terça-feira, novembro 20, 2007

Dedicado:

(às pessoas das fotos)

Era a aula de química, ele olhava pela janela e pensava para então quase enterrar a cabeça no caderno que só tinha poesia. Depois ele a chamava, ela lia, fazia carinho em sua cabeça até ele quase adormecer, e então despertava e dizia que a amava enquanto rabiscava coisas no seu caderno, coisas que não eram dele, músicas que ele não compôs e essas músicas ficaram irremediavelmente associadas a ele. De tudo o que mudou, uma coisa não volta atrás: ainda nos amamos. E é ouvir Sereníssima pra lembrar daqueles dias.

Era depois de algum programa e a gente chegava em casa e ligava o computador para continuar a conversa, porque a gente tinha muuuuito assunto e era mais divertido falar tudo por ICQ. E ela era a última tecnologia em pessoa e o meu computador era provavelmente um Itautec falido, empacava e não havia reza que desse jeito. Eu telefonava baixinho de madrugada e citava U2: you’ve got stuck in a moment you can’t get out of, mas não era ela, era a minha máquina na verdade. E toda vez que o Bono diz que You’ve got to get yourself together é a cara dela que vem à cabeça. E até hoje quando escuto Sarah McLachlan dizer que o amor dele é melhor que sorvete... é batata! Ela de novo.

Era de manhã, o ventilador do teto ligado e ele sempre queria que eu ficasse mais um pouco, eu nunca fiquei, mas a voz de Maria Bethânia amanhecendo uma Tarde em Itapoã meio melancólica é o tema do fim da nossa história que nunca foi trágica nem eufórica, foi apenas uma história cuja trilha sonora eu mesma providenciei. E toda vez que a escuto cantar Vinícius é dele que lembro, da vitrola no canto do quarto, do ventinho sobre os lençóis.

Era domingo, às vezes tinha ressaca, às vezes ficava nublado e sempre combinava aquele cd, aquela voz cheia de efeitos e era ela quem dizia que Moby tinha tudo a ver com a véspera de segunda, uma mood música e sempre que escuto os primeiros barulhinhos de Porcelain eu já sei que é dela que vou lembrar.

Era pós chope com os amigos, provavelmente o Baixo Gávea e a gente entrava no Peugeot de algum deles e tentávamos decidir se íamos esticar a conversa no Jobi ou no Diagonal and just when it hit me somebody turned around and shouted play that funky music white boy, ele aumentava o som, todo mundo cantava e sentia certa saudade de quando era jovem e resolvíamos ir pra casa mesmo. E uma vez por ano quando um deles dá uma festa de aniversário dançam sem parar e em rodinha til they die, e não conseguem mais ouvir a tal música sem se lembrarem um dos outros.

Eram os anos 90, eles achavam que seriam amigos pra sempre, o maior hit da banda dele era a música do sujeito que tinha um cachorro que se chamava João que comia banana e dormia no chão. Ele comprou um golden que se chamava Rock and Roll, ela arranjou um poodle que realmente se chamava João e os dois quase brigaram porque ele roubou a rilha sonora de That Thing You Do que ela tinha. E embora quase não escute mais essas músicas, quando as palmas do hit do The Wonders começam ela lembra dos seus cachinhos dourados que queriam ser um rock star, e também achavam que ela devia ser uma...

Era a última aula do dia, sala quente perto da praia, um gole rápido de água porque emendava ballet-sapateado-contemporâneo e ele mandava todo mundo deitar no chão e aquela voz suave numa melodia que só servia de fundo para os alongamentos e ela pedia e então ele deixava Aimee Mann cantar mais um pouco and so for the sake of momentum ela deixava seus medos ficarem mais largos que a vida e dançava. E sempre que escuta o disco lembra dele, dos relaxamentos do fim das aulas malucas em que corriam e riam feito doidos.

Era num inferninho enfumaçado, todo mundo apertado e feliz, o chão parecia que ia desabar mas não importava. A gente já quase sabia a ordem das músicas e também não importava, no fundo era ótimo, enfrentávamos a fila do banheiro sem correr risco de perder Lobão e os Ronaldos iluminando um céu cinzento. Até o dia em que a gente preparava o fôlego para o Pixies que começava e coincidentemente entrava na pista ele, Here comes your man, mas ele já não era mais meu e a gente ria, não era tão engraçado mas tinha caipirinha, coração partido e logo depois tinha Pretenders back on the chain gang. It brings me to my knees de ver como nos afastamos, mas toda vez que o shuffle do itunes cai nessa música é para elas que quero telefonar com aquele velho celular que não tirava fotos.

Sim, algumas coisas até que continuam iguais, o caos segue em frente com toda a calma do mundo, I’m just trying to find a decent melody, a song that I can sing, my own company. Ainda sinto preguiça no corpo, in my dreams eu às vezes morro o tempo todo, a gente ainda acha que should go back there pra ver se eles continuam dançando e cantando e movin’ to the groovin’, gosto de acreditar que we’ll be happy can’t you see?. E eu sei que life is getting shorter, que essas pessoas talvez não permaneçam para criarem novas lembranças em novos tons, que talvez seja como os Beatles cantavam, there are places I remember...

Essas músicas ficaram irreversivelmente ligadas a essas pessoas, isso sem falar das outras. Foi num dia desses de reorganizar os discos e as caixas, I found a picture of you. Those were the happiest days of my life.
:: ouvindo as matching-músicas

16 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Julinha, não consegui identificar alguns posts (nem olhando por uns 5 min sem piscar para algumas fotos) mas acho que isso deve ser proposital, hehehehe.
Mesmo assim adorei!
bjsss
Beta
Ps. post de prvedor foi de mais!

Anônimo disse...

Mas e o kung-fu fighting? Hu!

Anônimo disse...

peraí, é uma música para cada amigo?? a minha é a do white boy???

Anônimo disse...

Putz, Bebel...até eu sei qual é a sua!
"In my dreams I'm dying all the time..."

Julieta disse...

"In my dreams I'm dying all the time" é da Fê!!!!

Julieta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Aaah então, realmente eu não sei qual é a da Bel.
Talvez "play the funky music, white boy" seja de todos nós!
É,é isso.

Anônimo disse...

Julinha eu podia escrever um post inteiro só de músicas que me lembram você. Na verdade, a maioria são músicas que você me ajudou a lembrar né? hahahaha Como é aquela música que diz "eu vou estar lá por você", hein?? hahahahha Que divertido lembrar dessas coisas! beijoos

Anônimo disse...

acho q a do white boy é só minha, carol!!!!!!!

Anônimo disse...

Não, não Bebel. Leia o parágrafo dessa música. Você verá que se trata de amigoS. Sem contar que eu e julia conversamos sobre essa música recentemente. Eu a trouxe à tona. Sorry, beibe. Descobre aí qual é a tua!

Anônimo disse...

preciso de uma sessão de análise.

Anônimo disse...

Hahahahaha!
Acho que a julia quis economizar parágrafos e fez um para marcelo, eu e vc em um só. Descubra uma analista que atenda grupos!

Anônimo disse...

caracas, que mesquinha!!!!
eu exijo um parágrafo só pra mim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Nesse caso, reivindico o meu também. Everybody was kung-fu fighting, afinal! Hu!

Julieta disse...

hahahaahhaahahhaah suas bocós! É uma música para os três mesmo, vou providenciar dois parágrafos adicionais. Afinal de contas, everybody was kung-fu fighting e a gente tem que Hang on little tomato!