quarta-feira, julho 13, 2011

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“Sempre gostei de ter medo”, disse valter hugo mãe bem no começo de uma noite que todo mundo merecia ter de vez em quando.

Há anos tenho uma queda literária por tudo o que vem de Portugal, e a paixão se estende a Angola e Moçambique. Gosto de tudo dessa língua parecida com a nossa, mas tão diferente no trato. Gosto, sobretudo, do uso do imperfeito. Gostava falar como eles, ter a mesma cadência e a nítida impressão de que prosa e poesia podem se confundir.

Gostava também que todo mundo tivesse, de vez em quando, uma noite tão gentil como a que acabei de ter, e que ainda vou saborear. Meus melhores momentos de valter hugo mãe são os que seguem.

Ele contava como foi quando o filho de Clarice Lispector lhe pediu que autografasse um livro: “Alguém nascer de Clarice Lispector é quase um desrespeito à raça humana que não pode nascer de Clarice. Ia ser maravilhoso se pudéssemos ter várias mães.”

Sobre livros e o fazer artístico, ele aponta a insatisfação como força motriz e norte, e sem ela um escritor deixa de escrever, um pintor deixa de pintar: “Nenhum livro até agora foi capaz de me calar. Nenhum livro foi suficiente.”

“Maridos há poucos, mulheres há muitas.”

Sobre personagens, gosta de livros sobre “pessoas que efetivamente poderiam ser encontradas.” Diz também que ao escrever momentos decisivos ou de grande impacto sobre o personagem, se vê compelido a telefonar para amigos para dizer o quanto os ama, e que chega a sentir inveja dos personagens.

“Nós adultos temos todas as idades dentro de nós.”

Defende a ideia de que deveríamos lidar apenas com pessoas agradáveis, e que deveria haver um esquema de substituição dos que não nos satisfazem.

“Achava os prosadores seres cheios de demasia”, enquanto que a poesia sempre lhe pareceu essencial. Falando sobre sua pontuação e sobre a escolha de escrever somente com letras minúsculas, destacou a vontade de dar velocidade ao livro. “A poesia não perde tempo”, afirmou. Enquanto a prosa se vale de aspas, travessões e reticências, a poesia se livrou de tudo o que parece supérfluo. Não pensamos com todos esses sinais ortográficos, e sua escrita quer se aproximar do fluxo do pensamento e da oralidade. Execrou o uso de reticências, que para ele são uma tentativa de conferir profundidade a uma frase ou pensamento. Se a frase ou pensamento não forem profundos, as reticências não ajudarão. E se as reticências são formas de interrupção, então que um ponto só seja o final.

“Os meus livros vem do que eu quero saber.”

“Dizia as coisas para ter coisas, dizia palácios para ter palácios.”

Pirilampo é a minha palavra favorita.”

A minha é libélula


2 comentários:

Bruno Quintella disse...

Que delícia de noite, babe. Adorei suas observações sobre as dele, certamente um escritor genial. E foi sensacional o que ele disse sobre Clarice. É bem aquilo mesmo.
Um beijo

Julieta disse...

eu não li nada dele pra afirmar que é um escritor genial. Mas que o carisma é potente, isso sim!