quarta-feira, maio 09, 2007

Pra sinalizar o estar de cada coisa

Primeiro tentou o bar, que era o lugar mais certo. Procurou com olhos de águia e o garçom confirmou: ele não estava lá. Já estava tarde, continuou a busca no dia seguinte. Tentou a padaria poucos minutos depois da primeira fornada, na sobremesa do almoço comeu carolinas de creme e o sol já ia longe quando ela foi pra casa carregando um pacote de sonhos. Era domingo e o sol a levou às praias, muitas, caminhou sem pressa no limite onde a espuma vinha refrescar os pés, sorvete de manga e uma água de côco no quiosque de costume mas ele não havia sequer passado por ali. Na segunda-feira tentou a livraria e entre um café e outro folheou poemas e ensaios e fazia tempo que os livreiros não o viam entrar. Pela banca de jornal ele também não passava há dias. Então arriscou lugares improváveis. Na quarta-feira foi ao Planetário da cidade e ele não estava entre as constelações. Mais cedo estivera no museu do Segundo Reinado e não o encontrara. No dia seguinte ele também não estava no concerto do Teatro Municipal. No dia em que uma semana de busca se completaria ela foi ao Shopping e não cruzou com ele nas escadas rolantes e nem mais tarde na sala escura do cinema, e ela o saberia mesmo num blecaute. Os dias se passavam e ela não desistia. Foi à Feira de Antiguidades, às rodas de samba da Lapa, foi aos centros culturais do Centro Histórico, percorreu pequenas ruelas, subiu as ladeiras de Santa Teresa e quando chegou ao topo ele não estava. Freqüentou diversos cineclubes e até algumas reuniões de grupos de apoio, doou sangue regularmente, descobriu os sebos de Copacabana. Assistiu belas apresentações de choro, finalmente conheceu Parati e aprendeu a dançar, mas ele não estava na gafieira para aplaudir seu début. Começou a nadar, praticou meditação e foi a melhor aluna das aulas de culinária. Foi aos restaurantes da moda e também aos mais tradicionais bares da cidade. Matriculou-se nas aulas de artes e fez um curso de tradução simultânea, mas não o achava por lá. Trabalhou numa grande empresa, mudou-se para o Horto e cultivou um jardim que ele nunca ia ver. Fez curso de fotografia, aprendeu alemão e começou a estudar política internacional. Descobria tantas coisas novas e interessantes que aos poucos esquecia de procura-lo em todo canto. Foi só quando resolveu aprender esgrima que finalmente o encontrou. Era a primeira aula de ambos e num impulso que culminou em golpe desajeitado ela lhe enfiou a espada pela barriga. Ele caiu duro no chão e ela então reparou: ele não sangrava.

:: "Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone" in Esquadros

10 comentários:

Anônimo disse...

Se eu comentar agora, corre o risco de ficar igual aos comentários da isabel. Vou esperar um pouco.

Paula disse...

eu aposto que na aula de esgrima, ela já nem lembrava mais quem procurava...

Anônimo disse...

"De noite, eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar."

Anônimo disse...

Exatamente esta parte da letra que vc grifou fez a Sonia Braga, a atriz, repensar e voltar para o Brasil, isso para bem e para o mal!

bruna disse...

adoro Esquadros. E a parte dos sonhos da padaria!

Anônimo disse...

perai, como assim, carol salomão???? qual o problema dos meus comentários????

te pego na saído do colégio, hein mermão, não se mete comigo não!!!!

Anônimo disse...

pq n furou os olhos??? deu certo com o édipo!!!!

Julieta disse...

Sonia Braga??? gente, isso aqui ta ficando esquisito...

Bruno Porto disse...

clap clap clap

aê, gostei

beijo

Anônimo disse...

tiro o chapéu, comadre.