(da série "coisas que ajudam a viver", ano 2009)
As coisas inusitadas que aparecem eventualmente numa mesa do Baixo Gávea, e que variam desde um bolo de chocolate ainda no tabuleiro até clémentines deliciosas vindas diretamente de Paris. Quarteirão com queijo especial. Todos os brigadeiros de muitos milhões de reais que podem ser devorados ao lado da Pizzaria Guanabara. A ansiedade de buscar o negativo revelado na loja de fotos, e poder conversar com o vendedor sobre os filmes, mesmo que você não tenha o mais vago conhecimento sobre o assunto. O Jobi e o Diagonal, dois bares para os quais nunca se deve dizer não.
O Grupo Corpo, mesmo quando não é incrível, mesmo quando é longe pacas, mesmo quando não acontece tanta mágica. Bruno Cesário e Joaquim Tomé quando dançam juntos de preto. O Tony, quando gargalha dando aula e me diz para atacar mais. O Toni com "i", quando me pega no colo. O celular quando apita mensagens contendo a palavra “tigresa”.
Todos os livros que eu posso ler, mesmo os ruins, mesmo os que não permanecem, mas especialmente os que me dão vontade de querer alguma coisa. Os quadrinhos de Peanuts, e poder envia-los por email. Os emails de madrugada que nos servem de confessionário para vergonhas escondidas. As conversas salvas de msn que posso colar no caderno como lembrança. Belle and Sebastian, sushi e sashimi. Uma credencial que guarda as emoções de um desfile de inverno, o livro de Ronaldo Fraga na estante. Assistir a um pedacinho do José Luis Peixoto na TV, sem querer. Passar o dia na piscina a devorar torradinhas com pasta e saber que isso é felicidade quando os amigos estão juntos.
Dar asas à insegurança no Tok & Stok. Ou na Zara. Ou no Hortifruti. Ou no Zona Sul. O almoço do dia primeiro de janeiro, sempre. Os dias em Angra que chegam por acaso, e as marolas da lancha parada em frente à praia. As noites de conversas infinitas adoçadas por biscoitos de avó num cafofo. O carpaccio do Gula Gula. As livrarias e os cafés dentro delas, e essas coisas bobas que viram elos: lanches, poesia, chocolate quente com creme.
A Casa da Matriz. O karaokê indie, mesmo quando não se consegue cantar Smiths no palco. Smiths, a banda que sempre salva a minha vida. O John Lennon quando canta. “While my guitar gently weeps” a todo volume no percurso Ipanema-Leblon de madrugada. Entender que “boboca” combina muito com “eu te adoro”, ou vice-versa. Ilhas gregas, com ou sem queijo feta. Um apartamento especial cheio de post-its na Rue de Rennes. O Calder no Pompidou. “A Última Ceia” em Milão. Os jardins repletos de risinhos infantis e gente a desenhar. As lingeries da La Perla. Os croissants da França, que são melhores que qualquer outro alimento do mundo. A alegria de avistar uma placa onde se lê “Underground”. Veneza quando chove.
Flertes via mensagem de celular. Ouvir Karma Police na Apoteose cheia e emocionada em frente ao Radiohead (for a minute there I lost myself, I lost myself). Acordar no dia seguinte do show do Radiohead e descobrir que a coluna não dói mais. Adorar a praticidade de enviar pro oftalmologista por email uma foto do olho cheio de gosma de manhã. Adorar a praticidade de desligar o telefone às vezes. Ir à praia com o ipod, e entender que ele serve pra essas coisas. O cachorro quando eu chego em casa, e quando ele brinca tão alegre que nem me importam as almofadas que vão caindo pelo chão. O cachorro quando eu estou triste, porque ele nunca piora as coisas. O cachorro quando eu estou feliz, porque ele sabe.
Um amigo que me deixa chorar, seja na mesa cheia de waffles ou no carro com abraço e colo.
Amigos que dançam quadrilha na sala do apartamento de um deles, amigos que dançam dentro de uma piscina esvaziada, amigos que não deixam a festa acabar (mesmo que para isso seja preciso ir a uma praia distante no frio), amigos que hipotetizam sobre ménage-à-trois.
O Ney Matogrosso no palco. As homenagens ao Michael Jackson. A Pina Bausch no filme do Almodóvar. As tardes na praia com vergonha da câmera apontada pra mim. Acreditar em horóscopo numa manhã de domingo. Inventar a pior cantada do mundo e ver que mesmo assim ela funciona.
Cazuza.
