Depois de Tudo:
a cada homem a amargura final dará uma
piscadela.
Como no cinematógrafo – a mão na testa, o
rosto virado
para trás –, o corpo tireóide, ascendente e descendente,
será um
índice no mar solitário da lembrança.
Pablo Palacio
Fiquei derrubada 3 dias e até
hoje as pessoas que me encontram dizem “você está com uma carinha...”, e ao
ouvir as reticências, completo logo: de outono. Estou com uma carinha de
outono. É essa combinação de alergia e de tudo que cai: os vasos de hortelã que
estavam frondosos amanhecem no chão, as flores que estavam próximas da janela
acordam sem pétalas e até as epígrafes têm sido meio trágicas aqui e ali. Fico
submersa no meu edredom: leio um texto maravilhoso em que Alan Pauls discorre
sobre sovacos (não tá fácil para as axilas, ele diz), converso com B. sobre as
polêmicas do dia (dos embates literários às celebridades), pesquiso sobre
geladeiras, fogões, máquinas de lavar. Não tenho nenhuma vontade de escolher
panelas.
Tenho, sim, vontade de fazer
mesmo uma festa de arromba para inaugurar a casa, mas é só pisar ali e ser
tomada pelo silêncio, pela pacatez das coisas (“pacatez” existe?), pelo clima
bucólico e parece que aquele canto é uma rota de fuga, um desses espaços que
ficam sob as cobertas e onde se escondem marcadores de livros, canetas, vitaminas
efervescentes, fones de ouvido e melodias de Satie: coisas que todo mundo sabe
mas que eu quero que sejam só minhas, pelo menos durante um tempo: deixar tudo
quieto e entender como é que se conquista um território. E só então: encher a casa de luzes coloridas, e depois, quem sabe, convidar alguém para dividir a cama comigo.
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