sexta-feira, junho 20, 2008

A história que eu não contei ao telefone

Depois de finalizar as artes, deixei as impressões no silk de sempre. Rose perguntou como estavam as coisas no trabalho, fazia um tempão que eu não aparecia por lá. Eu disse que tinha saído do trabalho e já esperava a pergunta fatídica: e está aonde agora? De férias, respondi. Ela perguntou se eu ia pra alguma outra marca, eu disse que por enquanto não e ela disse que eu devia ir pra uma determinada marca, que eles estão crescendo muito, que tiveram de mudar o escritório de lugar (São Cristóvão, provavelmente) porque estão contratando muita gente e que eu deveria ir pra lá porque afinal eu sou tão competente (palavra dela). Ela disse que me daria os contatos, eu agradeci e fingi achar ótima a idéia (às vezes é melhor achar ótimas as idéias que os outros têm pra gente do que explicar...).

No dia seguinte cruzei com ela, a Rose, que tomava café na padaria. Ela perguntou o que eu fazia tão cedo ali e eu disse que vinha da fisioterapia que era no prédio ao lado (e na mesma rua do silk). Ela perguntou se eu fazia o tratamento com “aqueles dois rapazes”, eu disse que não, ela perguntou o que eu tinha, eu disse coluna ruim e ela disse que fez um período de reabilitação com os tais dois rapazes que você sabe, né Julia, eu fico muito tempo fazendo as artes lá na loja no computador, eu desenho muito e tive L.E.R sabe? Doía do pulso ao cotovelo, menina, eu tive até cárie porque não conseguia escovar o dente de tanta dor no braço! Ela disse que me daria os contatos dos dois rapazes que eles eram muito bons, eu agradeci (algumas coisas é melhor não discutir pois a conversa pode se estender para além do desejado).

No terceiro dia fui buscar algumas das telas que estavam prontas e ela perguntou se eu tinha ido aos desfiles, eu disse que não, ela me chamou pra ver as fotos de uma marca para a qual ela tinha feito as estampas. Muito orgulhosa e sorridente ela me mostrou diversas imagens do tal desfile e também o release da marca.

No quarto dia, quando fui buscar o restante das telas, ela disse que eu estava bonita e eu disse que deviam ser os efeitos das férias e ela disse que precisava de férias também porque estava muito cansada e tinha que fazer uma cirurgia, que tinha feito uma ano passado e precisava fazer a segunda logo porque você sabe, né Julia? Mulher depois dos 40 tem que tirar o útero porque ele vira foco de infecções e doenças e câncer e além disso que já tenho dois filhos e não quero mais, o problema é que se eu sair daqui pra operar isso aqui pára, né Julia? O meu médico já falou que só me opera se eu ficar um mês em casa de repouso e como é que eu vou ficar um mês em casa de repouso? Só se eu alugar um apartamento aqui em cima no prédio, aí sim!

Lembrei de uma vez em que fui lá, há meses atrás, e a Rose estava com os cabelos penteados como nunca tinha visto. Eu fiz um elogio e ela disse que tinha ido lá naquele salão ali novo em Ipanema, o creme deles é ótimo, você devia ir lá porque olha, o meu cabelo é ruim, né Julia, o seu já é bom, se você usasse o creme deles ia ficar ainda melhor porque solta os cachos, sabe?

Minha mãe, irmã e tia gargalharam quando escutaram essas histórias, junto com as minhas próprias risadas. Minhas amigas fizeram uma cara de “que tipo de conversas são essas que você anda tendo?” e eu fiquei quieta o resto do tempo...

Ficamos horas no telefone hoje e acabei não contando nada disso pra ele. Me dei conta de como ele faz muito mais falta do que parece. Besteira não ter contado. Ele entenderia e eu riria tudo de novo!

4 comentários:

Anônimo disse...

não aguento mais! foi a gota d'água! um dia é texto pra fulano, outro dia pra sicrano! o meu dia nunca chega! vc vai ver, minha vingança será malígna!!!!!!!!

Anônimo disse...

O último parágrafo é o MELHOR!!!!

Anônimo disse...

Ótimo, ótimo!
De fato ele entenderia.
A propósito, Rose é hilária, né não?

Julieta disse...

sim, a Rose é hilária, obrigada pelo comentário pertinente!!!