O livro de C. ficou sobre a mesa de cabeceira, quatro
marcadores de páginas indicando os meus poemas preferidos. Volto a ele, dois
meses depois, é assim que gosto de ler poesia, e é talvez por isso que tenho
gostado cada vez mais de ler poesia: as palavras ali têm permanência, como em
qualquer outro texto, é claro, mas parecem adquirir certa característica
mutante, conforme o momento. O boletim meteorológico, o mergulho no mar à
tarde, um longo intervalo ocasionado por uma viagem. Intervalos curtos ou
demorados de tempo operam mudanças drásticas na minha relação com versos. Hoje,
por exemplo, teria colocado marcadores de páginas em outros cinco poemas, e já
me pergunto como deixei passar. Talvez precisasse marcar o livro todo. Não sei
exatamente o que isso diz de mim. Ou se diz mais de C., que mal conheço, e que
gostaria de conhecer mais, de finalmente tomar aquele café, viajar para Atafona,
ou encontrá-la de novo perto do mar e de uma fogueira, numa festa duvidosa –
mas que todos vão amar – em Paraty.
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