quarta-feira, novembro 18, 2009

They promised us truth

- “A penny for your thoughts”. É a expressão em inglês. Primeira frase de “Miracle”, do Bon Jovi.
- Mas não é tão boa quanto querer ser uma mosquinha no lugar errado.
- De fato não é. Mas a mosquinha, no fim das contas, também não consegue ler os pensamentos dos outros. Não é esse o foco?
- O foco é o quanto as pessoas mudariam a opinião delas sobre nós, se pudessem saber essas coisas, esses pensamentos automáticos sem repreensão ou julgamento. Pensamentos anárquicos. Acho que isso define.
- Sim. Mudariam.
- Quanto?
- Acho que muito.
- Então você diria que está atuando sempre? Que está o tempo todo podando o que vai dizer? Sem dar voz a esses pensamentos anárquicos?
- Hum.
- Desenvolva.
- Estou indecisa: acho que o primeiro pensamento é sempre anárquico. Digo: a primeira reação, de um modo geral. Depois é que vem a ponderação, a análise, os prós e contras. E então o primeiro pensamento já muda. Ou evolui.
- Entendo. Eu me pergunto pra onde será que vão essas coisas que a gente pensa e não diz. E fico curiosa, tentando adivinhar reações, prevendo o que aconteceria se a gente falasse mesmo logo essas primeiras palavras que vem à mente. Pensando que seria bacana dar margem a esses impulsos.
- Não seria um pouco selvagem?
- Talvez. Certamente seria menos Freudiano, no sentido de que seria tudo menos a-na-li-sa-do, menos estudado, menos mentiroso. Eu sinto falta da espontaneidade.
- Sim. Mas eu diria que você é das pessoas mais espontâneas que encontrei.
- Por que?
- Por causa de respostas como "putz, não, ele atrapalha qualquer suruba".
- Mas aí não era anarquia. Era álcool. Será que isso ajuda?-
- Pode ser. Ou um pouco de surrealismo. No sentido literal mesmo.
- Miró, Dalí, Breton? Essa gente?
- É. Era o que eles queriam, não era? Uma arte automática, do inconsciente? Tinham lá seus métodos, uns menos ortodoxos que os outros.
- Sim. Mas será que a gente pode voltar pra nossa gente? Será que a gente pode manter uma linha de pensamento mais Baixo Gávea, por exemplo?
- Claro. Foco. Baixo Gávea, por exemplo (...) Eu seria interditada no Baixo Gávea, por exemplo.
- O Baixo Gávea é um celeiro de pensamentos anarquistas mesmo. Uma média de 3 por cada pessoa que a gente encontra. Muita gente, né? Mas enfim. Você está pensando no que agora?
- Em nada anárquico. E também se fosse, eu não ia revelar.
- Eu acho que revelaria. Se fosse uma anarquia confessável. Ainda mais sabendo que eu não sou reacionária. Às vezes eu confesso essas anarquias mais brandas. Mas o que eu queria mesmo era saber as alheias.
- Mas as alheias de gente aleatória? Ou as dos nosso amigos? Da nossa gente baixo-gavista?
- Da nossa gente. Eu costumo perguntar.
- Elas respondem?
- Elas disfarçam. Minha mãe sempre pergunta no que estou pensando. O facebook também. Há há. Eu tenho vontade de ser sincera. Mas sempre acho que a pergunta é retórica. Ou mais pra preencher silêncio.
- Você pode responder está pensando na morte da bezerra. Ou pode cantar uma música “eu estou pensando em você, pensando em nunca mais te esquecer”. Ou pode dizer que pensa no Haiti. Outro dia eu quase respondi assim.
- É uma boa resposta pra acabar com qualquer conversa, né? A não ser que o interlocutor seja, sei lá, o André Lobato.
- Ééééé... Na verdade foi uma mensagem que chegou: “penso em você”.
- A gente sempre acaba falando de amor, né?
- E tem coisa mais anárquica que isso?

2 comentários:

Bruno Quintella disse...

- Nada mais anárquico do que o amor, é verdade. Então como se instituiria mais um regime sem leis, ou melhor, mais uma lei sem regimes? Ou regras?

- Amornarquia?

Beta disse...

É... a gente sempre acaba falando em Amor.
Amei o texto. Mas hoje vim aqui apenas para dizer o quão nostálgica estou, pensando e lembrando naqueles "Free Jazz".
Vc viu que o Eagle Eye Cherry vem próximo ano aqui. Será que vai ser bom? E Macy, Oh Deus, e Macy?
Bjs