segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Madrugada dos mortos

Não é bom sinal quando a pessoa está dentro de uma boate e sente frio, a mão congela e ela tem espaço suficiente na pista pra fazer a coreografia do jazz de 1993.

O que acontece que a partir de uma certa idade a gente desaprende como freqüentar uma “night”? Por que de repente a gente começa a se sentir meio “tio”? Por que, meu deus, da noite pro dia o jogo de pac-man passa a ser muito mais emocionante que qualquer set-list dos djs da pista 2 da Casa da Matriz?

É duro. Você chega na porta do lugar e olha para os adolescentes e têm a absoluta certeza de que não é mais um deles: o seu dress-code está ultrapassado, você tem um ataque de riso quando o segurança pede seu documento e fica com medo de ser barrado por excesso de idade. Certamente o público-alvo não é mais... eu.

Lá dentro piora: um dos seus amigos pergunta pro cara do bar “mas que horas as pessoas costumam chegar?!”, o desespero estampado no rosto. Ele é o mesmo que depois perguntará ao dj “mas vem cá, não vai tocar Madonna não?”. Teremos sorte se o Dj tiver nascido na década de 80, se for um filho dos 90 as coisas vão complicar.

Num momento de total emancipação, que só os 26 permitem, abrimos a pista sem medo, arriscamos passos de dança e vibramos a cada música que conhecemos: uma do R.E.M, uma do Joy Division, e, babe: cantamos de cor e salteado, e com muita animação uma música do Gossip. Nos sentimos tão atualizados que começamos a pular. Então nos damos conta que até nosso dance-code é démodé: os adolescentes adaptaram os passos de funk para todo e qualquer ritmo, fazendo sanduíches de si mesmos enquanto se esfregam e cantam com seus drinks na mão. É bizarro. Olhamos pra eles com ares de reprovação.

Começamos a consumir água enquanto as pessoas ainda estão chegando, afinal temos que obedecer a Lei Seca. Respeitamos direitinho a área de fumantes. Lavamos as latinahs e garrafas antes de colocarmos a boca ali. De vez em quando sentamos um pouco, sabe como é, pra descansar as pernas. Então nos agarramos à manivela do Pac-Man como se não houvesse amanhã, e fase atrás de fase devoramos bolinhas amarelas e monstros. No fim, exaustos, cedemos lugar a alguém de 18 anos que nunca nem soube o que era Nintendo.

Por milagre, nenhuma pessoa desconhecida vem nos abordar, isso seria tão patético quanto o fato de que saímos da boate à 1 e meia da madrugada. Vai ver a terceira idade se chama “melhor” idade por causa disso: você finalmente aprende a se divertir, mesmo que o final da noite seja a tela de um jogo de Atari onde se lê GAME OVER.



:: Teenage Kicks, Nouvelle Vague

5 comentários:

Patricia Salamonde disse...

Meu Deus! Se vc se sente assim, imagina o que devo sentir chegando aos 40 !!!! Agora vai uma dica: deixa o seu pac mac descansar com os mortos e compra um Wii!!!! Assim vc vai poder dancar com seus amigos sem ter que enfrentar uma boate cheia de adolescentes.
Beijos,
Pat

Anônimo disse...

eu quero um wiii!!!!!

Anônimo disse...

hahahaha Mto bom esse post... Tb me choco qdo vejo os filhos dos anos 90 fazendo 20 anos e ditando essa nova moda esquisita... bjs, Há

Anônimo disse...

Acho que desde os dezoito eu sou demodé. Na verdade, acho que nunca fiz parte disso, sempre preferi o PacMan.

Anônimo disse...

Tenho 37 e continuo dançando do único jeito que sei (chutando todo mundo). Não me incomodo com os outros, eles que geralmente se incomodam comigo. Só tenho medo de terminar a noite encontrando a loira do banheiro (he, he, he).