O
curioso, no entanto, é que esta soma infinita do que não fará continue sendo
aplicada a ele, como uma sentença. Quem morre não tem perdoada a vida que
deixou de ter. Não fica isento do aquém, do dia-a-dia que ainda nos domina,
descansando num respeito solene dentro do túmulo. Não, nós o prendemos em nossa
culpa e em nosso amor, procurando lembrá-lo (mas quem é ele agora?) de cada
gesto que não fez, de cada entardecer que não viu. O morto torna-se aos poucos
um devedor, e quanto mais tempo passa, maior a vida que nos deve (porque
morreu). Sei que não há como lembrá-lo disso, mas não importa – sua surdez é apenas
mais uma de suas dívidas: Hoje você não ouviu minhas queixas. Assim, se houver
um Além, somos nós que assombramos os que passaram, enchendo sua eternidade de cobranças
e lamentos.
Nuno
Ramos, Ó.
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