Aquela cama enorme cheia de travesseiros. Lecuona. As linhas 12, 13 e 14 da página 31 de “Cemitério de Pianos”. “O Estrangeiro” na língua original. Beijo no (meu) pescoço, mesmo quando acidental. As gravuras restauradas na parede. Dormir 12 horas seguidas, e sopa no inverno. Dramin, às vezes. Woody Allen esparramada num colchão pra 3 nos Jardins. Peças infantis com toda a criançada encantada na platéia. O Rei sob dilúvio. #41, do Dave Mathews Band. Vinícius de Moraes. Furtar catálogos de exposições em SP. Bolinhas-de-queijo. A lotação da praia e as piadas decorrentes, e quando a prima guardava lugar pra gente que chegava depois. Miss You, do Rolling Stones. A carta do Carlos. A carta da Bruna. A irmã no quarto ao lado. E, por que não, até mesmo o Zoológico. Fernanda Montenegro quando é Simone de Beauvoir. Sangria. The Rain Song, do Led Zeppelin. Cachorro quente feito pela Carol. E, confesso, Kid Abelha em dias nublados.
Palavras que começam com “des” – desamparo, descaminho, desmesura, desalento. Tudo o que vem depois que imito Marina Lima. Sessão da tarde, mesmo fora de época. Bombons. Yogoberry com manga. Grampos de cabelo, Grey’s Anatomy e a Lindomar quando me chama de “minha menininha”. A charutaria na Rua Senhor dos Passos. O Real Gabinete Português de Leitura e os sebos ali perto. Babilaques.
Sophia de Mello Breyner Andresen. Noites em que o melhor momento é quando o A-Ha canta Crying in the rain numa rádio duvidosa do carro e isso não significa que tudo foi ruim. Saber cantar Crying in the rain ainda de cór. Mergulho na praia da Reserva, onde ainda há conchinhas, depois de sessão de massagem com a Ana. Massagem da Ana. Ficar indie aos domingos. Colírios e uma gripe pra parar um pouco. O Bolero de Ravel. Tin tin e Capitão Haddock. E Milou, é claro. Saber a hora de sair. Começar tudo de novo. Acreditar quando a Globo canta que hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser. Levar sustos com presépios. Aprender a respirar.
Escrever um blog!
11 comentários:
êêêê o blog vive e está mais saudável do nunca! 2010 vai ser bom.
"Éramos duas pessoas. Tudo em nós era igual. Se a língua que aprendêramos em crianças era diferente, esse era um detalhe muito pequeno, porque partilhávamos o mundo e o significado das palavras. E, no entanto, as palavras que eu dissera, que eu escrevera, eram diferentes das palavras que ela entendera, longe, num país distante, porque éramos duas pessoas. E as pessoas são diferentes. Mas partilham o mundo, o significado das palavras. E essa partilha tem exatamente a mesma importância para todos o que vivem e são felizes e são tristes"
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"Assistir a um pedacinho do José Luis Peixoto na TV, sem querer."
Madrugada de sábado. Mudava de canal durante mais um plantão solitário, mas não por isso triste, e tive tempo ainda de recortar com a caneta as palavras esvoaçadas pelo Edson Celulari (?!)de um trecho dum livro - do Peixoto obviamente - que ainda não li. Não lembro o nome. Mas nem seria preciso. Você deve conhecer, claro. Mas acho que tem a ver com o seu blogue - e as pessoas que te lêem. Porque o seu blogue é um pouco meu também. Deve ser por isso que dizem que o leitor é o autor do autor.
Saudades,
Bruno
e ainda faltou tanta coisa, Carol, umas das quais eu mesma censurei, vai saber o que as pessoas podem pensar...
"Uma Casa na Escuridão" é o nome do livro que o Edson Celulari leu, embora eu também não entenda muito bem porque o Edson Celulari!
Deixa esse título pra depois da Peste e do Cemitério. Aliás, tem outros ainda que podem vir antes desse.
Mataremos saudades em breve!
Entendo completamente.
Prazeres anárquicos, assim como os pensamentos, né?
também ajuda a viver o convite para ir ao Sawasdee depois de um mês de Vietnã e amar a comida e sobretudo a chance de rever as amigas!
faz viver e faz chorar ver o bilhete de despedida colado no espelho do banheiro.
Nossaaa, fiquei emocionada em ser citada ! Macacos me mordam...
E eu mto feliz em ver que em 2009 eu participei de mto mais coisa que em 2008. Que siga assim em 2010. Love you.
O gari aproveitar e lavar o carro numa madrugada do Leblon.
lingerie La Perla?????
ta de saca,ne?
porra twin.
...mas amei o resto!
amo ter vcs por perto: os cafés são melhores, as livrarias são melhores, o bg é melhor, o baixo leblon é melhor, a praia é melhor, as noites dançantes ( mesmo que tenham ficado cada vez mais raras devido a idade, rsrs) são melhores.
o rio é melhor por todos esses momentos e muitos outros!
e vc escreve lindamente.
um dia vou crescer e ser igual minha twin.
Hoje,12/31 li sua cronica e,ja com a saudades que sinto da flia ainda mais sabendo,que todos estao na casa da Claudinha p/, esse almoco tao delicioso,sinto uma solidao tao grande e profunda, que tenho medo de ficar dentro dela mas, ai lembro que lerei mais coisas lindas escritas por vc e, e o suficiente p/ voltar a sorrir.Te amo Juju.bjs Vera
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