Eu também quis expor o meu buraco como um zero flutuante entre dois ventiladores ligados diante da plateia silenciosa, estupefata ou apenas indiferente. Eu também fingi ter visto Halley atravessar o céu, eu também usei frases dos meus livros prediletos como se fossem minhas. Eu também tive pesadelos com um país de sincronias infernais em que todos os sapatos faziam o mesmo estalo ao tocarem o chão. Eu também nunca acreditei na existência de um sexto sentido e imaginei que o mundo terminaria no auge como uma frase de Flaubert. Eu também sonhei que guiava minha próproa ambulância. Eu também, como num filme de Lynch, nunca vejo o rosto de quem me persegue. Eu também como num filme de Lynch não sei aonde estou indo. Eu também como num filme de Lynch vejo coelhos nas tarefas mais domésticas.
Coelhos e louça suja por toda parte.
(...)
Tanta coisa pode surgir das elucubrações de um jovem solitário em algum lugar isolado. O mais difícil é viver a vida no atacado e no varejo e saber que tudo não passa de falta de sincronia, ovulação e violência consentida.
Laura Erber, Os esquilos de Pavlov.
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