Desde que a portaria do prédio entrou em obras que um sofá passou a habitar a garagem, e portanto, sempre esbarro o carro nele. Eu me sentia bastante idiota até perceber que bater o automóvel no sofá apodrecido servia para algo sensacional: acordar o porteiro da noite.
Eu havia dado um desconto na minha implicância com o porteiro da noite porque fazia um tempo ele vinha me chamando pelo diminutivo do meu nome, e era mesmo fofo. Porém tive de voltar atrás quando, numa noite de céu desabotoado, fiquei ao relento.
Funciona assim: com a portaria em obras só há uma entrada possível, a garagem. E com o porteiro da noite dormindo profundamente na madrugada, só há uma alternativa: possuir um controle eletrônico que abra o portão da garagem. Uma vez que o veículo se encontrava indoors, pronto: não houve interfone que acordasse o porteiro da noite, e quase não haveria remédio suficiente para a gripe de uma noite dormida na calçada não fosse uma breve internação no hospital mais próximo.
Curada a pneumonia, me vi diante do impasse: denunciar o porteiro da noite e execrá-lo em praça pública, ou melhor, em reunião de condomínio, ou conseguir medicamentos pesados e ilegais (quiçá uma máquina de café Nespresso) para manter o homem acordado.
Enquanto não tomo a decisão acertada, confesso, fantasio com uma noite abafada, dessas em que gota alguma se aventura por aqui, dessas em que o calor altera qualquer estado de consciência, dessas em que a pessoa, tomada por um suor que faz grudar a camiseta nas costas, enfia o carro sem pestanejar no sofá e o diagnóstico do seguro é taxativo: perda total.
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