terça-feira, fevereiro 15, 2011
sábado, fevereiro 12, 2011
Carta a C.S.
Bom dia, comunidade!
De fato, é noite enquanto te escrevo. Mas já vai tanto implícito na saudação que vale a arbitrariedade. Hoje fiz coisas que você adoraria fazer e portanto não pude mais adiar esses escritos. Ficar pelada pela casa, por exemplo. Fazia tanto calor que não havia alternativa. Ouvir Marina no repeat umas quinze vezes. Gosto tanto de “Acontecimentos” que se o som empacasse nela pra sempre eu não me incomodaria, embora tenha certeza de que três dias depois ia querer ficar surda.
E engordei a lista de livros que você e Luis acham insana. Também estou começando a achar. Talvez se eu resolvesse esses impasses afetivos e profissionais passaria mais tempo dedicada a outras atividades. Mas agora não dá. Comecei a ler os clássicos e alguns parecem irresistíveis. O foco agora é preencher essas lacunas e com sorte terminar, ainda em 2011, um romance do Eça que, ora pois, é a coisa mais chata do planeta. Como disse alguém outro dia, estou lendo a passos de cágado centenário, e sempre prestes a abandonar e queimar o exemplar em praça pública.
Guardei um Caio F. pra quando chegasse esse momento de desilusão em que começo a achar que nunca mais vou conseguir passar da página 229. Verdade seja dita, não é o Caio F. em pessoa, mas memórias de uma grande amiga dele. Paula Dip. Não é um ótimo nome? Pra minha surpresa, Paula Dip está no Facebook. Ando com essa mania de procurar pessoas na rede, de wikipediar tudo. É uma síndrome esquisita. Quando dei por mim estava vendo as fotos da Paula Dip, um álbum inteirinho só de retratos do Caio. Ele realmente existiu. É uma loucura pensar que escritores existem. Eu já estava na sexta ou sétima linha de uma mensagem pra Paula Dip quando resolvi apagar tudo, achei que seria bem cafona enviar. Chorei potes quando ele morreu no livro. Chorei potes quando concluí que já tinha lido tudo dele que foi publicado, há uns anos atrás. Choro potes toda vez que ele se vai.
Chorar com essa alergia, aliás, tem se mostrado tarefa árdua. São lágrimas e secreções que inundam tudo o que vêem pela frente. Sei que ando meio obcecada com essa questão alérgica, não deve ter graça nenhuma ler sobre o assunto. É que fui atingida em cheio, e tão subitamente que ainda não sei como lidar. Do dia pra noite passei a avaliar remédios de nariz. Afrin, que era tão promissor no começo, provou-se um embuste. E lenços de papel? Eu poderia escrever um tratado sobre eles. Dava meu reino por um carregamento de Softy’s até poucos meses atrás. Hoje em dia eu mataria por um patrocínio da Kleenex.
Gravei pro Marcelo outro dia um cd com esse nome: Kleenex Songs. Estou ficando muito boa nessa coisa de inventar nomes pras trilhas sonoras dele. Se eu te dissesse que fulano tem muita opinião sobre móveis, você poderia vislumbrar algum aspecto da personalidade dessa pessoa? É que Marcelo tem. Opinião sobre móveis. Outro dia disse isso pra ele, que achou graça. Mas é verdade, o que se há de fazer. É bárbaro. Adoraria ter esses achismos. Embora você tenha certeza de que temos opinião sobre tudo, ainda não acho que seja assim. Não é só a aula de ballet do francês (ou o que quer que seja) que fica nesse limbo de coisas indefinidas. Nem só aqueles textos. Eu te daria vários exemplos. Acho que acabo tendo convicções em relações a coisas muito banais. Tipo queijo coalho, sorvetes e afins. Ou presunto. Marcelo, aliás, é uma das raras pessoas que entende a ciência de abominar presunto e de se sentir ofendido quando as pessoas perguntam “mas e presunto de Parma?”. Oras, é a mesma coisa! Marcelo e eu somos cheios de tambéns. Às vezes tenho certeza de que a gente se conhece de outras encarnações. De alguma vida na Grécia Antiga, batendo papo em togas antes de praticar lançamento de disco. Do descobrimento do Brasil, talvez. Provavelmente da Revolução Francesa, antes de nossas cabeças aristocráticas rolarem.
(Uma lâmpada acaba de despencar do teto e eu tenho certeza que é Caio Fernando Abreu fazendo contato.)
Uma coisa é certa: eu sou potencialmente mais agradável quando desempregada. Deve haver um jeito de conciliar trabalho com o resto das outras coisas.
Outra conclusão, que veio junto com a sexta-feira: as pessoas realmente adivinham. Quando estão prestes a serem enterradas vivas elas se fazem ressuscitar por mar, por terra ou via Embratel. Tento teorizar e pensar se isso é saudade em sincronia, ou algum tipo de ligação esotérica que meu ceticismo não consegue explicar. Parece muito sacana. Parece que elas percebem a tentativa de assassinato. É um tiro nas costas. Se você tiver algum palpite, Carol, por favor, não hesite. Fiquei um pouco perturbada com isso. Com medo de não conseguir me livrar nunca dessas pessoas, entende?
