Bruno sempre fica moreno no verão. No inverno também, que ele continua indo à praia com sua manta que roubou do avião fazendo as vezes de canga. O Bruno perto de mim fica ainda mais colorido com toda sua morenice fora de época e diz que eu pareço européia. Eu concordo e ele sorri. Seus olhos não ficam espremidos por causa de seus sorrisos, nunca entendi como ele consegue. Mas se eu fosse o Bruno também sorriria sem apertá-los. O verde dos olhos do Bruno não é encontrado numa cartela Pantone, nem a morenice dele, parece que ele escolheu a dedo cores que ninguém mais no mundo consegue. Bruno acharia graça se soubesse que acho que suas cores são especiais. Mas na verdade engraçado mesmo é ele que fala sobre uma música e a canta em seguida, não sem antes hesitar e dizer “não, não vou cantar, tá tá bem, vou cantar uma parte”. E canta.
Bruno faz um gesto com os braços quando canta, nem deve saber. É como se os afastasse um pouco dando espaço pro peito se encher. Seus olhos verdes olham pra cima quando canta e as sobrancelhas espessas ficam ligeiramente arqueadas. As mãos têm um trejeito também quando ele canta. E a voz fica um pouco mais grave, menos rouca, mais calma. Ou mais serena, sei lá. O resto do tempo quando ele não está cantando ele fala rápido e ansioso.
Bruno diz que eu falo pouco. Mas na verdade é ele quem fala muito. Ele fala muito tudo, ele fala muito “meu irmão”, “pô”, ele fala à beça, ele tem uma necessidade tamanha de falar e às vezes, quando ele se pega tagarelando diz: “eu falo muito, né?”. Eu sorrio e ele concorda. Ele fala com as mãos também e repete sempre alguns movimentos que são tão dele que qualquer outra pessoa que fizesse só me lembraria o Bruno, um movimento com as duas mãos que ele não deve ter reparado tanto quanto eu. Eu gosto de reconhecer o Bruno nesse gestual tão particular, como se além das cores ele tivesse também músculos e ligamentos especiais que dançassem nesse ritmo grave e meio rouco e ansioso da voz que ele tem. O Bruno não deve saber metade dessas coisas que eu sei que ele tem (talvez ele saiba de outra forma).
Bruno diz que ficamos amigos porque insistimos muito, ou cismamos, sei lá. O Bruno perto de mim fica ainda mais meu e eu perto dele fico sempre mais dele, como a gente era da gente quando se via todo dia. Esses detalhes todos do Bruno que eu sei me dão a nítida sensação de que existe um Bruno que só existe comigo e todas as coisas que ele sabe de mim deve fazer com que exista uma eu que só existe com ele. É por isso que até hoje o Bruno e eu sempre voltamos.
Bruno acharia graça se lesse tudo isso que estou escrevendo dele. Mas rir mesmo ele riria se eu dissesse que desde que Santo Antônio resolveu me boicotar que todo dia 12 de junho acordo e penso: hoje é aniversário do Bruno. Talvez até esmagasse um pouco os olhos.
3 comentários:
Ju, adorei suas palavras. Eu, que falo tanto, não tenho o que dizer. Você me pegou de jeito.
Te amo
q lindo, jules!
qdo é q vc vai voltar a escrever sobre mim, hein????
Encontrei o "Bruno" e ele me falou de cara, todo bobo, desse texto lindo que vc escreveu sobre ele. Eu não tinha lido ainda e fiz questão de conferir. Tinha razão de estar bobo, o texto é lindo mesmo!
beijo Jubi
vc sabe emocionar
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