Talvez eu
tenha um fraco por varandas, e certamente isso tem a ver com o fato de ter tido
uma, aliás, 3, por tantos anos: ver o céu, saber o dia, acertar a roupa, secar
toalhas e cães ao sol, correr de chinelo pra chuva e fingir que aquele pedaço
aberto era a casa de campo pelo tempo que durasse uma tempestade de verão. A
sua tem essa vista a tiracolo e em instantes posso imaginar toda a vida que eu
teria se viesse parar aqui nas redondezas e não no meio do mato onde fui
encontrar. Consigo imaginar todos os cafés que tomaríamos e que seriam
reprovados no meu crivo, consigo ver os domingos na praia – você virada pra um
lado lendo um livro, eu com os pés meio enfiados na areia lendo um outro –
e outras tardes em que eu teria que me
conformar em levantar da sua rede, caminhar até em casa e prender na parede
mais uma página ou frase preferida de um texto preferido.
Ontem
pensei demais em você: encontrei A. na livraria e ela me perguntou tantas
coisas que quando me dei conta estava contando pra ela da solidão que senti
quando escrevia aquelas 30 páginas sobre Pina. Contei a ela de como eu tinha
uma pilha de perguntas que só crescia, de como comecei a achar maluca essa
paixão que também só aumentava e que era só minha, de como de repente não fazia
sentido desembaralhar palavras para falar de um assunto que ninguém queria
saber, de desejos que ninguém devia sentir, de corpos que ninguém iria dançar.
A. me olhava com aquele riso meio de lado e seu sotaque gaúcho: é isso mesmo,
não tem mais volta, ela disse, entendendo – muito antes de mim – onde é
que esses caminhos vão dar.
Entrei
num taxi com as palavras de A. na cabeça, uma vontade de te perguntar se você
também acha irreversível, uma saudade das suas gírias e a sensação de que
amanhã terei que ficar longe de varandas e qualquer outra possibilidade de
brisa ou vento, afinal é outono e eu estou feliz demais para me gripar justo
agora.
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