domingo, agosto 24, 2008

Almoço de domingo

Amontoados na varanda estreita, percebemos que há algo errado com as coberturas do prédio ao lado: as escadas que ligam o primeiro piso à varanda descampada não têm qualquer tipo de proteção, de forma que, em caso de chuva, o primeiro andar deve ficar alagado. Há também uma varanda bastante esquisita com piso vazado, ou será que ali devem ficar os motores de ar-condicionado?

Esquisito também é o terceiro andar de um outro edifício onde se vê, além de um adesivo com número de político no vidro, uma árvore de natal que, não sabemos, ainda ou está montada? Alguém arrisca um palpite de que o dono do apartamento está morto desde dezembro ou que então alguém faleceu no dia de Noel e a árvore virou uma espécie de quarto do defunto em que ninguém consegue entrar. Os outros palpites provocam risada.

Uma prima nos presenteia com fotos que ela tirou num almoço ocorrido semanas antes. A mais importante é a que reúne todos os primos, uns esmagados, uns por cima dos outros, e que é uma tradição antiga dos tempos em que se conseguia enquadrar todo mundo junto numa 10 X 15. Não só ficamos grandes, mas ficamos muitos também. Uns tiveram filhos, outros casaram e de repente viramos um grupo de primos que precisa de uma panorâmica para nos capturar.

Não por acaso, nos espalhamos por sofás, poltronas, braços de cadeiras e chão e eventualmente nos enfurnamos no quarto de alguém e fazemos interrogatórios uns aos outros enquanto uma das primas loiras chama o pai, carinhosamente, de Obeso. Descobrimos que a tartaruga da irmã, a quem ela chama Stupid, come prancha de surfe e fios elétricos. Alguém sugere que ela está com verme, alguém sugere que ela seja alimentada adequadamente, alguém sugere que ela vá ao Lâmina fazer exame de sangue. Lembramos de quando um dos primos, que agora é ex-veterinário, cuidou de um passarinho que, desgovernado, entrara janela adentro. A ave não durou muito e até hoje especulamos o quanto a morte do bichinho influenciou sua decisão de mudar de carreira.

Um outro primo que ficou tão grande que escondia papéis de bombons no alto das portas (“sabe quando você vai comendo bombons pelo corredor e coloca os papéis na quinas do alto das portas?”) diz aos pais que a lei seca acabou, e eles acreditam. É o mesmo primo que dá um susto em todo mundo quando aparece fugindo de tiro no noticiário e também o escolhido para ficar na fila do ingresso do show da Madonna, afinal estagiário deve cumprir esse tipo de tarefa.

Cantamos “Parabéns pra você” e “Com quem será?” no almoço de noivado e fazemos maracutaia no amigo-oculto de fim de ano.

Achamos graça quando o primo atrasado consegue ser o último a chegar no almoço que acontece em sua própria casa. Fazemos piada com o primo que já é pai de três porque achamos que ele já pertence à categoria tio. Caímos na pele da tia que resolveu fazer aula de teatro e não economizamos gargalhadas quando ela nos convida para sua apresentação de fim de ano.

Mas engraçado mesmo é quando, num momento de (milagroso) silêncio, escutamos a prima mais velha dizer à mais nova que, por ano, morrem mais pessoas de ataque de hipopótamos que de leão. Nos entreolhamos assustados, imaginamos que exista um contexto para a frase mas pensando bem, em se tratando de nós, nem precisaria. Sabe quando você tem uma família grande e hilária que parece nonsense?...





obs. O Meu paletó virou estopa ressuscitou por tempo indeterminado.

4 comentários:

bruna disse...

lindo, Jequiti! ("nunca perde essa mania"...)

Leticia Wahmann disse...

ai, que familia divertida !!!!

Aninha disse...

sabe quando vc cha q conhece essas histórias !?
Vamos arrumar um apelido desses carinhosos p/ vc tb ...
bjssss

Anônimo disse...

ah... que marrravilha ,estou as garrrgalhadas e emocionada de ter essa familia.Os rrr são por conta do meu treinamento para o meu novo trabalho .Ana