Já faz algumas semanas que não encontro o carro do vizinho ocupando uma parte da minha vaga. O que deveria ser motivo de alívio virou uma angústia ainda maior que antes. O fato é que em tempos de mansidão, a possibilidade de encontrar o carro do vizinho ocupando espaços alheios gerava uma série de hipóteses que emocionavam meus dias. Na minha cabeça eu chegaria no prédio quase ao mesmo em que o vizinho e me espantaria ao descobrir que: a) o vizinho é na verdade uma vizinha mais magra que eu, ultrajantemente cafona e míope; b) o vizinho é um senhor de idade que mora com seu labrador cor de caramelo; c) o vizinho é o príncipe encantado e vamos nos amar no elevador até o primeiro andar. E na minha fantasia mais ousada o vizinho continuaria sendo um sujeito mal-educado que, com um pouco de sorte, me destrataria de novo e então começaríamos um bate-boca exaltado sobre respeito ao próximo, política de boa vizinhança etc, juntaria gente pra ver e a minha analista acharia que fiz progressos emocionais profundos ao enfrentar o sujeito assim.
Mas com essa chuva que faz, o vizinho deve estar parando o carro na garagem, onde não há vaga disponível pra mim, de forma que estaciono sem maiores percalços. Toda a graça que poderia haver se dissipa no momento em que faço a curva da rua e vejo três vagas livres e desimpedidas à minha espera. Meus batimentos cardíacos imediatamente caem, é um tédio.
Agora sou eu quem pára o carro sem respeitar a marcação, na esperança de que o vizinho, ou algum outro, quem sabe até mesmo o porteiro, me chame atenção. Enquanto meu ato transgressor não tem nenhum feedback, preparo um plano mais agressivo de ataque: invadir a garagem e deixar o carro ali em qualquer canto. E enquanto tomo coragem, me concentro numa outra questão igualmente importante e que pode trazer de volta o vizinho, seu carro e uma série de revoltas engajadas de minha parte: o sol, há de brilhar mais uma vez?
4 comentários:
Julinha, confesso que eu estava na maior expectativa sobre as "cenas do próximo capítulo" nessa relação vaga e vizinho.
Mas continuo ansiosa! E aguardo próximos acontecimentos...
Ah! sábado vamos à praia no Leblon? Quem sabe se vc for de carro não temos cenas emocionantes na volta! :)
bjs!
ai jesus... to rezando p a letra C acontecer!!!!!
Julinha, eu precisava dividir: ontem saindo de manhã para o trabalho, meu porteiro veio me chamar, que algum vizinho deixou no livro do prédio anotado uma reclamação que meu carro estava mau parado!
Só lembrava de vc.
Mas o carro estava dentro da marcação amarela.... ai Jesus... será algum tipo de praga?! hahahahahahahah
como disse minha avó hj, me escangalhei de rir; muito bom.
Postar um comentário