sábado, setembro 12, 2009

Extratos

O mundo poderia acabar enquanto alguém corta meu cabelo porque nada é tão relaxante quanto mãos que brincam com meus cachos, especialmente quando eu sei que no final eu sairei do recinto penteada (e socializável, portanto).

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Se o mundo acabasse agora eu teria nas mãos essa persistência de uma saudade que não é avassaladora a ponto de me pôr louca e batendo à sua porta, mas que também não é tão branda que me deixe dormir sem sobressaltos, e que também não é prudente que me impeça de te dizer: putz grila.

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Putz grila é também quando chego em casa e penso que Dona Laura desabafou comigo essa tarde, além de ter me lançado olhares cúmplices e trejeitos solidários. A testa se franze toda e fico com essas rugas de saber que as queixas de Dona Laura não cabem nesses meus dias, especialmente porque até bem pouco tempo eu pensava que Dona Laura queria me matar.

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Substituo suicídios por assassinatos por justa causa, e minha defesa ganha tantas nuances a cada vez que relato o fato para alguém que penso em escrever um roteiro. Decido, porém, calcular os próximos passos, observar de perto as próximas vítimas. Mato o porteiro e em vez de ir ao cinema acampo na Yogoberry mais próxima, peço iogurtes cobertos com pedaços de manga e sento na calçada da praia pra ver o indo e vindo infinito.

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Tudo passa e tudo sempre passará, desde que existam no mundo essas pessoas que se demoram onde as ondas estouram até você criar coragem pra entrar no mar (eu tenho medo das ondas), essas pessoas que topam quase qualquer coisa, mesmo que seja uma ida ao Zoológico no meio do feriado, essas pessoas que oferecem seus sofás num apartamento cheio de copos (e se oferecem de todo), tudo passa e tudo sempre passará desde que existam amigos que treinem cantadas com você, e cães fiéis que não entendem nada do seu choro e que te acolhem mesmo assim, e essa gente que você tem certeza que sempre volta.

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Tudo passa e tudo sempre passará, desde que você saiba e permita que isso aconteça.

Um comentário:

Bruno Quintella disse...

Permissão se dá ou se pede? ;)

"Substituo suicídios por assassinatos por justa causa, e minha defesa ganha tantas nuances a cada vez que relato o fato para alguém que penso em escrever um roteiro".

Aqui você matou o que todo escritor pensa, meu amor...

Adoro te ler!

beijo