Brotam flores das cabeças nesse domingo, estamos no Parque sob uma árvore, tomando notas mentais, alheios às milhares de lagartas que nos olham por entre os galhos e folhas, possivelmente atropelando formigas. Tudo derrete lá fora, desde o sol até as solas emborrachadas dos nossos sapatos de verão, as saias rodadas das moças e as vozes encolhidas nas sombras. Dedos no botão de disparo, frames ensaiados antes de começar um balé. Ainda existe centopéia? Onde? Alguns vaga-lumes dançam à noite na minha sala, para espanto do cão e de todas as crianças que ainda vão chegar. As pessoas aguardam num círculo, um homem de meia-idade parece dormir recostado num tronco, uma toalha cretinamente xadrez cobre parte do chão, provavelmente atropelando formigas também. Não tem sorvete nem rosa nem roda-gigante nem faca. Em vez de amor, cobiçamos alguns doces e espumas cor de champanhe. Tudo parece tão surreal que se a era de aquário despencar sobre nossas cabeças talvez a gente entenda e aprecie toda a performance que se desenrola diante de nossos olhos. Agora além de flores brotam espessas gotas de suor de nossas têmporas, jorra água do chafariz e percebemos como o verão é cruel em nos fazer sair mais cedo. É mais fácil gostar das coisas no inverno. Saímos do Parque sem conseguir enxugar da testa toda a incompreensão, com a triste lembrança de que em vez de voar ou nos enfeitiçar com seus passos de dança, a bailarina, coitada, desabou no chão.
Um comentário:
Já estava com saudade do blog! Ainda bem que hoje achei três textos que ainda não tinha lido, pois, se quer saber, hoje estou num humor de cão, fundamental me desligar um pouquinho!
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