Era a aula de química, ele olhava pela janela e pensava para então quase enterrar a cabeça no caderno que só tinha poesia. Depois ele a chamava, ela lia, fazia carinho em sua cabeça até ele quase adormecer, e então despertava e dizia que a amava enquanto rabiscava coisas no seu caderno, coisas que não eram dele, músicas que ele não compôs e essas músicas ficaram irremediavelmente associadas a ele. De tudo o que mudou, uma coisa não volta atrás: ainda nos amamos. E é ouvir Sereníssima pra lembrar daqueles dias.
Era depois de algum programa e a gente chegava em casa e ligava o computador para continuar a conversa, porque a gente tinha muuuuito assunto e era mais divertido falar tudo por ICQ. E ela era a última tecnologia em pessoa e o meu computador era provavelmente um Itautec falido, empacava e não havia reza que desse jeito. Eu telefonava baixinho de madrugada e citava U2: you’ve got stuck in a moment you can’t get out of, mas não era ela, era a minha máquina na verdade. E toda vez que o Bono diz que You’ve got to get yourself together é a cara dela que vem à cabeça. E até hoje quando escuto Sarah McLachlan dizer que o amor dele é melhor que sorvete... é batata! Ela de novo.
Era de manhã, o ventilador do teto ligado e ele sempre queria que eu ficasse mais um pouco, eu nunca fiquei, mas a voz de Maria Bethânia amanhecendo uma Tarde em Itapoã meio melancólica é o tema do fim da nossa história que nunca foi trágica nem eufórica, foi apenas uma história cuja trilha sonora eu mesma providenciei. E toda vez que a escuto cantar Vinícius é dele que lembro, da vitrola no canto do quarto, do ventinho sobre os lençóis.
Era domingo, às vezes tinha ressaca, às vezes ficava nublado e sempre combinava aquele cd, aquela voz cheia de efeitos e era ela quem dizia que Moby tinha tudo a ver com a véspera de segunda, uma mood música e sempre que escuto os primeiros barulhinhos de Porcelain eu já sei que é dela que vou lembrar.
Era pós chope com os amigos, provavelmente o Baixo Gávea e a gente entrava no Peugeot de algum deles e tentávamos decidir se íamos esticar a conversa no Jobi ou no Diagonal and just when it hit me somebody turned around and shouted play that funky music white boy, ele aumentava o som, todo mundo cantava e sentia certa saudade de quando era jovem e resolvíamos ir pra casa mesmo. E uma vez por ano quando um deles dá uma festa de aniversário dançam sem parar e em rodinha til they die, e não conseguem mais ouvir a tal música sem se lembrarem um dos outros.
Eram os anos 90, eles achavam que seriam amigos pra sempre, o maior hit da banda dele era a música do sujeito que tinha um cachorro que se chamava João que comia banana e dormia no chão. Ele comprou um golden que se chamava Rock and Roll, ela arranjou um poodle que realmente se chamava João e os dois quase brigaram porque ele roubou a rilha sonora de That Thing You Do que ela tinha. E embora quase não escute mais essas músicas, quando as palmas do hit do The Wonders começam ela lembra dos seus cachinhos dourados que queriam ser um rock star, e também achavam que ela devia ser uma...
Era a última aula do dia, sala quente perto da praia, um gole rápido de água porque emendava ballet-sapateado-contemporâneo e ele mandava todo mundo deitar no chão e aquela voz suave numa melodia que só servia de fundo para os alongamentos e ela pedia e então ele deixava Aimee Mann cantar mais um pouco and so for the sake of momentum ela deixava seus medos ficarem mais largos que a vida e dançava. E sempre que escuta o disco lembra dele, dos relaxamentos do fim das aulas malucas em que corriam e riam feito doidos.
Era num inferninho enfumaçado, todo mundo apertado e feliz, o chão parecia que ia desabar mas não importava. A gente já quase sabia a ordem das músicas e também não importava, no fundo era ótimo, enfrentávamos a fila do banheiro sem correr risco de perder Lobão e os Ronaldos iluminando um céu cinzento. Até o dia em que a gente preparava o fôlego para o Pixies que começava e coincidentemente entrava na pista ele, Here comes your man, mas ele já não era mais meu e a gente ria, não era tão engraçado mas tinha caipirinha, coração partido e logo depois tinha Pretenders back on the chain gang. It brings me to my knees de ver como nos afastamos, mas toda vez que o shuffle do itunes cai nessa música é para elas que quero telefonar com aquele velho celular que não tirava fotos.
Sim, algumas coisas até que continuam iguais, o caos segue em frente com toda a calma do mundo, I’m just trying to find a decent melody, a song that I can sing, my own company. Ainda sinto preguiça no corpo, in my dreams eu às vezes morro o tempo todo, a gente ainda acha que should go back there pra ver se eles continuam dançando e cantando e movin’ to the groovin’, gosto de acreditar que we’ll be happy can’t you see?. E eu sei que life is getting shorter, que essas pessoas talvez não permaneçam para criarem novas lembranças em novos tons, que talvez seja como os Beatles cantavam, there are places I remember...
Essas músicas ficaram irreversivelmente ligadas a essas pessoas, isso sem falar das outras. Foi num dia desses de reorganizar os discos e as caixas, I found a picture of you. Those were the happiest days of my life.
