quarta-feira, abril 16, 2014

Três

No es para quedarnos en casa que hacemos una casa
no es para quedarnos en el amor que amamos
y no morimos para morir
tenemos sed y
paciencias de animal

Juan Gelman


Sobre fundo branco um quadrado vermelho e a inscrição “sim” em preto logo acima: o quadro da Mira Schendel era uma tatuagem no braço direito de alguém com nome composto. Num outro braço direito, versos de um poema em tipografia com serifa - daqueles que você lê e relê e não entende como é possível.

Nas costas da Ana os sinais de pontuação de um texto que não se lê. E dela, também: as linhas que traçam o contorno das cidades vistas de longe, de fora, de um outro lugar, de um ângulo que a gente mal sabe, de bem depois da arrebentação, desse ponto aonde só se chega de barco, sem peso – “agoniômetro”, ela escreve sobre uma imagem, a borda do outro lado, bater e voltar sem se afogar no meio.

Para mim não são só pautas num caderno ou linhas que se desenham – nas paredes, em telas de silk, em azulejos, em papéis emoldurados lançados em canoas – e tampouco apenas códigos de escrita ou tintas perfurando peles, mas ecocardiogramas, pulso. Vida - que de repente, numa terça-feira de esperas e de afogar pisantes. 


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