"Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar"
Lulu Santos in O Último Romântico
É que às vezes acontece isso de chorar com uma mesa entre nós, de ficar sombria e engasgada e encrencada numa linha curva de pensamentos tortos, acontece às vezes de enxugar os olhos com guardanapo timbrado, de inundar hastes de óculos gastos e marrons, de esfregar os olhos e ter soluços pequeninos e contritos que tentam cessar essa torrente que se põe a desfiar histórias e lembranças tão de trás, tão de longe.
É difícil dizer se um abraço teria sido consolo, ou se mousse de chocolate, ou se meia, ou se noites clandestinas que viravam refúgios com espelhos nos tetos, tudo isso pra deixar pra lá esses redemoinhos de coisas e perguntas, pra deixar pra trás melancolias cheias de dúvidas que não terminaram e que então desse lado da mesa vêm à tona tão naturalmente como espirros em dias úmidos.
É que quando fica inverno essas coisas jorram: esses humores quase sempre tão disfarçáveis, esses prantos que geralmente sabem que o melhor horário é no meio de uma madrugada sozinha, essa carência de pele e do outro que normalmente se conforma com os suspiros de uma saudade que nunca vira nós dois, essa insegurança que habitualmente se esconde entre piadas e um jeito de ir vencendo os dias graças a risos que não têm por que.
E tosse. E essa letargia, esse estado hipocondríaco que vem com travesseiro, falta de convites para comer fondue e pancadas de chuva à tarde.
É que às vezes acontece isso quando fica inverno: esse frio, esse pulmão congestionado, lenços de papel que vão secando uma porção de lágrimas desordenadas, um medo que só mesmo roupa de flanela, "me dá um beijo então / aperta a minha mão". É que às vezes, com sorte, passa um filme de infância na "Sessão da Tarde".
Um comentário:
Hoje vai passar "Splash- uma sereia em minha vida" no SBT. Serve?
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