Primeiro tentou o bar, que era o lugar mais certo. Procurou com olhos de águia e o garçom confirmou: ele não estava lá. Já estava tarde, continuou a busca no dia seguinte. Tentou a padaria poucos minutos depois da primeira fornada, na sobremesa do almoço comeu carolinas de creme e o sol já ia longe quando ela foi pra casa carregando um pacote de sonhos. Era domingo e o sol a levou às praias, muitas, caminhou sem pressa no limite onde a espuma vinha refrescar os pés, sorvete de manga e uma água de côco no quiosque de costume mas ele não havia sequer passado por ali. Na segunda-feira tentou a livraria e entre um café e outro folheou poemas e ensaios e fazia tempo que os livreiros não o viam entrar. Pela banca de jornal ele também não passava há dias. Então arriscou lugares improváveis. Na quarta-feira foi ao Planetário da cidade e ele não estava entre as constelações. Mais cedo estivera no museu do Segundo Reinado e não o encontrara. No dia seguinte ele também não estava no concerto do Teatro Municipal. No dia em que uma semana de busca se completaria ela foi ao Shopping e não cruzou com ele nas escadas rolantes e nem mais tarde na sala escura do cinema, e ela o saberia mesmo num blecaute. Os dias se passavam e ela não desistia. Foi à Feira de Antiguidades, às rodas de samba da Lapa, foi aos centros culturais do Centro Histórico, percorreu pequenas ruelas, subiu as ladeiras de Santa Teresa e quando chegou ao topo ele não estava. Freqüentou diversos cineclubes e até algumas reuniões de grupos de apoio, doou sangue regularmente, descobriu os sebos de Copacabana. Assistiu belas apresentações de choro, finalmente conheceu Parati e aprendeu a dançar, mas ele não estava na gafieira para aplaudir seu début. Começou a nadar, praticou meditação e foi a melhor aluna das aulas de culinária. Foi aos restaurantes da moda e também aos mais tradicionais bares da cidade. Matriculou-se nas aulas de artes e fez um curso de tradução simultânea, mas não o achava por lá. Trabalhou numa grande empresa, mudou-se para o Horto e cultivou um jardim que ele nunca ia ver. Fez curso de fotografia, aprendeu alemão e começou a estudar política internacional. Descobria tantas coisas novas e interessantes que aos poucos esquecia de procura-lo em todo canto. Foi só quando resolveu aprender esgrima que finalmente o encontrou. Era a primeira aula de ambos e num impulso que culminou em golpe desajeitado ela lhe enfiou a espada pela barriga. Ele caiu duro no chão e ela então reparou: ele não sangrava.
:: "Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone" in Esquadros
10 comentários:
Se eu comentar agora, corre o risco de ficar igual aos comentários da isabel. Vou esperar um pouco.
eu aposto que na aula de esgrima, ela já nem lembrava mais quem procurava...
"De noite, eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar."
Exatamente esta parte da letra que vc grifou fez a Sonia Braga, a atriz, repensar e voltar para o Brasil, isso para bem e para o mal!
adoro Esquadros. E a parte dos sonhos da padaria!
perai, como assim, carol salomão???? qual o problema dos meus comentários????
te pego na saído do colégio, hein mermão, não se mete comigo não!!!!
pq n furou os olhos??? deu certo com o édipo!!!!
Sonia Braga??? gente, isso aqui ta ficando esquisito...
clap clap clap
aê, gostei
beijo
tiro o chapéu, comadre.
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