Era domingo, às vezes tinha ressaca, às vezes ficava nublado e sempre combinava aquele cd, aquela voz cheia de efeitos e era ela quem dizia que Moby tinha tudo a ver com a véspera de segunda, uma mood música e sempre que escuto os primeiros barulhinhos de Porcelain eu já sei que é dela que vou lembrar.
Era pós chope com os amigos, provavelmente o Baixo Gávea e a gente entrava no Peugeot de algum deles e tentávamos decidir se íamos esticar a conversa no Jobi ou no Diagonal and just when it hit me somebody turned around and shouted play that funky music white boy, ele aumentava o som, todo mundo cantava e sentia certa saudade de quando era jovem e resolvíamos ir pra casa mesmo. E uma vez por ano quando um deles dá uma festa de aniversário dançam sem parar e em rodinha til they die, e não conseguem mais ouvir a tal música sem se lembrarem um dos outros.
Eram os anos 90, eles achavam que seriam amigos pra sempre, o maior hit da banda dele era a música do sujeito que tinha um cachorro que se chamava João que comia banana e dormia no chão. Ele comprou um golden que se chamava Rock and Roll, ela arranjou um poodle que realmente se chamava João e os dois quase brigaram porque ele roubou a rilha sonora de That Thing You Do que ela tinha. E embora quase não escute mais essas músicas, quando as palmas do hit do The Wonders começam ela lembra dos seus cachinhos dourados que queriam ser um rock star, e também achavam que ela devia ser uma...
Era a última aula do dia, sala quente perto da praia, um gole rápido de água porque emendava ballet-sapateado-contemporâneo e ele mandava todo mundo deitar no chão e aquela voz suave numa melodia que só servia de fundo para os alongamentos e ela pedia e então ele deixava Aimee Mann cantar mais um pouco and so for the sake of momentum ela deixava seus medos ficarem mais largos que a vida e dançava. E sempre que escuta o disco lembra dele, dos relaxamentos do fim das aulas malucas em que corriam e riam feito doidos.
Era num inferninho enfumaçado, todo mundo apertado e feliz, o chão parecia que ia desabar mas não importava. A gente já quase sabia a ordem das músicas e também não importava, no fundo era ótimo, enfrentávamos a fila do banheiro sem correr risco de perder Lobão e os Ronaldos iluminando um céu cinzento. Até o dia em que a gente preparava o fôlego para o Pixies que começava e coincidentemente entrava na pista ele, Here comes your man, mas ele já não era mais meu e a gente ria, não era tão engraçado mas tinha caipirinha, coração partido e logo depois tinha Pretenders back on the chain gang. It brings me to my knees de ver como nos afastamos, mas toda vez que o shuffle do itunes cai nessa música é para elas que quero telefonar com aquele velho celular que não tirava fotos.
Sim, algumas coisas até que continuam iguais, o caos segue em frente com toda a calma do mundo, I’m just trying to find a decent melody, a song that I can sing, my own company. Ainda sinto preguiça no corpo, in my dreams eu às vezes morro o tempo todo, a gente ainda acha que should go back there pra ver se eles continuam dançando e cantando e movin’ to the groovin’, gosto de acreditar que we’ll be happy can’t you see?. E eu sei que life is getting shorter, que essas pessoas talvez não permaneçam para criarem novas lembranças em novos tons, que talvez seja como os Beatles cantavam, there are places I remember...
Essas músicas ficaram irreversivelmente ligadas a essas pessoas, isso sem falar das outras. Foi num dia desses de reorganizar os discos e as caixas, I found a picture of you. Those were the happiest days of my life.
:: ouvindo as matching-músicas
16 comentários:
Julinha, não consegui identificar alguns posts (nem olhando por uns 5 min sem piscar para algumas fotos) mas acho que isso deve ser proposital, hehehehe.
Mesmo assim adorei!
bjsss
Beta
Ps. post de prvedor foi de mais!
Mas e o kung-fu fighting? Hu!
peraí, é uma música para cada amigo?? a minha é a do white boy???
Putz, Bebel...até eu sei qual é a sua!
"In my dreams I'm dying all the time..."
"In my dreams I'm dying all the time" é da Fê!!!!
Aaah então, realmente eu não sei qual é a da Bel.
Talvez "play the funky music, white boy" seja de todos nós!
É,é isso.
Julinha eu podia escrever um post inteiro só de músicas que me lembram você. Na verdade, a maioria são músicas que você me ajudou a lembrar né? hahahaha Como é aquela música que diz "eu vou estar lá por você", hein?? hahahahha Que divertido lembrar dessas coisas! beijoos
acho q a do white boy é só minha, carol!!!!!!!
Não, não Bebel. Leia o parágrafo dessa música. Você verá que se trata de amigoS. Sem contar que eu e julia conversamos sobre essa música recentemente. Eu a trouxe à tona. Sorry, beibe. Descobre aí qual é a tua!
preciso de uma sessão de análise.
Hahahahaha!
Acho que a julia quis economizar parágrafos e fez um para marcelo, eu e vc em um só. Descubra uma analista que atenda grupos!
caracas, que mesquinha!!!!
eu exijo um parágrafo só pra mim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Nesse caso, reivindico o meu também. Everybody was kung-fu fighting, afinal! Hu!
hahahaahhaahahhaah suas bocós! É uma música para os três mesmo, vou providenciar dois parágrafos adicionais. Afinal de contas, everybody was kung-fu fighting e a gente tem que Hang on little tomato!
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