Se você não me responder vou explodir. Não é uma ameaça, é uma constatação.
Eu espero acontecimentos, cachorro-quente e tudo o que você tiver pra mim.
Muitos beijos,
quinta-feira, fevereiro 10, 2011
Clínica São Vicente
Fiquei doente ontem pra justificar toda a miséria que se abateu sobre mim na terça-feira. Faxina é uma merda. Etiquetei os cadernos e aquela nossa mania de estar juntos veio à tona, e também todos os espirros possíveis, e tanto mais. O suprimento de Kleenex não foi suficiente. Deve haver alguma poesia em gastar todo o lenço de papel da casa enquanto escrevo pra você. Antes fosse só alergia.
Joguei uma caixa de ingressos de cinema no lixo. E uma tonelada de músicas. Amoleci quando encontrei um resto de areia e perdi a coragem de me desfazer de tudo. Algumas coisas insistem em ficar. Maresia, retratos, bilhetinhos cheios de garranchos embriagados e aquele sopro de ar que você trazia pra me ver sorrir. Perdi a hora gargalhando com todas as mensagens, perdi a conta com todos os suspiros, perdi alguma coisa de tão grande quando fiquei sozinha que nem sei direito o que te pedir de volta.
Dormi sentada, de duas em duas horas: um puff de Rinosoro 3% em cada narina. Amanheci na emergência e fiquei por lá, derrubada perto dos médicos que insistiam em repouso e muito líquido.
Recebi uma visita, tive alta no fim do dia. Pensei em te ligar pra reclamar do preço abusivo dos sucos.
domingo, fevereiro 06, 2011
Entreouvido num batizado
Padre – Você é casada?
Julieta – Não, padre.
Padre – Mas vai se casar?
Julieta – Quem sabe, né Padre?
Padre – Vai sim, minha filha. Encontre seu caminho!
terça-feira, fevereiro 01, 2011
Previsão do tempo
(para Clara)
Toda vez que chove desse jeito eu queria estar fora do carro, mas é sempre São Conrado e túnel e eu fico cercada de vidros sonhando com aquela enxurrada na cabeça. Toda vez que a gente volta àquela praia e dá um mergulho no mar depois de todo o suor a gente jura que a vida pode ser simples assim. Ainda acredito, também, nas promessas dos xampus, embora cada pote seja uma decepção. Minha mãe outro dia disse que sabão em pó era bom pra quando você quer espirrar e não consegue. Eu cheirei metade da cozinha e nada: sabão em pó, pimenta, shoyu, curry, gengibre, e lembrei de como era bom o cheiro do leite em pó. Lembrei também que a gente sempre espirra quando menos se espera, especialmente quando se tem um moreno bonitão a poucos centímetros de distância. Ou, claro, quando limpa armários. Espirrar nos outros deve ser piada, vingança ou muito amor.
Mais amor ainda é quando o guarda-sol não voa na praia, e redenção é não se afogar em meio às ondas e sujeiras do mar do Leblon. Escapar dessas ciladas, encontrar bicicletas para alugar e mais uma sorte de gestos e atos são coisas pelas quais vale à pena se iludir um pouco, nem que seja pra depois xingar alguém ou escrever barbaridades que jamais serão enviadas: está quente demais para medidas drásticas. Quente demais pra querer reviver encontros ou pra se deixar levar por uma conversa mole em meio a chopes. Toda vez que faz esse verão eu queria litros intermináveis de Afrin, hidratante de mãos e todas as demais possibilidades de ficar no ar-condicionado com conforto. A gente continua procurando a locadora de vídeos perdida. Eu sempre faço planos de ir bastante ao cinema, mais pela contravenção de vestir meia fora de temporada que pelos cartazes. Eu sempre acho que no verão os sapatos vão ficar livres dos fungos, e que dois banhos gelados por dia são suficientes. Eu dispenso sacolas plásticas o ano todo e reciclo todos os meus papéis pra poder gastar toda a água do mundo. A gente sempre faz piada de que só falta o eucalipto.
Toda vez que a gente vive um janeiro a gente investe nas sombras, no leque e num plano triunfante pra fugir dos blocos e do cecê da massa. Acreditamos que não chegaremos com vida a abril. Eu sempre penso que emagreço dois ou três quilos. Minha mãe insiste na melancia e orienta sempre ter cuidado com as latinhas que encontrarmos atrás do trio elétrico. Todo o Carnaval tem seu fim e a gente ludibria a ressaca exalando fator de proteção no baixo bebê.
Eu sempre cogito: e se esfriasse de repente?!
Toda vez que tem esse bafo sobre as nossas cabeças, é batata: a previsão é de pancadas de chuva em todo o estado.Só basta acreditar.
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