(para Clara)
Toda vez que chove desse jeito eu queria estar fora do carro, mas é sempre São Conrado e túnel e eu fico cercada de vidros sonhando com aquela enxurrada na cabeça. Toda vez que a gente volta àquela praia e dá um mergulho no mar depois de todo o suor a gente jura que a vida pode ser simples assim. Ainda acredito, também, nas promessas dos xampus, embora cada pote seja uma decepção. Minha mãe outro dia disse que sabão em pó era bom pra quando você quer espirrar e não consegue. Eu cheirei metade da cozinha e nada: sabão em pó, pimenta, shoyu, curry, gengibre, e lembrei de como era bom o cheiro do leite em pó. Lembrei também que a gente sempre espirra quando menos se espera, especialmente quando se tem um moreno bonitão a poucos centímetros de distância. Ou, claro, quando limpa armários. Espirrar nos outros deve ser piada, vingança ou muito amor.
Mais amor ainda é quando o guarda-sol não voa na praia, e redenção é não se afogar em meio às ondas e sujeiras do mar do Leblon. Escapar dessas ciladas, encontrar bicicletas para alugar e mais uma sorte de gestos e atos são coisas pelas quais vale à pena se iludir um pouco, nem que seja pra depois xingar alguém ou escrever barbaridades que jamais serão enviadas: está quente demais para medidas drásticas. Quente demais pra querer reviver encontros ou pra se deixar levar por uma conversa mole em meio a chopes. Toda vez que faz esse verão eu queria litros intermináveis de Afrin, hidratante de mãos e todas as demais possibilidades de ficar no ar-condicionado com conforto. A gente continua procurando a locadora de vídeos perdida. Eu sempre faço planos de ir bastante ao cinema, mais pela contravenção de vestir meia fora de temporada que pelos cartazes. Eu sempre acho que no verão os sapatos vão ficar livres dos fungos, e que dois banhos gelados por dia são suficientes. Eu dispenso sacolas plásticas o ano todo e reciclo todos os meus papéis pra poder gastar toda a água do mundo. A gente sempre faz piada de que só falta o eucalipto.
Toda vez que a gente vive um janeiro a gente investe nas sombras, no leque e num plano triunfante pra fugir dos blocos e do cecê da massa. Acreditamos que não chegaremos com vida a abril. Eu sempre penso que emagreço dois ou três quilos. Minha mãe insiste na melancia e orienta sempre ter cuidado com as latinhas que encontrarmos atrás do trio elétrico. Todo o Carnaval tem seu fim e a gente ludibria a ressaca exalando fator de proteção no baixo bebê.
Eu sempre cogito: e se esfriasse de repente?!
Toda vez que tem esse bafo sobre as nossas cabeças, é batata: a previsão é de pancadas de chuva em todo o estado.Só basta acreditar.
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