No fim da prática (e não aula), sentados na mesma posição do
início, o professor faz as devidas considerações, pronuncia algo que eu nunca
entendo e todo mundo se inclina pra frente e fica ali com a cabeça sobre as
mãos em prece por um tempo indeterminado enquanto eu só penso “mas o que diabos”.
Eu poderia perguntar – e eventualmente aderir – mas têm esses mundos nos quais
eu permanecerei para sempre como mera observadora. A constatação começa antes,
quando misturo meus lindos sapatos aos tênis e chinelos (enfeitados com
miçangas) que ficam na porta do Studio de Yoga onde vim dar. É incrível que tanta coisa evolua, exceto a estética hippie.
Se eu fui fazer natação a primeira vez por causa de um
número da piauí, é natural que eu tenha ido parar na yoga outra vez depois de editar um
livro (mais ou menos) sobre, o que me faz temer o meu futuro pós pós-graduação.
De certa forma, a yoga é o mais próximo que tenho conseguido
de todas as teorias sobre o corpo que tenho lido. Ali o professor te incentiva
a “encontrar seu corpo confortável”, a conhecer seus limites e se deixar
transportar pelo fluxo da sua respiração. Seria lindo não fosse um tédio. Pior:
cafona. Não tem corpo sem órgãos que se constitua, e o único devir que eu
experimento é o da dor. No fundo a yoga é um misto de RPG (as in
Reeducação postural global, não o jogo) com autoajuda. É um “deixe seus
problemas lá fora” seguido de um “aproveite este momento que você escolheu para
dedicar-se a si mesmo”.
O fato é que eu sou muito influenciável, e que a minha
permanência na yoga se deve muito mais a coisas aparentemente sem importância,
mas que se grudam em mim de forma irremediável.
Por exemplo: eu comentava com a minha avó as agruras da
prática e do discurso, e ela me contou que o professor Hermógenes, um mito da
yoga carioca, foi cadete do meu avô no exército. O meu avô fazia os maiores
elogios ao professor Hermógenes, e por mais que não tenha lógica alguma, lá fui
eu, renovar o plano mensal e me comprometer com os mantras até dezembro. Eu não
conheci o meu avô, mas a essa altura já deu pra entender a minha linha de
raciocínio. Acho.
É como quando encontro T. nos lugares e momentos mais
improváveis: na bienal do livro, num cruzamento no Leblon, e a gente recebe
esses acontecimentos como um plano celestial maior e que de repente se revela
tão óbvio. Sempre me perguntam por você, a gente diz. Ele segue na moto, eu
desenrolo o tapetinho verde e de repente me dá uma cãimbra daquelas que só pode
ser praga de alguém. Mas penso na minha avó, no meu avô, naquela hérnia de disco de seis anos atrás, e lá no fundo da minha cabeça
aquela música do Lulu Santos fica se repetindo: “Eu ando tentando ver o lado
zen / o que é que nos ensinam nossos mesmos velhos males”. Gostar de música
pop, nessas horas, é uma merda.
Essa noite, na sala de espera, todo mundo tem mil palpites
sobre a energia, e tem uma líder que se encarrega de fechar as portas que dão
acesso à sala da prática, pra preservar aquele ambiente dos maus fluidos. Se
energia tem a ver com alergia, então tô nessa também, mas desconfio de que, tal
qual aquele trecho de uma música dos Strokes (“In spaceships they won’t
understand / And me I ain’t ever gonna understand”) esse seja outro papo sobre
o qual eu não entendo patavinas.
Um comentário:
Ju, acho que você precisa mudar de escola! Ou de tipo de aula! Correndo!
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