Foi numa dessas tardes de trabalho em que, entre uma
leitura e outra, alguém diz que a Coca-Cola mexicana é a melhor do mundo.
Fiquei incrédula, duvidando que a industrialização seja capaz de tais nuances:
Toddy tem sempre gosto de Toddy, requeijão dificilmente fica melhor ou pior e
todas as coisas que não dependem de safra ou de mim, em geral, são sinônimo de alegria.
Ainda assim, resolvi conferir e foi batata: igualzinha, deliciosa, Coca-Cola
com gosto de Coca-Cola.
A minha vida culinária tem sido feita de pequenos
desastres. Receitas que sigo ao pé da letra e dão errado, carnes que ficam com
sabor de nada e eventuais acidentes em que quebro sem querer um pote de
mostarda em grãos no chão da cozinha, que é integrada com a sala, e então é
domingo no verão e eu tento varrer os grãozinhos que se chocam uns contra os
outros indo parar no lavabo, sob a máquina de lavar e eventualmente no quarto,
como num jogo de bilhar em que o único vencedor é esse mundo tão cruel que te
faz suar uns 3 quilos em meia hora. Nem o chuveiro é aliado porque
a água está quente, mesmo que você gire a torneira fria ensandecidamente.
Achei que com a chegada da páprica e das folhas de louro à
minha prateleira algumas coisas se resolveriam, ao menos foi isso que me
venderam. Que nada. Minhas refeições seguem insípidas, inodoras e quase
insuportáveis. Toda vez que alguma coisa dá errada no meu fogão, portanto, abro
uma Coca-Cola, carioca e gelada pela minha Brastemp que às vezes arruína as
gelatinas, que viram uma mistura daquele vermelho envenenado com gelo. Tenho
economizado os biscoitos Maria mexicanos para esses momentos em que tudo parece perdido, esses sim bastante superiores aos
brasileiros.
Toda vez também que a gelatina se inviabiliza eu tento
instalar minha impressora. É uma busca meio ilógica por algum sucesso
doméstico, visto que impressoras foram feitas para vencer o homem, por mais que
você se esforce. Na tentativa de descobrir algum talento para me virar comigo
mesma, pego em armas e tento prender na parede a prateleira para abrigar todos
os potinhos de temperos que nunca garantirão a satisfação gastronômica. Tenho
até mentido para os amigos que me passam receitas “essa é mole, não tem o que
errar”. É claro que tem, até a tapioca se quebra quando a transfiro da
frigideira para o prato. A minha vida culinária, em resumo, se parece com a
minha vida amorosa: uso perfume Chanel antes de refogar qualquer coisa, ponho a culpa na panela, vou dormir com fome e concluo que aquela música do Kid Abelha, afinal, serve para tudo, inclusive para aquela crase que
você deixou passar no livro que estava preparando.
Somado a isso tenho agora 4 buracos na parede, duas
prateleiras que jamais ficarão suspensas como deveriam e uma encomenda da
Domino’s, que sempre terá aquele gosto (ruim) de Domino’s. É esse o meu
consolo: a constância e a segurança desse tipo de comida, a certeza de que
algumas coisas nunca frustram as expectativas e não sacaneiam a autoestima de ninguém.
É claro, sempre haverá um técnico credenciado para
resolver as pendengas tecnológicas, assim como sempre haverá Edilson, o
faz-tudo que usa cardigan, que combina um horário e aparece e faz parecer que
algumas coisas podem funcionar. Pessoas Coca-Cola. Felicidade garantida.
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