segunda-feira, junho 04, 2007

o desabotoado céu - vol. 2

Os elásticos de cabelo continuam sumindo. Os grampos, ao contrário, não param de dar cria, não sei o que acontece, só sei que eles estão por toda parte: na mesinha, na escrivaninha, na pia do banheiro, na gaveta do banheiro, na gaveta do escritório, no carro, no bolso da mochila, nas bolsas, nos bolsos de calças e casacos e desconfio que eles sejam fruto de geração espontânea, escaparam à evolução darwinista. Desconfio também dos sábados. De uns tempos pra cá os sábados viraram uma ameaça constante aos meus sapatos e agora só saio de casa com galochas, o que exclui qualquer possibilidade de ficar elegante na estação do ano mais propícia para isso. É triste porque usando galochas as chances de conhecer alguém legal caem pela metade e juntando o fato de que na fila pra vacina de rubéola as chances de conhecer alguém legal caem pela mesma proporção então pronto, está feita a matemática: mais um sábado chuvoso e encalhado, ainda por cima de galochas (de onde veio, aliás, a expressão “chata de galochas”?). Depois de passar quase uma hora na fila do posto de saúde lendo um livro chatérrimo (é o segundo livro chatérrimo que leio de maio pra cá, talvez porque depois de Camus seja impossível que algo seja bom de novo) eu achei melhor entender logo o recado e procurar ajuda num lugar seguro, antes de dar chance pra que os sábados virassem uma novela tão chata quanto a das oito (que me causou arrepios no sábado anterior) onde eu teria muita quantidade (de chuva e grampos de cabelo) e pouca qualidade (galochas de plástico não são exatamente scarpins do Manolo Blahnik). E então veio o lugar seguro e mudou o rumo da prosa, eu voltei pra casa onde podia me livrar das galochas e do livro chato e ainda prender os cabelos com grampos, o que na verdade eu posso fazer em todo e qualquer lugar. E eu ainda tinha Buñuel e um telefone que com alguma sorte poderia não tocar naquela noite onde o que mais queria era ficar em casa no sofá porque a essa altura a minha maior felicidade era ter um pijama de flanela e meias quentinhas. E só porque era sábado e esse dia da semana tem sido sacana comigo o telefone tocou e depois de hesitar eu resolvi dar uma chance. Com muita dificuldade eu saí do pijama e quando voltei pra ele já era domingo, eu tinha falado, cochilado, rido e bebido bastante com a minha versão tupiniquim de Jules et Jim (salvo restrições), além de ter roubado filmes da videoteca de Jules (ou Jim?). E também ouvido Jim (ou Jules?) cantar bêbado no caminho de volta, numa língua que deve ter sido inspirada no francês. Acordei certa de que a maldição dos sábados havia passado e com certo receio de que o domingo traria a vingança. Me armei como pude: galochas, grampos e um chocolate quente com creme em companhia de uma amiga para quem eu não conseguiria achar personagem equivalente. E não me interessava mais conhecer alguém legal no domingo, ou eu não me iludia mais achando que isso seria possível com o tipo de calçado que eu usava. O domingo acabou bem, com a única esquisitice d’eu ter saído da livraria sem qualquer aquisição. Foi quando cheguei em casa e comecei a arrumar a mochila do dia seguinte, coisas de trabalho e grampos de cabelo que fazem as vezes de clipes que me dei conta, tolamente eu tinha esquecido: marquei aula de natação na segunda-feira. Galocha pouca é bobagem...

8 comentários:

Anônimo disse...

Huumm...creme fresquinho por sinal, salvou o meu domingo.
Chata de galochas é realmente uma expressão interessante. Como "onde Judas perdeu as botas", seriam as botas de Judas, galochas?

Anônimo disse...

jules, eu acho galochas um charme!!!!

Anônimo disse...

e eu não sou chata, sou a legal das galochas!!!

Anônimo disse...

e em breve seus sábados serão mais divertidos pq eu estou chegando!!!

Velma Kelly disse...

ah jules, atualizei o blog!!!
nossa com todos esses comentários agora eu estou mais para chata de galochas mesmo!!!!
bye

Anônimo disse...

vai no los hermanos?
segunda tem lançamento do gerchman lá na livraria.

só agora percebi que eu sempre te faço perguntas aqui e vc não tem onde responder.

bruna disse...

ei, no domingo almoçou comigo! e falamos sobre sumô.

Julieta disse...

e tivemos uma idéia genial também Bruna (mais uma!) que não conto pra não plagiarem (aquela do taxi!)!!!