outro e outro e outro. Foi bonito quando acenderam a luz e
a noite caiu. Foi bonito aquele grupo de cães confortavelmente esparramados na
rua, e também o cumprimento caloroso do cãozinho que vinha no colo da Fátima.
Foi bonito o tráfego de carrinho de bebês, as crianças vestidas de Homem Aranha,
os cachinhos de Martim. Foi bonito quando Rosana e Bernardo e Fefê no colo saíram às pressas porque a sobrinha ia nascer. Foi bonito o trio tocando música, a pista de dança improvisada. Foi bonita a fila da cerveja, o pão quando acabou, o
último queijo coalho compartilhado. Foi bonito o forró com o André e seu
suspensório, foi bonito o menininho de 7 anos que tentava levar novos
pescadores para a barraca das brincadeiras. Foi bonita cada alegria de quem
apareceu, especialmente a da lua, e foi bonito quem elogiou até o ângulo, vocês
pensaram em tudo mesmo, disse. E a dança das cadeiras e o empenho, a Mari pulando por cima de todos. Foi bonita a quadrilha
que chegou quase na rua ao lado de tanta gente, aquele túnel que parecia não
ter fim, a cavalgada que parecia carrinho de bate-bate, foi bonito o Marcelo gritando pra Ana o que ainda faltava dançar, foi bonito a Ana no
microfone e só faltou ela cantar. Foi bonito o
jeito que o Gregório deu pra casar uma galera: duplas, trios, beijos e risadas.
Foi bonito 3 ou 4 pessoas assistindo de camarote da janela do prédio.
Foi tão
tão bonito quando a moradora mais antiga da rua, de bengala em punho, apareceu
para falar, e tinha gente que nem sabia que ela já tinha aparecido mais cedo
pra ver os preparativos. Foi de chorar, na verdade.
Foi bonito aquele palco que
fizemos e que recebeu família, amigo, amor e bicho. Foi bonita toda despedida. Foi
bonito o alívio de tudo ter sido assim, e foi bonito quando a moça voltou com
a vassoura e a pá, ainda que um pouquinho triste. As barraquinhas já
vazias, a Maria já com frio, todo mundo já com fome, o Dado no alto da escada
outra vez. O Alexandre pegando o carrinho pra carregar a tralha pra casa da Ana.
A dona Vilma sugerindo fazer de novo amanhã.
Foram bonitos todos os sorrisos de Stela que vi esses
dias, largos como todos os que se abriram naquele arraiá, e depois nós 4 deitados na sala sem saber como acabar, o cheiro da folha de
mirra no portão, foi bonito todo mundo querer mais. Foi bonito quando o moço da
padaria perguntou, também, se ia ter forró e poesia e eu disse que sim e que não, mas afinal teve, não é? Foi bonito ter
poesia. Foi bonita a festa.