Bom dia, comunidade!
De fato, é noite enquanto te escrevo. Mas já vai tanto implícito na saudação que vale a arbitrariedade. Hoje fiz coisas que você adoraria fazer e portanto não pude mais adiar esses escritos. Ficar pelada pela casa, por exemplo. Fazia tanto calor que não havia alternativa. Ouvir Marina no repeat umas quinze vezes. Gosto tanto de “Acontecimentos” que se o som empacasse nela pra sempre eu não me incomodaria, embora tenha certeza de que três dias depois ia querer ficar surda.
E engordei a lista de livros que você e Luis acham insana. Também estou começando a achar. Talvez se eu resolvesse esses impasses afetivos e profissionais passaria mais tempo dedicada a outras atividades. Mas agora não dá. Comecei a ler os clássicos e alguns parecem irresistíveis. O foco agora é preencher essas lacunas e com sorte terminar, ainda em 2011, um romance do Eça que, ora pois, é a coisa mais chata do planeta. Como disse alguém outro dia, estou lendo a passos de cágado centenário, e sempre prestes a abandonar e queimar o exemplar em praça pública.
Guardei um Caio F. pra quando chegasse esse momento de desilusão em que começo a achar que nunca mais vou conseguir passar da página 229. Verdade seja dita, não é o Caio F. em pessoa, mas memórias de uma grande amiga dele. Paula Dip. Não é um ótimo nome? Pra minha surpresa, Paula Dip está no Facebook. Ando com essa mania de procurar pessoas na rede, de wikipediar tudo. É uma síndrome esquisita. Quando dei por mim estava vendo as fotos da Paula Dip, um álbum inteirinho só de retratos do Caio. Ele realmente existiu. É uma loucura pensar que escritores existem. Eu já estava na sexta ou sétima linha de uma mensagem pra Paula Dip quando resolvi apagar tudo, achei que seria bem cafona enviar. Chorei potes quando ele morreu no livro. Chorei potes quando concluí que já tinha lido tudo dele que foi publicado, há uns anos atrás. Choro potes toda vez que ele se vai.
Chorar com essa alergia, aliás, tem se mostrado tarefa árdua. São lágrimas e secreções que inundam tudo o que vêem pela frente. Sei que ando meio obcecada com essa questão alérgica, não deve ter graça nenhuma ler sobre o assunto. É que fui atingida em cheio, e tão subitamente que ainda não sei como lidar. Do dia pra noite passei a avaliar remédios de nariz. Afrin, que era tão promissor no começo, provou-se um embuste. E lenços de papel? Eu poderia escrever um tratado sobre eles. Dava meu reino por um carregamento de Softy’s até poucos meses atrás. Hoje em dia eu mataria por um patrocínio da Kleenex.
Gravei pro Marcelo outro dia um cd com esse nome: Kleenex Songs. Estou ficando muito boa nessa coisa de inventar nomes pras trilhas sonoras dele. Se eu te dissesse que fulano tem muita opinião sobre móveis, você poderia vislumbrar algum aspecto da personalidade dessa pessoa? É que Marcelo tem. Opinião sobre móveis. Outro dia disse isso pra ele, que achou graça. Mas é verdade, o que se há de fazer. É bárbaro. Adoraria ter esses achismos. Embora você tenha certeza de que temos opinião sobre tudo, ainda não acho que seja assim. Não é só a aula de ballet do francês (ou o que quer que seja) que fica nesse limbo de coisas indefinidas. Nem só aqueles textos. Eu te daria vários exemplos. Acho que acabo tendo convicções em relações a coisas muito banais. Tipo queijo coalho, sorvetes e afins. Ou presunto. Marcelo, aliás, é uma das raras pessoas que entende a ciência de abominar presunto e de se sentir ofendido quando as pessoas perguntam “mas e presunto de Parma?”. Oras, é a mesma coisa! Marcelo e eu somos cheios de tambéns. Às vezes tenho certeza de que a gente se conhece de outras encarnações. De alguma vida na Grécia Antiga, batendo papo em togas antes de praticar lançamento de disco. Do descobrimento do Brasil, talvez. Provavelmente da Revolução Francesa, antes de nossas cabeças aristocráticas rolarem.
(Uma lâmpada acaba de despencar do teto e eu tenho certeza que é Caio Fernando Abreu fazendo contato.)
Uma coisa é certa: eu sou potencialmente mais agradável quando desempregada. Deve haver um jeito de conciliar trabalho com o resto das outras coisas.
Outra conclusão, que veio junto com a sexta-feira: as pessoas realmente adivinham. Quando estão prestes a serem enterradas vivas elas se fazem ressuscitar por mar, por terra ou via Embratel. Tento teorizar e pensar se isso é saudade em sincronia, ou algum tipo de ligação esotérica que meu ceticismo não consegue explicar. Parece muito sacana. Parece que elas percebem a tentativa de assassinato. É um tiro nas costas. Se você tiver algum palpite, Carol, por favor, não hesite. Fiquei um pouco perturbada com isso. Com medo de não conseguir me livrar nunca dessas pessoas, entende?
Se você não me responder vou explodir. Não é uma ameaça, é uma constatação.
Eu espero acontecimentos, cachorro-quente e tudo o que você tiver pra mim.
Muitos beijos,
Um comentário:
"um romance do Eça que, ora pois, é a coisa mais chata do planeta"..aiaia...e eu que amo o Eça e morro de rir quando leio aquelas crónica sociais...
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