sábado, abril 21, 2007

Nadando contra a corrente

Um dia eu concluí que algumas das coisas que lemos são mais confiáveis que pessoas, e por causa de uma edição da Piauí eu fui fazer uma aula de natação (mesmo que, meses antes o médico tivesse recomendado o mesmo). Eu desconfiei que minha conclusão fora precipitada no momento em que o relógio marcava 8:05, a aula tinha começado às 7:50 e eu já achava que ia morrer. De calor. E olha que de calor eu tenho vivência... Eram 8:05 da manhã quando eu senti que suava dentro da piscina e essa incongruência foi apenas um dos fatores que me levaram a concluir, dessa vez com conhecimento de causa, que natação na Piauí é poesia que a gente não vive.

Pra começar que o traje de natação é qualquer coisa de deprimente e todo ser metido numa toca e num óculos perde parte de sua credibilidade. Pra sorte ou desespero, não sei ainda, o professor (no meu caso professora) não entra na piscina em momento algum. Além de não ter que passar pelo ridículo do figurino, o cara também não ferve. Sim, porque piscina aquecida é eufemismo, aquela água estava mais para fervida.

Fazia aproximadamente 17 anos que eu não nadava nem cachorrinho e o primeiro comando que a professora deu foi: ida e volta de crawl, ida e volta de peito, ida e volta de costas, ida e volta de golfinho. Eu disse que golfinho pra mim era aquele bicho que a gente vê em passeio de barco em Noronha, passeio no Sea World ou foto na Wikipedia e parti pra desbravar o tedioso mundo dos azulejos enfileirados. Seis braçadas e estava cumprida a rota de ida, mais seis na rota da volta e então o nado peito e depois o nado costas. Descobri que nadar é que nem andar de bicicleta, não só no sentido de que não se esquece mas também no sentido de que não vale a pena pagar por isso. O resto da aula foi mais ou menos igual ao começo: nada pra cá, nada pra lá. É claro que eu não esperava aprender como cozinhar um pato no vapor, mas achei que depois de quase 20 anos sem praticar, alguém me daria pelo menos um alento.

Ainda, eu pensava que nadar era atividade calma e apaziguadora. Ledo engano. Sai da piscina mal me equilibrando nas minhas pernas, que tremiam e ameaçavam me deixar na mão a qualquer passo. Fui pra casa, confesso, com uma sensação de relaxamento, caí na cama e dormi que nem um bebê. Esse era o único argumento que poderia me fazer mudar de idéia mas então lembrei-me de rede, vinho, relaxante muscular e vi que algumas boas horas de sono podem ser mais facilmente conseguidas através de meios pouco nobres, mas ainda assim menos aterrorizantes.

E foi assim, num modelito horripilantemente démodé que eu fervi, quer dizer, nadei durante quase 40 minutos numa piscina enquanto repassava mentalmente diversos trechos das matérias da Piauí, lembrava dos relatos entusiasmados e apaixonados que lera e comecei a me indagar se seria um problema do esporte em si ou da minha falta de romantismo. Achei melhor não concluir porque da última vez que fiz isso fui parar numa aula de natação.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aposto que, mesmo com maiô e óculos de mergulho você não perde o charme.

Fulanas disse...

hahahahaha, para variar muito bom Honey !!!!

Fulanas disse...

E os hinos em desuso ? Escreve sobre eles vai....sobre aquela época em que ligávamos o rádio e estava tocando " ou viver a pátri livre ou morrer pelo Brasil"....