segunda-feira, junho 20, 2016

Havia dias em que eu escrevia tanto a seu respeito que ele já não era muito real, de modo que, se de repente eu ficava face a face com ele numa rua, ele parecia mudado. Eu tinha conseguido drená-lo de sua substância, eu pensava, e preenchido meu caderno com aquilo, o que significava que em certo sentido eu o matara. Mas então, quando voltava para casa, a substância parecia estar nele mais um vez, onde quer que ele estivesse, porque o que agora estava vazio e sem vida era o que eu escrevera.


Lydia Davis, O fim da história (José Olympio, 2016, tradução de Julián Fuks)


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