domingo, novembro 29, 2009

Carta a R.

Coração,

Prometi que te escreveria essa semana. Eu sei, nunca te contei sobre tal promessa, mas é que ando fazendo anotações mentais e em post-its de coisas que queria dividir. São bobagens. E pequenas. São nada, na verdade, só uma desculpa pra pegar na caneta, preencher o vazio de mais de oito dias sem ocupar qualquer folha do caderno, imaginar que estou mais próxima de você, confessar saudades um pouco idiotas.

Começou essa vontade de te escrever num dia que choveu descompassadamente, e em que eu não carregava guarda-chuva, e me abriguei no Real Gabinete Português de Leitura. Foi o primeiro post-it, espécie de resolução antecipada de ano-novo: entrar, ao menos todos os dias, no Real Gabinete Português de Leitura. Você precisa dessas coisas, às vezes? Tenho uma sensação de que esses improvisos me salvam de morrer todos os dias. Como levar o biquíni dentro da bolsa e passar o dia pensando no mergulho tardio no mar. Como devorar cachorros-quentes em dia de semana na casa da Carol, e cantarolar Fito Paez entre uma dentada e outra. Como encarar o trajeto do Centro a pé e entrar em todas as lojas de discos. Como, na ânsia de me desapegar de tantas coisas, deletar minha conta no twitter.

Como as legendas que você escreve para essas fotos que são tão tuas.

O segundo post-it não é resolução de nada. E nem os outros. São pedaços de nem sei o quê. Autores que me fizeram amar na última semana, pequenas queixas de uma discreta dor no tornozelo direito, indagações esquemáticas e indícios de pânico: até quando conseguirei carregar tantas sacolas? E se o carro sucumbir antes do tempo? Como faz pra se vestir nesse calor? E se sentar alguém esquisito ao meu lado no metrô? E depois que esse ano passar, faço o quê?

Nem planos, nem idéias, nem fugas. Quando 2010 chegar eu ainda vou estar assim, óculos vermelho, cabelo bicolor, ligeiramente bêbada tentando te convencer de que a gente pode fazer alguma coisa diferente, procurando no cd do carro uma música que você goste, arquitetando consolos vãos, evitando tuas mordidas embriagadas.

E procurando esses abrigos, que estão no cheiro de livros acumulados e mofados, na platéia de uma peça de teatro repleta de crianças hipnotizadas por tudo o que acontece no palco, nas tuas mensagens nonsense, que leio no celular ao acordar.

Acho que ando te entendendo tanto que me pego até sem saber como concordar: fica parecendo imitação.

E pensar que já quis te matar mais de uma vez...

Marcelo disse que você fala muito em mim. Acho que eu tenho falado muito em você também. Deve ser porque nos ganhamos de outro jeito esse ano, e porque ficamos sólidos, mais do que a gente poderia adivinhar.

E as saudades um pouco idiotas... Umas incorrigíveis, outras angustiadas, e essa que você já deve imaginar: uma tarde na praia. Mesmo que eu tenha que pagar seu mate.

Topas?

Um beijo,

2 comentários:

Beta disse...

Topo, pq não. :D
Fui à praia da Barra no último final de semana. Nossa.... que diferença. Ventinho no rosto, banco de areia e um pouquinho de espaço.
Você também tem essa saudade?

bruna disse...

Eu poderia desenvolver por horas a frase "improvisos me salvam de morrer todos os dias". Poderia escrever aqui com cantinho do "Faça um comentário" um suspiro, se soubesse a interjeição mais apropriada. Poderia dizer que eu topo a praia porque preciso disso às vezes e porque sinto que também nos ganhamos de outro jeito esse ano. Mas só vou dizer que esse foi um bom ano. Merci:-)