— Parece que Black Keys é uma banda famosa —, eu
disse a ela sem entender como é que pode uma festa não tocar Caetano Veloso. A
gente não dançou nem uma vez aquela noite. Nenhuma. Cheguei em casa e os
sapatos nem me apertavam. Fiquei a metade da festa descalça, porque sentada.
Ela ficou a metade do tempo bêbada e eu passei metade do domingo de ressaca,
com aquela cara de síndrome do intestino irritável, e quando acordei segunda eu estava dois quilos a menos. — Também
não tocou Michael Jackson —, ela piorou, e eu, que tinha uma leve
recordação de Thriller, fiz minha
coreografia de ombros, mãos e braços no banco de trás do taxi que nos levou até
a Gávea. — Não sei o que acontece, não conheço nenhuma música de agora —,
confessei. O dia ameaçava, a gente ouvia Marcelo Camelo na sala e concluía que,
apesar da beleza, faltava borogodó. — Te-são — , ela diria, mas já não estava conosco
para debater, separados por túneis e um taxista duvidoso. — Já te contei que o
conheço desde 1985? —, perguntei, numa noite cortada por travessões, delírios,
devires, vírgulas que nunca estão onde deveriam.
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