(ou "A nostalgia pós serra")
Quem fica velho? A gente, as coisas ou o tempo? O que que vira saudade? Os lugares, as pessoas, os cheiros, os sentimentos ou as transformações de tudo isso? Quantos destinos nostálgicos, quanta poeira sai de uma foto, quanto mofo ficou dentro da caixinha, quantas cores a memória ainda consegue ver? Parece que foi ontem, parece que foi há anos atrás, parece que foi numa outra vida de tão longe, mas se fechar os olhos eu ainda ouço o barulho que o chão de madeira da cozinha fazia, escuto as bolas de tênis errando a rede, escuto os cães latindo à noite, escuto as musiquinhas do Nintendo e ela se acelerando porque o Mario pegou uma estrela que lhe tornava imortal. Quantas horas eu gastei tentando derrotar os dragões dos castelos, quantas caixas de bombom azuis, quantos campeonatos de ping-pong, quantos campeonatos de estrela, de desfile, de penteados, quantas conversas com os duendes, sim, duendes, ninguém nem sabia o que era maconha, mas a gente tinha certeza de que os baixinhos de chapéu habitavam a árvore que ficava perto do balanço de madeira, que por sua vez ficava próxima à escadinha que nos levava à capela e à quadra de tênis, e naquele tempo eu ainda “jogava” tênis, tinha uma raquete Prince e errava mais ou menos todas as bolas. Preferia ensaiar as peças de teatro que apresentávamos durante a páscoa, me empenhava nos diálogos e nas roupas, ignorando portanto, todo e qualquer sinal que a vida me mostrava todo dia (profissionalmente falando). Recebíamos aplausos da nossa platéia fiel, nossos pais, quando estes ainda eram mesmo nossos pais, e não o contrário, e dormíamos cedo, depois de alguns pães com requeijão que novamente devorávamos no café da manhã. Inventávamos brincadeiras que duravam dias, fazíamos cama de edredons e se fôssemos esquecidas naquela casa cheia de quartos acho que não nos daríamos conta. A vida era boa no meio de um jardim imenso com estátuas que nos assustavam de noite. Quantas vezes improvisamos tobogãs na colina, queimado, bobinho, pulamos corda, elástico. Quantas risadas cabem numa casa cheia? Quantos anos se passaram desde a primeira vez em que passamos batom, com 13 ou 14 anos, para irmos à boate? Quantas músicas cantamos, quantas vezes nos escondemos do juizado no banheiro, quantas noites dançamos até sei lá, quantos dias seguintes sem ressaca (ah, que delícia!), quantos copos de coca-cola bebíamos? Quanto tempo faz desde o primeiro cigarro escondido, desde as tardes de compras, dos bolos com calda de chocolate, dos filmes de comédia? Quantas canções podem contar anos das nossas vidas? Quantas vezes entramos no carro ao som de Eagle-Eye e rumamos pra cachoeira do Vale, quantas vezes frio depois da cachoeira, quanto tempo faz? Quanto tempo... parece que foi ontem, parece uma outra história, parece que dói às vezes de tanta saudade. As lembranças vêm em turbilhões e quando eu paro pra pensar em tantas épocas e tantas histórias guardadas e em como aquela casa virou um baú que volta e meia me espreita. Me assusto com a quantidade de detalhes que ainda trago na mala. Algumas coisas, quando bem conservadas, são como a estrelinha do Mario.
:: ouvindo Eagle-Eye Cherry “come tomorrow/ tomorrow I’ll be gone” música tema dos tempos da calça colorida...
2 comentários:
No fundo , no fundo, todo mundo tem as mesmas dores, as mesmas melancolias, né ???
êta nostalgia!
tô toda arrepiada aqui.
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